Ambipar (AMBP3) entra com pedido de recuperação judicial e crise se estende

A Ambipar (AMBP3) anunciou no fim da noite desta segunda-feira (20) que entrou com o pedido de recuperação judicial na 3ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro. Esse passo da empresa já era esperado pelo mercado e considerado inevitável após a Ambipar em queda livre de confiança em setembro após descobertas de indícios de irregularidades em operações financeiras.
Caso o pedido de RJ seja aceito, a companhia consegue evitar a cobrança de dívidas e ganha tempo para organizar um plano de pagamento. No fim de setembro, a Ambipar já havia conseguido na Justiça medida cautelar que suspendeu execuções e cobranças por 30 dias, prorrogáveis por mais 30.
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“O Pedido de Recuperação Judicial foi ajuizado em razão da sequência de eventos deflagrada após a descoberta de indícios de irregularidades na contratação de operações de swap pela Diretoria Financeira e a renúncia abrupta do antigo Diretor Financeiro, que resultou em forte abalo na confiança do mercado em relação ao Grupo Ambipar e culminou em pedidos de antecipação de vencimento de dívidas por parte de alguns credores, criando risco concreto de vencimento cruzado de outras obrigações do Grupo”, afirmou a empresa em comunicado ao mercado.
De acordo com a empresa, a “tutela cautelar e posterior pedido de recuperação judicial foram apresentados para garantir a preservação das atividades empresariais do Grupo Ambipar, permitindo a continuidade de suas operações e a manutenção dos empregos, contratos e serviços prestados”. A companhia afirma que suas operações seguem normalmente.
No comunicado ao mercado, o Grupo Ambipar afirma que empresa a Ambipar Emergency Response, que tem sede nas Ilhas Cayman e atua em crises ambientais, também entrou com pedido de recuperação pelo Chapter 11 na justiça dos Estados Unidos.
O início do caos
No dia 22 de setembro, os bonds da Ambipar com vencimento em 2031 desabaram no mercado internacional pouco antes da empresa ter anunciado a sua sétima emissão de debêntures, no valor de R$ 3 bilhões.
Do outro lado do balcão, o Deutsche Bank, um dos credores da Ambipar, não assistiu a tudo isso parado. A instituição exigiu um aditivo de US$ 35 milhões, provocando um efeito em cadeia que poderia acelerar obrigações financeiras em até R$ 10 bilhões.
Segundo a revista Veja, o contrato com o banco alemão previa a cobrança do aditivo em caso de desvalorização dos bonds no mercado internacional.
Sem alternativas, a Ambipar recorreu à proteção judicial em setembro, alegando que o banco exigia garantias muito além dos termos contratuais. A ação da empresa gerou dúvidas no mercado com medidas contraditórias.
Ao mesmo tempo que reportou uma dívida de R$ 616 milhões, segundo a agência S&P Global, a companhia registrou uma posição de caixa de R$ 4,7 bilhões no fim do segundo trimestre, o que deveria ser mais que suficiente para cobrir as dívidas.
Crise foi prevista
A crise da já vinha sendo pressentida meses antes — ao menos pelos modelos da Moody’s Analytics. Segundo a empresa de análise de risco, os sinais de deterioração começaram a aparecer ainda no fim de 2024, muito antes da turbulência chegar às manchetes.
De acordo com Tadeu Marcon Teles, diretor da Moody’s Analytics, o modelo da companhia já indicava “mudanças notáveis no perfil de risco” da Ambipar desde dezembro do ano passado.
Entre 19 de dezembro de 2024 e 8 de setembro de 2025, o nível de risco da empresa aumentou mais de oito vezes, um salto que chamou a atenção dos analistas.
“Os alertas começaram a aparecer em janeiro de 2025, quando o risco já havia triplicado em relação ao mês anterior”, disse Teles, em nota à imprensa. “O crescimento foi gradual, mas constante”.
Os modelos da Moody’s Analytics funcionam de maneira preditiva. Eles têm como objetivo detectar movimentos de risco antes que cheguem ao radar das agências de rating tradicionais — e, neste caso, o sistema já soava alarmes muito antes da crise se tornar pública.
É importante destacar que a Moody’s Analytics não é a mesma entidade que a Moody’s Ratings, a agência que emite notas de crédito formais para empresas. No caso da Ambipar, a Moody’s Ratings nunca atribuiu rating de crédito à companhia.