Americanas (AMER3): O que vem depois da crise? CEO conta o que esperar com a proximidade do fim da RJ

Após assumir uma Americanas (AMER3) debilitada pela descoberta de uma fraude contábil que marcou o mercado de capitais, o CEO da companhia, Leonardo Coelho, e a CFO, Camille Faria, deram início a um percurso que mira retomar a normalidade da operação da varejista — com o “detalhe” de um financeiro saudável.
Os números do segundo trimestre de 2025 reportados nesta semana mostraram uma redução do prejuízo da companhia e um avanço no Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização). Apesar de analistas alertarem que a base de comparação é fraca e as melhorias não representam uma virada completa da companhia, há sinais de que está no caminho.
Entre os destaques está o volume bruto de mercadorias (GMV, na sigla em inglês) total, que somou R$ 5,2 bilhões, alta de 15,6% na comparação anual, impulsionado principalmente pelo crescimento de 35,7% no GMV físico, para R$ 4,35 bilhões. Já o GMV digital recuou 68,7%, para R$ 213 milhões, enquanto o GMV de “outros” avançou 4,0%, a R$ 634 milhões.
Em entrevista ao Money Times, o CEO afirma que essa discrepância é normal, tendo em vista as mudanças implementadas no modelo de negócios do digital.
“Antes a gente tinha três empresas diferentes. A Lojas Americanas cuidando do varejo físico, B2W cuidando do varejo digital e Ame cuidando do varejo financeiro. Completamente independentes, com propostas diferentes, e atendendo clientes diferentes inclusive”, disse Coelho.
Desde 2023, após a crise causada pela fraude, o objetivo do CEO e da CFO se tornou a busca por sinergias entre as operações.
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“Começamos a identificar que aquilo que de fato tem valor para o nosso cliente, orbita ao redor da loja física. Seja o sortimento, seja a capilaridade, seja o preço, seja o aspecto promocional”, afirma Coelho.
Ele pondera que não cabia mais manter um digital com modelo de negócio insustentável, que consistia em muitos vendedores em marketplaces, com a venda de produtos multicomparáveis de margem baixa, em 12, 20 vezes sem juros, com frete grátis e ainda dando cashback.
“Esse é um modelo de negócio que quebra qualquer empresa, no nosso caso chegou muito perto disso acontecer. Então, mudamos para esse desenho muito mais focado na omnicanalidade, colocando o cliente como centro e dando para ele a opção de comprar da Americanas, inclusive no digital”, diz Coelho.
Americanas deve vender Hortifruti Natural da Terra
A Americanas anunciou nesta semana a retomada o processo de venda da rede de hortifrutis Natural da Terra. Essa operação é parte do plano de recuperação judicial da companhia, e o processo competitivo deve ocorrer até fevereiro do próximo ano.
Questionada sobre se já existem interessados, a CFO, Camille Faria, afirmou ao Money Times que “o processo está em andamento e tem participantes engajados no processo”.
Esse ativo já entrou no radar para venda no final de 2023, no entanto, não foi para frente. Desde o primeiro trimestre deste ano, Faria defende a venda por um preço justo (não especificado), embora compreenda que atualmente exista impacto do cenário macroeconômico.
Os recursos levantados com a venda da rede será utilizada para batimento de dívida, conforme prevê o plano de RJ, que encerrou o primeiro semestre em cerca de R$ 1,9 bilhão.
Em entrevista, Faria ponderou ainda que esse ativo já é dos credores dessa forma e está na responsabilidade da Americanas conduzir o processo competitivo.
Ao ser perguntada se um preço não atrativo faria a varejista prorrogar essa venda, ela destacou que isso demandaria a concordância dos credores.
A conclusão do processo competitivo coincide com os dois anos necessários para que a companhia possa sair da recuperação judicial, o que ocorre daqui a seis meses, em fevereiro de 2026.
O cenário macroeconômico com uma taxa básica de juros em 15%, além de incertezas no âmbito fiscal, internacional (alô, tarifas do Trump e) político, levaram a diretoria da Americana a pisar no freio quando se trata de expansão.
Agora, o plano de abertura de lojas e expansão está paralisado e, segundo o CEO, não deve ser retomado neste ano, apenas em 2026.
O que vem agora?
Fevereiro de 2026 marca o momento em que a companhia pode dar início ao processo de sair da recuperação judicial, sendo este o passo final para alcançar o destino de normalidade.
Os executivos da companhia apontam que a companhia já caminha focada em seu desempenho operacional, com as questões relacionadas ao plano de recuperação judicial endereçadas desde 2024. Há uma rota extra a se traçar da retomada da confiança do mercado.
“Com a companhia em uma situação muito maior de normalidade, o plano implementado, a estrutura de capital ajustada, com a retomada das operações e com a evolução das operações que a gente tem apresentando trimestre após trimestre, os esses investidores começam a olhar de volta”, coloca a diretora financeira.
Ela reconhece que não é um caminho rápido, uma vez que as consequências a fraude demandam um olhar de longo prazo da companhia. Dessa maneira, ela reforça a mensagem que isso irá ocorrer aos poucos, com o acompanhamento dos trimestres e verificação de consistência.
Atualmente, a cobertura do mercado sobre Americanas é limitada, sem cobertura de grandes bancos e corretoras.
“Chegando no final do processo de recuperação judicial, esse último asterisco que poderia ser usado para deixar a Americanas fora de uma empresa dentro da normalidade operacional vai embora”.
Do lado de dentro, o CEO afirma que tem organizando os times, trazendo gente de fora, promovendo gente de dentro para buscar as sinergias.
“Principalmente para buscar o crescimento de duplo dígito que a gente vem aí praticamente oito trimestres entregando nas vendas do varejo físico. Então, eu diria cada vez mais uma empresa normal”.