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André Franco: o bitcoin é um ativo para proteção ou um ativo de risco?

06 abr 2020, 8:23 - atualizado em 26 maio 2020, 11:05
Qual seria a função do bitcoin em um portfólio? Confira o que nosso especialista tem a dizer (Imagem: Freepik)

O “mercado” desconhece aquilo que você chama de previsão de curto, médio e longo prazo. Para essa entidade superior a todas as planilhas de projeções dos financistas e dos analistas, o que existe é apenas um caminho: o seu próprio.

Da mesma forma, cripto, e principalmente o bitcoin, são inertes à seguinte escolha: em qual caixinha dos investimentos os especialistas os colocam? Bitcoin sobe durante o aumento de tensões entre Irã e Estados Unidos e durante os primeiros anúncios do coronavírus.

Por outro lado, quando o mercado inteiro entra em modo “barata voadora” e sai vendendo posições de risco, ocasionado pelo agravamento da crise do coronavírus, bitcoin se comporta como ativo de risco.

A situação é parecida com a seguinte: imagine que você veja um amigo beijando uma mulher. Isso o levaria a pensar que ele é hétero.

Porém, se o mesmo amigo é visto beijando outro homem, ele é homossexual? Não, ele não se encaixa em nenhuma das suas definições anteriores. Na verdade, a conclusão mais óbvia é que ele seja bissexual.

Tão simples como esse exemplo são as informações conflitantes que o bitcoin nos deu no passado recente e continua nos dando.

O bitcoin serve muito bem como ativo não correlacionado aos mercados tradicionais: não é proteção nem ativo de risco semelhante aos outros (Imagem: Unsplash/@icons8)

Ao final de 2018, vimos o bitcoin sofrer junto com todos os outros mercados de riscos, como ações, mas, no começo de 2020, vimos ele se comportar como ativo de proteção em meio à possível guerra entre Irã e Estados Unidos.

Existiram outros momentos em que o bitcoin também nos deu informações contrárias e é por isso que não podemos colocá-lo em nossa classe de ativos de risco nem de proteção.

Então qual seria a função do bitcoin em um portfólio? A resposta segue abaixo.

Um ativo descorrelacionado é um ativo descorrelacionado e vice-versa. Não existe outra forma melhor de encarar o papel do bitcoin em uma carteira. Ele serve muito bem como ativo não correlacionado aos mercados tradicionais: não é proteção nem ativo de risco semelhante aos outros.

Neste ponto, é importante fazer uma pausa para o leitor familiarizado com outras definições de ativos de risco pois, dada a volatilidade das criptomoedas, bitcoin é, sim, um ativo de risco.

O bitcoin é um diversificador, pois possui baixa correlação com os demais índices do mercado (Imagem: Unsplash/@silverhousehd)

O meu ponto para o artigo é que, mesmo isso sendo verdade, ele não deve ser encarado como uma ação ou uma opção que sempre terá relação com o mercado tradicional.

A ideia por trás da dualidade entre ativo de proteção e risco é comparar o comportamento do bitcoin com o ouro (proteção) e ações (risco). Dito isso, vamos voltar ao fio condutor do texto.

Para provar o meu ponto de que estamos diante de um ativo descorrelacionado, vamos analisar períodos mais longos da História para termos eventos suficientes que nos mostrem uma direção mais consolidada.

Para isso, vamos primeiro recorrer ao paper escrito em 2016 por Elie Bouri (Holy Spirit University of Kaslik), Lars Ivar Hagfors (Norwegian University of Science and Technology) e Peter Molnár (Norwegian University of Science and Technology), em “On the hedge and safe haven properties of Bitcoin”.

Nesse artigo, os autores concluem que, nas várias simulações de oscilações diárias e semanais, comparando bitcoin com índices do mercado tradicional, de julho de 2011 a dezembro de 2015, a característica que mais chamou a atenção foi a de diversificador, justamente por terem encontrado baixa correlação entre essa criptomoeda e os demais índices do mercado.

Por outro lado, o paper não descarta as observações de que, em situações momentâneas, o bitcoin serviu como proteção contra os mercados tradicionais.

“Usando dados diários e semanais em um modelo DCC (Engle, 2002), nossos principais resultados gerais mostram que o Bitcoin pode servir como um diversificador eficaz para a maioria dos casos. Além disso, em apenas alguns casos, o bitcoin tem propriedades de proteção que diferiam entre os horizontes.”

Outro estudo interessante que merece sua atenção foi conduzido pela Binance Research, no qual foram comparados índices de mercado do mundo, como S&P 500, NASDAQ, ouro, Bloomberg Commodity, bolsa japonesa, bolsa europeia etc. com o bitcoin em um período de três anos.

Nesse estudo, a menor correlação encontrada entre todos os ativos analisados foi com o bitcoin.

(Imagem: Binance Research; Bloomberg)

Isso nos mostra, mais uma vez, que o bitcoin se mostra muito mais como um ativo descorrelacionado do que com um que se assemelha a investimentos de risco ou de proteção. E assim como as bolsas internacionais, o nosso Ibovespa não poderia ficar de fora desse estudo.

Entre outubro de 2018 e setembro de 2019, um estudo conduzido internamente na Empiricus, por Matheus Spiess, mostrou que tanto IBOV, ouro, dólar e S&P 500 se comportaram da mesma forma que outras classes de ativos, quase nada correlacionadas com o bitcoin.

(Imagem: Empiricus; Bloomberg)

Para a maioria das pessoas, uma narrativa é mais fácil de ser entendida do que um estudo baseado em dados passados. É por isso que, quando temos a reação instantânea do preço ao aumento das tensões entre Estados Unidos e Irã, é fácil propagar o bitcoin como proteção e encontrar quem aceite isso.

Da mesma forma, quando uma crise global se instaura, o mundo todo corre para ter caixa e o bitcoin segue a mesma tendência de queda, não podemos concluir que ele é um ativo correlacionado com os demais.

O fato é: a história do bitcoin nos mostra que ele tem funcionado muito bem como um ativo descorrelacionado a todo o mercado tradicional. Qualquer outra análise dessa criptomoeda pode ter valor momentâneo mas, em uma janela de tempo maior, se mostrará falha.

No nosso exemplo no início do texto, seria como se o seu amigo tivesse se relacionado com homens e mulheres a vida inteira mas, nos últimos meses, ele tivesse apenas ficado com homens.

Racionalmente, isso não deveria levar você a concluir que agora ele é homossexual porque, historicamente, os dados nos mostram que a relação homem/mulher está bem próxima de 1.

E você? Acha que a narrativa do bitcoin como ativo de proteção vai pegar em um futuro próximo? Achou o meu exemplo de “pegação” muito fora de contexto? Qualquer dúvida, entre em contato comigo pelo Instagram e me diga. Sempre gosto de ouvir opiniões sobre o que escrevi.

Abraços e até a próxima.

Analista de Criptomoedas
André é Engenheiro Mecatrônico (USP) por formação e Empreendedor por vocação. Ao longo de sua trajetória profissional, já ajudou mais de 80mil pessoas com seus investimentos por meio da startup digital Investeaê e já ganhou prêmios e reconhecimentos da GE Healthcare, da Open Startups Brasil 2017 e do IV Prêmio Brasil Alemanha de Inovação de 2016 por meio da startup de healthcare Oxiot. Atualmente, quer impactar o mercado de Criptomoedas na Empiricus Research.
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André é Engenheiro Mecatrônico (USP) por formação e Empreendedor por vocação. Ao longo de sua trajetória profissional, já ajudou mais de 80mil pessoas com seus investimentos por meio da startup digital Investeaê e já ganhou prêmios e reconhecimentos da GE Healthcare, da Open Startups Brasil 2017 e do IV Prêmio Brasil Alemanha de Inovação de 2016 por meio da startup de healthcare Oxiot. Atualmente, quer impactar o mercado de Criptomoedas na Empiricus Research.
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