Antes de Atlético-MG x Lanús, o estádio da final da Copa Sul-americana 2025 já foi palco de uma guerra por um território que também é do Brasil
A final da Copa Sul-Americana 2025 entre Atlético Mineiro e Lanús se aproxima, e o palco da decisão — o Estádio Defensores del Chaco — carrega não apenas finais importantes e parte da história do futebol paraguaio, mas também o peso de uma das maiores guerras da América do Sul, travada por um território que também pertence ao Brasil.
Poucos estádios no continente têm um nome tão simbólico quanto o mítico caldeirão paraguaio. Ele existe desde os primeiros passos do futebol no país e é testemunha de capítulos que vão muito além das quatro linhas.
Nos primórdios do esporte no Paraguai, a construção do estádio começou em um terreno doado pelo governo. Inaugurado em 1917, o espaço nasceu com um objetivo simples e direto: impulsionar a prática do futebol no país.
Naquela época, ele ainda se chamava Puerto Sajonia, por estar localizado no bairro homônimo. Oito anos mais tarde, em homenagem ao título da seleção uruguaia nas Olimpíadas de 1924, o estádio passou a se chamar Estadio Uruguay — nome que cairia por terra quando a maior guerra sul-americana do século XX mudou o destino daquela região.
A Guerra do Chaco
Nos anos 1930, a bola que rolava em campo foi substituída por armas, e as chuteiras deram lugar a botas militares. O estádio virou palco de uma guerra.
A disputa pelo Chaco Boreal elevou a tensão entre Bolívia e Paraguai até o ponto de eclodir em conflito aberto — e o então Estadio Uruguay se transformou em um dos principais pontos de concentração das tropas paraguaias. Ali, eram feitos os recrutamentos de soldados e mantidos prisioneiros de guerra bolivianos.
O estopim do conflito foi a descoberta de reservas de petróleo na região — que também se estendia ao território brasileiro. No lado boliviano, porém, a exploração era inviável economicamente, o que levou o presidente da Bolívia a mirar áreas sob domínio paraguaio.

Tal qual um time desacreditado que aposta na estratégia para surpreender um favorito, o exército paraguaio tentou se impor. Em menor número — consequência do déficit populacional após a Guerra do Paraguai — e com armamentos inferiores, o país era a “zebra” da disputa, mas ainda assim conseguiu prevalecer.
Os combates duraram até 1935, deixando 30 mil paraguaios mortos e cerca de 60 mil bolivianos — além de um estádio completamente destruído.
A reconstrução levou quatro anos. Em 15 de agosto de 1939, o general José Félix Estigarribia, herói da Guerra do Chaco, deu o pontapé inicial da partida entre Paraguai e Argentina no mesmo dia em que assumia a presidência do país.
Estádio Defensores del Chaco
Anos depois, em 1972, já com reformas de ampliação e modernização, a liga paraguaia decidiu rebatizar o Estadio de Puerto Sajonia para Defensores del Chaco, em homenagem aos combatentes da guerra.
Hoje, o estádio exibe as cores da bandeira paraguaia em toda a parte interna. Do lado de fora, as paredes próximas ao acesso da torcida visitante contam a trajetória do local — da doação do terreno até os dias atuais, passando pelos capítulos decisivos da Guerra do Chaco.
Agora, porém, a “guerra” é outra.
Final da Copa Sul-Americana
De espaço usado para abrigar prisioneiros de guerra a palco de jogos marcantes, o icônico estádio recebe mais um capítulo importante neste sábado (22), com a final da Copa Sul-Americana 2025.
Atlético-MG e Lanús disputam o título em solo paraguaio. O Lanús busca sua segunda taça — a primeira veio em 2013, quando bateu a Ponte Preta por 3 a 1 no agregado.
Já o Atlético Mineiro tenta levantar seu primeiro título sul-americano e o segundo troféu da temporada.
A bola rola às 17h (horário de Brasília), com transmissão de SBT, ESPN e Disney+