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Aonde estamos indo? Dinheiro “para as pessoas” e governança digital

15 dez 2019, 9:00 - atualizado em 01 jun 2020, 12:56
focus photography of person counting dollar banknotes photo
No futuro, os cidadãos terão mais liberdade e autonomia sobre seus gastos e investimentos, sem a necessidade de intermediários como bancos, corretores e altíssimas taxas de juros (Imagem: Unsplash/@sharonmccutcheon)

Este é o terceiro de seis textos, pois faz parte de uma série de três artigos em que Andrew Gillick, da Brave New Coin, fala sobre “como o blockchain está remodelando nossas ordens econômicas, ambientais e sociais”.

Essa divisão foi feita para que você compreenda, pouco a pouco, a visão do autor em relação à revolução da tecnologia de blockchain no mercado financeiro internacional e, consequentemente, nas nossas vidas.

Parte 1 / Parte 2 / Parte 3 / Parte 4 / Parte 5 / Parte 6

O ethos “criptopunk” original do Bitcoin e dos criptoativos era o de “desbancarizar os bancos” com uma moeda alternativa para a construção de dívidas em que a nossa economia se tornou na era de crédito e fiduciárias.

Uma maneira de os criptoativos evitarem os bancos seria a de preencher a lacuna entre as necessidades do mutuante e o superávit do mutuante; os elementos básicos e tradicionais dos bancos, além de crédito para compra de um imóvel ou de um carro vão ter uma menor demanda com uma maior descentralização da economia.

Passamos pelos primeiros estágios de descentralização com Uber e Airbnb, mas essa tendência vai continuar com o crescimento da economia de compartilhamento em que as pessoas ganham sob seus próprios termos, fazendo trocas com centenas de diferentes tipos de criptomoedas fora da remessa de taxas de imposto de renda ou de juros.

Atualmente, buscamos por uma denominação de moeda para todos os diferentes usos e é isso o que guia as margens bancárias (e de bancos centrais).

No futuro próximo, teremos um ecossistema de muitos criptoativos para aplicações que existem apenas em plataformas descentralizadas digitalmente soberanas na internet e fora da jurisdição de governos e bancos centrais.

Esses criptoativos irão diminuir o poder que as taxas de depósito dos bancos centrais têm sobre nossas vidas, além de suprimir ainda mais a margem de bancos comerciais da atual taxa de juros positiva e livre de risco para empréstimo a taxas ainda mais negativas do que vimos anteriormente (-2 ou -3%), já que bancos centrais são forçados a cobrar pelo dinheiro mantido em depósito.

Criptoativos e bancos digitais vão diminuir a importância das taxas de juros positivas dos bancos entre os jovens economizadores (Imagem: Bloomberg)

Taxas de juros positivas?

A obsessão cultural de poupar dinheiro em bancos foi sumindo por conta das gerações mais jovens, já que o que elas conhecem são as taxas de juros decrescentes e os rendimentos desprezíveis de seus depósitos.

Para aqueles da geração “baby boomer”, que aproveitaram as taxas de juros de dois dígitos por décadas, havia motivo para acreditar no “milagre da internet composta”.

Mas, para a geração dos “millennials”, que tem as menores taxas de poupança do que qualquer outra geração de sua idade na História, a ideia de colocar seu dinheiro numa poupança bancária para ter rendimentos de 1 a 2% é anacrônica.

De acordo com uma pesquisa, 67% dos “jovens millennials”, entre 18 e 24 anos de idade, têm menos de US$ 1 mil em suas contas bancárias; 46% não tem nada. Millennials mais velhos, entre 24 e 35 anos, não se saíram melhor: 41% não tem nada em suas contas.

Desde o início dos anos 1980, a baixa temporal de taxas de juros marca o ponto em que o crescimento da economia de crédito começou a substituir o crescimento real.

As taxas de juros caíram para sua menor baixa durante o PIB em 2012 e 2016 em apenas 1% (e foi ainda melhor em bancos que possuem sua própria taxa de juros).

Sabendo que o limite dessas baixas taxas de juro têm que crescer antes da próxima recessão, o Fed está subindo taxas rapidamente este ano para levá-las ao ponto de decrescerem novamente. Ironicamente, isso é o que irá provocar a próxima recessão, de acordo com muitos “especialistas”.

Tecnologia vai suprimir as forças de trabalho, assim como a demanda dos consumidores (Imagem: Pixabay)

Automação vai compor a deflação temporal e tornar negativas as taxas de juros

A internet criou, pela primeira vez na História, a possibilidade de produção marginal de zero custo — bens que não precisam de equipe nem de despesas para serem produzidos —, o que vai causar um efeito deflacionário no mundo no futuro.

No último século, o nível natural de taxas de juros americanas a curto prazo (efetuadas pela Fed) foi igual ao crescimento nominal do PIB — crucial para manter a quantidade de dívida no mundo crescendo tão mais rápido quanto a taxa de manutenção de dívidas.

Mas quando o rendimento do spread entre a curva da taxa de juros a curto prazo e a curva a longo prazo começa a se inverter, tende a prever uma recessão em uma profecia autocumprida de baixas expectativas de crescimento futuro, pois os investidores escolhem títulos mais longos para um rendimento seguro a longo prazo, aumentando seus preços e diminuindo sua rentabilidade.

De acordo com Hudson, ao longo dos anos, “a Fed conseguiu inflacionar o preço dos ativos ao encher a economia com crédito suficiente para abaixar as taxas de juros, permitindo que os bancos capitalizassem uma receita locativa ou empresarial a um múltiplo muito maior ao emprestá-lo a novos compradores”.

Com o dinheiro pago pelos bancos centrais por ativos ruins, bancos comerciais não o repassaram ao emprestar para pessoas que de fato gastariam o dinheiro (classe média e classe baixa/trabalhadora), e sim o enviaram para outras instituições financeiras com uma taxa de rendimento melhor projetada.

Isso foi feito não para financiar a formação de novo capital ou de novos empregos, mas para fazer ganhos de capital por especulação alavancada por dívidas.

Nos últimos anos, as taxas de juros foram bem reduzidas (abaixo de uma taxa livre de risco para os bancos) para combater a recessão. No entanto, a cada ciclo completo de dívida, diminuiu-se a capacidade de os bancos centrais estimularem o crescimento econômico pela política monetária.

Quando a próxima recessão acontecer, vai ser composta das forças deflacionárias da automação e da tecnologia que já estão encaminhadas há tempos, substituindo as forças de trabalho e, consequentemente, a demanda dos consumidores.

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