Economia

BC vê risco de desaceleração econômica à frente e reconhece deterioração inflacionária

10 maio 2022, 8:26 - atualizado em 10 maio 2022, 10:23
Banco Central
Na semana passada, o BC subiu a Selic em 1,0 ponto percentual, a 12,75% ao ano (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

O Banco Central avalia que o aperto das condições financeiras observado na economia cria um risco de desaceleração mais intensa da atividade à frente, conforme ata do Comitê de Política Monetária (Copom) publicada nesta terça-feira, reconhecendo que há uma deterioração na dinâmica inflacionária do Brasil apesar do ciclo “bastante intenso e tempestivo” de ajuste nos juros.

O documento mencionou surpresa no movimento de alta de preços e pressões provocadas pela guerra na Ucrânia e a demanda global elevada. E ressaltou que grande parte do efeito contracionista da política monetária ainda não foi observada, assim como seu efeito sobre a inflação corrente.

De acordo com a ata, diante da potencial persistência do processo inflacionário global, a posição mais contracionista da política monetária nos países avançados tem impactado as condições financeiras dos países emergentes.

“O Comitê ressaltou que o crescimento econômico veio em linha com o que era esperado, mas o aperto das condições financeiras cria um risco de desaceleração mais forte que o antecipado nos trimestres à frente, quando seus impactos tendem a ficar mais evidentes”, disse.

O BC incluiu a possibilidade de desaceleração da atividade em seus cenários como fator de risco de baixa da inflação, além de uma possível reversão na alta de preços das commodities. O viés de alta, por outro lado, é motivado pelas pressões inflacionárias globais e incertezas sobre o arcabouço fiscal do Brasil.

Na semana passada, o BC subiu a Selic em 1,0 ponto percentual, a 12,75% ao ano, e disse ser provável uma extensão do ciclo de alta dos juros com um ajuste de menor magnitude na próxima reunião, em junho, sem especificar se esse seria o último aumento da taxa.

Na ata, a autoridade monetária disse que a sinalização futura da política monetária foi discutida, reforçando que a opção por estender o ciclo com um ajuste menor foi considerada a mais adequada para garantir a convergência da inflação ao longo do horizonte relevante, assim como a ancoragem das expectativas de prazos mais longos.

O BC argumentou ainda que a decisão reflete o aperto monetário já empreendido, reforça a postura de cautela da política monetária e ressalta a incerteza do cenário.

A ata manteve a posição adotada pelo BC na semana passada de não deixar claro se o ajuste na Selic na reunião de junho encerrará o ciclo de aperto para conter a inflação ou se é possível que ocorram novos aumentos de juros à frente.

“Os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária”, disse.

Surpresa

O documento apontou que a inflação ao consumidor segue elevada no Brasil, com alta disseminada entre vários componentes, mostrando-se mais persistente que o antecipado. Segundo o BC, a inflação de serviços e de bens industriais se mantém alta, e os recentes choques levaram a um forte aumento em alimentos e combustíveis.

De acordo com a ata, as leituras recentes da inflação vieram acima do esperado e a surpresa ocorreu inclusive nos componentes associados à inflação subjacente –que exclui itens mais voláteis.

“O Comitê notou que ocorreu deterioração marginal tanto na dinâmica inflacionária de curto prazo quanto em suas projeções mais longas, ainda que o cenário esteja cercado de incerteza e volatilidade acima do usual”, disse.

No fim do mês passado, o IBGE informou que os preços dos combustíveis seguiram em forte alta e levaram o IPCA-15 a registrar o maior avanço para meses de abril em quase 30 anos, ultrapassando os 12%.

O mercado também vem revisando para cima suas projeções de inflação. Segundo as estimativas captadas pelo BC no boletim Focus mais recente, divulgado dia 2 de maio, a expectativa para o IPCA em 2022 passou de 7,65% para 7,89%, distanciando-se ainda mais da meta de 3,50% (com tolerância de 1,5 ponto). Para 2023, a previsão passou de 4,00% para 4,10%, acima da meta de 3,25%.

O BC optou por manter em suas projeções a premissa de que o barril do petróleo terminará 2022 em 100 dólares, aumentando 2% ao ano a partir de 2023. Nesse cenário, que inclui bandeira tarifária amarela nas contas de energia elétrica, a autoridade monetária estima que o IPCA ficará em 7,3% neste ano e 3,4% no seguinte.

A ata destacou ainda que o ambiente global seguiu se deteriorando, com pressões inflacionárias decorrentes da retomada após a pandemia exacerbadas pelo avanço nos preços de commodities e, mais recentemente, pela nova onda de Covid-19 na China.

Para o BC, a reorganização das cadeias globais de produção, impulsionada pela guerra na Ucrânia, deve se intensificar com uma maior busca por regionalização dos sistemas de suprimento.

“Esses desenvolvimentos podem ter consequências de longo prazo e se traduzir em pressões inflacionárias mais prolongadas na produção global de bens”, afirmou.

A autoridade monetária reafirmou que diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente “em território ainda mais contracionista”. Enfatizou também que seguirá com sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.

Disclemer

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(Atualizada às 10:22)