Radio Cash

“As empresas no Brasil gastam um tempo enorme para pagar os impostos”, diz Mansueto Almeida

27 jul 2021, 10:20 - atualizado em 27 jul 2021, 15:14
Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual
Ajuste fiscal, entraves do sistema tributário, necessidade de reformas amplas e as diferenças de trabalhar no setor público e no privado foram os temas abordados por Mansueto no podcast RadioCash; confira os destaques. Foto: Albino Oliveira.

Após o turbulento período econômico ocasionado pela pandemia de COVID-19, a situação fiscal brasileira pode estar diante de uma melhora. É o que afirma Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual e ex-secretário do Tesouro Nacional, no podcast RadioCash. 

Na projeção de Mansueto, a relação dívida/PIB deve fechar o ano em 82%, contra os 110% que foram estimados pelos economistas mais pessimistas. Mas apesar do cenário mais favorável, ainda não se pode dizer que o ajuste fiscal brasileiro está feito. “Para falar que o ajuste fiscal se completou de fato, a gente tem que enxergar o ponto em que o Governo Federal vai economizar o suficiente para colocar a dívida bruta e líquida numa clara trajetória de queda pros próximos anos”, diz. 

O episódio completo pode ser ouvido dando play abaixo. Os destaques do RadioCash com Mansueto Almeida, você confere nos próximos parágrafos. 

O investidor estrangeiro ainda tem medo de apostar no Brasil

Apesar da projeção otimista, Mansueto afirma a Felipe Miranda e Jojo Wachsmann que o Brasil está numa trajetória melhor somente se comparado com o cenário de 4 meses atrás. Ainda vigora a baixa atratividade de capital e investimentos. “Hoje, quando você conversa com um estrangeiro, ele tem muito medo de investir no Brasil dado ainda um movimento de incerteza”, diz Mansueto. 

Os investidores de grande porte costumam olhar o país em um horizonte de médio e longo prazo, por isso, a melhora recente da situação fiscal brasileira não pode ser tida como uma vitória certa. Isto porque o Brasil ainda tem um nível de dívida muito alto, principalmente em comparação com outros países emergentes, que mantêm a dívida em 60% do PIB. 

“É normal um país ter dívida, o que não é normal é um país de renda média como o Brasil ter uma dívida tão alta e ainda numa trajetória de crescimento” ‒ Mansueto Almeida, em entrevista ao podcast RadioCash. 

Sendo assim, o ajuste fiscal ainda se faz necessário para colocar a trajetória da dívida em queda. Para Mansueto, “a gente só vai consolidar um crescimento maior, se a gente der confiança pro investidor que o país vai caminhar na direção correta, que não vai ter um desequilíbrio fiscal grande no futuro, que não vai ter rompimentos de contratos, tudo isso.”

Alta tributação e complexidade do sistema tributário atrapalham o crescimento das empresas brasileiras

Para Mansueto Almeida, a carga tributária brasileira é muito alta, considerando que o país tem uma renda média. Outros países da América Latina mantêm a arrecadação via impostos em 23% do PIB, enquanto o Brasil arrecada 33% do PIB. Além disso, o sistema de tributação é muito complexo. 

“As empresas no Brasil gastam uma quantidade de tempo enorme para simplesmente pagar os impostos. Isso tem que mudar, porque isso é um ônus e tira competitividade da economia brasileira”, afirma o economista. 

Um dos desafios do Brasil é, portanto, simplificar o sistema tributário, algo que pode ser feito sem afetar as contas públicas e ainda aumentar a competitividade das empresas brasileiras. 

O ex-Secretário Nacional do Tesouro também falou sobre a segunda versão da reforma tributária, que foi apresentada no final de junho: “O que me preocupa na segunda versão é o risco de perder arrecadação”.

Mansueto torce para que as mudanças acabem sendo “neutras”, ou seja, não diminuam nem aumentem a arrecadação. “A gente não tem, infelizmente, espaço para abrir mão da arrecadação no momento. Mas também a gente não deve aumentar a arrecadação, porque a carga tributária do Brasil é muito alta”, resume. 

O economista comentou que o Brasil está recuperando os índices de arrecadação esse ano, mas prevê que os números ainda ficarão abaixo daqueles da pré-pandemia. 

Ainda sobre a reforma tributária, o economista diz que serão necessárias outras propostas, que terão que ser amplamente discutidas nos próximos governos. Entre os pontos de atenção, ele menciona os impostos indiretos (como ICMS e ISS) e os regimes especiais de tributação

O papo completo de Mansueto Almeida com Felipe Miranda e Jojo Wachsmann pode ser ouvido aqui ou procurando por RadioCash na sua plataforma de podcasts preferida:

O Brasil precisa de uma agenda ampla de reformas

“O desafio do país não é só fazer uma reforma e acabou. A gente nunca vai conseguir fazer todas as reformas que o país precisa no período de dois, três, quatro anos. O que importa pro ambiente de investimento é um ciclo contínuo, mesmo que gradual de reformas”, opina Mansueto Almeida.

Para o economista-chefe do BTG, o Brasil ainda precisa realizar uma série de reformas, que incluem facilitar as importações e exportações e aumentar a integração com o resto do mundo para que as empresas brasileiras possam ser cada vez mais produtivas e competitivas. 

Além disso, ele também ressalta a importância na melhoria da educação e na redução de desigualdades. O problema, segundo Mansueto, não é a falta de dinheiro para tais objetivos, mas sim a forma como tal dinheiro está sendo usado. 

“Apesar do Governo tributar tanto e gastar tanto, a redução de desigualdade é muito pequena, é menos da metade do que acontece num país como a Inglaterra que tem uma carga tributária semelhante ao Brasil. O desafio do Brasil para reduzir desigualdade não é aumentar gastos, é melhorar a composição do gasto, torná-lo mais efetivo”, afirma o economista-chefe do BTG. 

No episódio do RadioCash, Mansueto Almeida também falou sobre as diferenças entre trabalhar no setor público e no setor privado, afirmando que os dois lados ainda têm muito o que aprender um com o outro. Confira a entrevista completa clicando no player abaixo:

Jornalista formada pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduanda na ESPM. É coordenadora de marketing do Seu Dinheiro e do Money Times. Entrou para o mercado financeiro inesperadamente e está sempre disponível para falar sobre inovação, criatividade e cultura pop.
Jornalista formada pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduanda na ESPM. É coordenadora de marketing do Seu Dinheiro e do Money Times. Entrou para o mercado financeiro inesperadamente e está sempre disponível para falar sobre inovação, criatividade e cultura pop.
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