As principais preocupações e o melhor modelo para o futuro do etanol de milho, segundo o Bank of America

O Bank of America (BofA) realizou uma conversa com Kory Melby, consultor agrícola e especialista de etanol de milho no Brasil sobre esse mercado em franca expansão. De acordo os analistas Isabella Simonato, Rogerio Araujo e Julia Zaniolo, Melby se mostra surpreso — e de certa forma preocupado — com o crescimento acelerado da indústria.
As preocupações surgem principalmente pela disponibilidade de biomassa para abastecer as usinas e o mercado comprador para o DDG (Grãos Secos de Destilaria), subproduto usado na alimentação animal essencial para a rentabilidade dos projetos.
O consultor defende que usinas flex, que usam tanto cana-de-açúcar quanto milho como matérias-primas, são o melhor modelo dentro do segmento. “Elas têm menor risco de escassez de biomassa, ao utilizarem o bagaço da cana como fonte energética, e produzem etanol de milho no período de entressafra da cana”, explica.
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Mesmo com os desafios, empresas com fonte estratégica de milho, bom acesso à biomassa e localização em regiões que pagam prêmio pelo DDG devem se destacar e liderar a consolidação da indústria.
Os desafios da indústria de etanol de milho
Segundo o BofA, uma grande usina consome cerca de um milhão de toneladas de biomassa por ano. Com isso, o desafio está em desenvolver áreas suficientes de floresta de eucalipto, dentro do tempo necessário, para sustentar a capacidade produtiva planejada.
Já para o DDG, há incertezas se o mercado interno conseguirá absorver todo o subproduto produzido ou se haverá infraestrutura logística suficiente para exportação.
Vale lembrar que a DDG e o milho não competem diretamente como ração animal, mas o DDG concorre com o farelo de soja. “Com o aumento da produção de biodiesel, haverá mais oferta de farelo no mercado, o que pode pressionar os preços do DDG até que o Brasil desenvolva um mercado mais robusto de confinamento de gado”.
Melby salienta que o Brasil ainda carece de infraestrutura logística adequada — especialmente no Arco Norte — para armazenar e exportar o DDG.
A importância da produtividade e a abertura de novos mercados
O especialista acredita que a segunda safra de milho deve crescer via aumento de produtividade para atender a demanda da indústria. Isso acontecerá a partir do uso de mais fertilizantes, sementes mais resistentes e irrigação — e também com a expansão para áreas mais isoladas no Mato Grosso.
“A conversão de áreas de soja para primeira safra de milho no verão só será economicamente viável se a relação de preços soja/milho ficar abaixo de 2x. Hoje, essa relação está em 2,7x. Além disso, será necessária maior capacidade de armazenagem”, explicam.
Com a expansão dos projetos de etanol para áreas mais distantes do centro produtor de milho e cana-de-açúcar, a rentabilidade depende da captação de prêmios regionais — ou seja, de preços mais altos em regiões onde o etanol do Centro-Sul não chega facilmente.
Somadas essas questões, o Brasil tem potencial para se tornar um dos líderes na produção de SAF (Combustível Sustentável para Aviação). Fora isso, uma redução da tarifa de importação de 50% para algo em torno de 10-20% pode fazer os Estados Unidos se tornar importador de etanol brasileiro.