Astros se alinham para Banco Central iniciar cortes da Selic já em 2025, diz David Beker, do BofA

Os sinais de que o Banco Central (BC) pode iniciar o processo de afrouxamento monetário começam a se multiplicar. Na avaliação de David Beker, chefe de economia no Brasil e estratégia para América Latina do Bank of America (BofA), o cenário atual favorece uma redução da Selic já neste ano.
“Os astros estão se alinhando para o Banco Central começar um processo de corte de juros”, disse em conversa com jornalistas nesta quarta-feira (3).
Segundo ele, as condições que justificam o movimento estão dadas: a atividade econômica mostra desaceleração, a inflação de curto prazo segue baixa, as expectativas de preços para 2025 a 2027 recuam e o mercado de trabalho dá sinais de enfraquecimento leve, ainda que siga aquecido.
Além disso, ele destacou ainda que o Federal Reserve (Fed) indicou que pode cortar os juros dos Estados Unidos (EUA) em breve.
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“Existe, sim, espaço para o BC começar o corte este ano”, afirmou. “Antes, a inflação de curto prazo estava melhor, mas a expectativa não estava caindo, ou a expectativa estava caindo, mas a atividade não estava desacelerando. Hoje, está tudo na mesma direção.”
Na visão do BofA, o corte inicial da Selic deve ocorrer já na reunião de dezembro, com uma redução de 0,50 ponto percentual.
O mercado, no entanto, está divido entre um primeiro ajuste este ano ou no primeiro trimestre de 2026. O argumento para atrasar o início dos cortes, segundo Beker, seria o de reforçar a queda das expectativas de inflação. No entanto, há risco de perder o timing do corte.
Ele pondera que a possibilidade de um primeiro corte já em novembro é maior do que de apenas em março do próximo ano, embora esse não seja seu cenário-base.
As projeções do banco apontam para uma Selic de 14,5% em 2025 e 11,25% em 2026 — com cortes no primeiro semestre, pausa durante as eleições e retomada no fim do ano. Para 2027, os juros devem cair para 10,5%.
Além dos fundamentos econômicos, o mercado segue atento à autonomia do BC, em meio ao projeto que discute a possibilidade de o Congresso demitir integrantes da diretoria da autarquia. Para Beker, ainda não há clareza sobre o andamento da proposta: “tem que esperar para ver”.
O cenário que justifica cortes da Selic, segundo o BofA
O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,4% no segundo trimestre de 2025, ritmo abaixo da alta de 1,4% registrada nos três primeiros meses. O dado confirma a percepção de desaceleração da atividade, em linha com os efeitos da política monetária restritiva mantida pelo Banco Central.
No lado da inflação, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,26% em julho, mas a prévia de agosto — medida pelo IPCA-15 — surpreendeu ao registrar deflação de 0,14%, a primeira desde julho de 2023.
Já as projeções do mercado para a inflação seguem em trajetória de queda. De acordo com o Boletim Focus mais recente, a estimativa para 2025 recuou pela 14ª semana seguida, de 4,86% para 4,85%. Para os anos seguintes, os ajustes também foram de baixa: 4,31% em 2026 e 3,94% em 2027.
O mercado de trabalho, por sua vez, segue aquecido. Em julho, foram abertas 129.775 vagas formais, número inferior ao observado no mesmo mês de 2024, quando o saldo foi de 191.373 postos.
No cenário externo, as atenções se voltam para os EUA. O discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, em Jackson Hole, foi interpretado como mais “dovish”, reforçando a percepção de que o ciclo de cortes de juros pode começar logo.