Ata do Copom afasta aposta de corte da Selic em janeiro para uns – mas mantém porta aberta para outros
Para uns, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira (16), indica que os diretores não parecem estar inclinados a iniciar os cortes da Selic em janeiro. Já para outros, ela preserva a flexibilidade e mantém os próximos passos da política monetária em aberto.
Na avaliação da XP Investimentos, o Copom deixou claro que ainda não é o momento de relaxar a política monetária. O economista-chefe da casa, Caio Megale, afirma que, embora o documento destaque que a atividade econômica está arrefecendo conforme o esperado e que a inflação surpreendeu positivamente, os vetores inflacionários se mantêm adversos.
Para a XP, a ata indica a necessidade de manter a taxa de juros nos níveis atuais por mais tempo, de modo a reforçar o processo de desinflação em curso. “O Comitê não parece inclinado a iniciar o ciclo de corte de juros em janeiro, apesar da melhora recente no cenário inflacionário”, diz.
Megale ressalta ainda que o Copom segue avaliando o ambiente externo como “incerto” e que, no cenário doméstico, há maior confiança de que a atividade está perdendo fôlego. O mercado de trabalho, por sua vez, permanece “em patamar bastante apertado”, enquanto as expectativas de inflação seguem acima da meta em “todos os horizontes.”
“O cenário prescreve uma política monetária significativamente contracionista por período bastante prolongado”, afirma.
O Itaú também interpreta a ata como um sinal de cautela em relação a um corte iminente. O economista-chefe do banco, Mario Mesquita, diz que a ata manteve uma barra alta para corte em janeiro, assim como no comunicado.
Segundo ele, o Copom observa sinais mistos da atividade econômica e um mercado de trabalho resiliente, o que “exigirá mais tempo para avaliar adequadamente os componentes cíclicos”.
Mesquita destaca ainda que a ata enfatiza que “expectativas desancoradas aumentam o custo da desinflação em termos de atividade econômica”.
O BTG Pactual, por outro lado, diverge e vê a ata como mais suave (dovish). Os economistas Bruno Balassiano, Bruno Martins e Iana Ferrão apontam que o documento aprofunda o diagnóstico do cenário, reconhece melhorias factuais e preserva flexibilidade, evitando qualquer compromisso com a decisão de janeiro.
Para o banco, “os próximos passos da política monetária permanecem em aberto”.
Eles destacam ainda que a ata promove ajustes “sutis, porém relevantes”, que reduzem amarras na comunicação e pavimentam o caminho para o início do ciclo de cortes, condicional à evolução dos dados.
Um dos exemplos citados é a retirada de “em patamar” do trecho “política monetária significativamente contracionista”, o que reforça que um corte inicial de 0,25 ponto percentual seria compatível com manutenção de condições contracionistas. Outro ponto é a exclusão da referência explícita a “pressões no mercado de trabalho” no checklist prospectivo, o que evita que um único item seja interpretado como gatilho.
Quando o Copom vai cortar a Selic?
Em linha com suas respectivas análises, os bancos divergem quanto ao momento de início do ciclo de cortes de juros pelo Copom.
A XP projeta que o Banco Central começará a flexibilizar a política monetária em março do ano que vem. “Projetamos seis cortes consecutivos de 0,50 p.p., com a taxa Selic encerrando 2026 em 12,00%.”
O Itaú, por sua vez, trabalha com a possibilidade de um primeiro corte já em janeiro, de 0,25 p.p., e projeta a Selic terminal em 12,75%. O banco, no entanto, destaca que pode reavaliar o cenário de curto prazo, já que a ata divulgada hoje diminui, em sua análise, essa probabilidade.
Já o BTG avalia que, “a menos que haja surpresas relevantes nos dados ou uma depreciação cambial significativa”, o início do ciclo de cortes em janeiro é o cenário mais provável. “Mantemos nosso cenário-base de corte de 25 pb em janeiro, com a Selic convergindo para 12% no fim de 2026.”