CEO do Santander (SANB11) compara arcabouço tributário a orelhões

Que o sistema financeiro brasileiro avançou nos últimos anos é inegável. O surgimento do Pix e de outras ferramentas encabeçadas pelo Banco Central (BC) colocou o país na vanguarda de muitas inovações.
Mas ainda há pontos a melhorar. Em painel de CEOs realizado pelo Santander (SANB11), o presidente do banco, Mario Leão, afirmou que questões antigas seguem sem solução, como todo o arcabouço de tarifas.
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Além de Leão, participaram do debate Milton Maluty, do Itaú Unibanco (ITUB4), e Roberto Sallouti, do BTG Pactual (BPAC11).
“As tarifas, a forma como os bancos podem ou não podem cobrar, existem há muito tempo. É quase um arcabouço comparável ao das telecomunicações, quando havia a obrigação de instalar orelhões em praças públicas. Hoje, existe um arcabouço tarifário comparável ao orelhão, que obviamente não existe mais”, disse Leão.
Segundo ele, o Banco Central tem tentado retomar essa agenda e se mostra aberto, mas os temas são “muito antigos”.
E sobrou para as fintechs.
Leão destacou que os bancos tradicionais, com agências físicas, não podem cobrar pelos quatro primeiros saques do mês, enquanto os concorrentes digitais, que utilizam inclusive a infraestrutura dos grandes bancos, já cobram a partir do primeiro saque.
“São situações desse tipo, assimetrias entre instituições que são absolutamente equivalentes, na prática, para o cliente, mas que podem ou não podem cobrar de formas diferentes”, afirmou.
Itaú alerta para desaceleração
Os CEOs também comentaram as perspectivas para os próximos trimestres.
Maluty lembrou que o crescimento da carteira de crédito no 1º semestre, de 10,7%, foi impulsionado por efeitos sazonais e regulatórios.
“Com a Resolução 4.966, vimos que alguns bancos mudaram o critério de write-off, e essa mudança acabou levando a um crescimento maior da carteira no semestre — estimamos em 1 ponto percentual acima do que seria o normal.”
A visão do Itaú é que há demanda reduzida na ponta, com muitas empresas diminuindo captações, especialmente no longo prazo.
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“O duration, o prazo médio das carteiras, vem caindo. Também observamos que a pessoa física, com esse nível de taxa de juros — e é para isso que serve a política monetária — reduziu atividade e endividamento. Menos atividade, juros mais altos e, consequentemente, menor crescimento da carteira.”
Com a Selic a 15%, empresas já começam a sentir os impactos da escalada dos juros nos resultados.
Crescer bem
Já o CEO do Santander disse é que menos relevante o delta de crescimento da carteira agregada. Ou seja, o banco não quer crescer a qualquer custo.
“Não se trata apenas de levar a base de 100 para 110 ou 120. Isso conta, claro, mas a grande oportunidade está em transformar a base existente em uma base de maior qualidade”.
Segundo ele, é crescer desproporcionalmente em alguns portfólios e aceitar reduzir exposição em outros, porque é o correto.
“São produtos ou clientes que não trazem o nível adequado de retorno. Temos uma disciplina muito grande, como todos aqui, de gerar retorno para os acionistas”.