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Banco Central: Novos preços da Petrobras (PETR4) podem acelerar queda da Selic? Entenda

16 maio 2023, 16:08 - atualizado em 16 maio 2023, 16:08
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Reajuste dos preços dos combustíveis pode impactar a inflação, mas Banco Central por esperar antes de cortar a Selic. (Imagem: Agência Brasil)

A Petrobras (PETR3PETR4) anunciou que deixará de usar a política de preço de paridade de importação (conhecida como PPI) e adotará uma nova estratégia comercial para definição de preços dos combustíveis.

Essa mudança pode impactar na inflação dos próximos meses. Charbel Zaib, economista-chefe da Arcani Investimentos, afirma que a medida é positiva no sentido de manter os preços mais estáveis.

“A partir do momento que você não está sujeito a oscilações bruscas nos preços dos combustíveis, você não tem esse impacto na inflação com as variações. Podemos dizer, de maneira geral, que é positivo para o consumidor no que tange a questão da volatilidade e capacidade de manter os preços sob controle”, aponta.

E quando o assunto é inflação, o mercado logo se volta para o Banco Central. Na sua última ata, o Comitê de Política Monetária (Copom) reforçar o que está rolando com a inflação e porque os dados recentes do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) não significam nada para a autoridade monetária.

Inflação

O Banco Central destaca que, para o segundo trimestre, é, sim, esperada uma queda relevante na inflação acumulada em doze meses em função do efeito base do ano anterior. Em maio e junho de 2022, o IPCA mensal se encontrava abaixo do 1% e isso vai influenciar nos números acumulados dos próximos meses.

Além disso, entre julho e setembro, o país registro deflação. Já o segundo semestre deve ser marcado por uma volta na alta dos preços.

“No segundo semestre, como os efeitos das medidas tributárias que reduziram o nível de preços no terceiro trimestre de 2022 não estão mais incluídos na inflação acumulada e ainda se terá a inclusão dos efeitos das medidas tributárias deste ano, se observará elevação do mesmo indicador”, aponta o texto.

Por outro lado, além da nova política de preços, a Petrobras também aproveitou para reajustar os valores da gasolinadiesel gás de cozinha (GLP) vendido em suas distribuidoras.

A partir de amanhã, o litro do diesel A nas distribuidoras passará de R$ 3,46 para R$ 3,02. Trata-se de uma redução de R$ 0,44, ou 12,71%. Já o litro da gasolina A fica R$ 0,40 mais barato (-12,57%), passando de R$ 3,18 para R$ 2,78.

Já o botijão de gás passará de R$ 3,2256 para R$ 2,5356 por kg, equivalente a R$ 32,96 por botijão de 13kg.

Segundo cálculos do economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) para O Globo, a queda na gasolina e no diesel terá um impacto de cerca de -0,27 ponto percentual na inflação em maio e outros -0,27pp em junho.

Vale lembrar que a gasolina tem um peso maior no orçamento das famílias brasileiras. No entanto, reduções no diesel tendem a impactar preços de outros produtos devido ao frete de mercadorias.

Já a queda no preço do botijão de gás deve resultar em uma queda de 0,07 pp no IPCA de maio e 0,07 pp no de junho.

Selic

Durante uma coletiva de imprensa nesta manhã, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse que a nova política de preços da Petrobras ajudará o Brasil a combater a inflação e pode “sensibilizar Banco Central a reduzir taxa básica de juros”.

Essas recentes quedas nos combustíveis não eram previstas pelo Banco Central ou pelo mercado, logo, as projeções de inflação precisarão ser recalculadas. Mas a autoridade monetária pode esperar alguns meses para entender o real impacto nos preços.

Segundo o economista André Perfeito, a mudança da política de preços da estatal, numa leitura inicial, traz poucos elementos. “Foi dito que não haverá mudanças periódicas de preços e isso sugere que a Petrobras buscará amenizar a volatilidade externa nos preços domésticos, o que faz sentido. De fato a política atual dolarizou a gasolina e isso pode ser problemático em alguns momentos para se dizer o mínimo”, afirma.

Por outro lado, o Brasil não é autossuficiente no refino, logo a empresa não poderá abandonar totalmente a paridade com os preços internacionais.

O momento atual é propício para a Petrobras, afinal hoje os preços domésticos estão mais caros que a paridade. Isso porque o barril de petróleo está relativamente estável e porque o real que se apreciou. Se a estatal souber administrar essa “gordura”, ela poderá conduzir uma política que agradará a Faria Lima e movimentos mais à esquerda.

“No mais fica a dúvida: como o BCB irá reagir a isso. Do jeito que está o clima podemos imaginar que Campos Neto tem mais uma carta na manga para sua atuação altista dos juros, mas mesmo nesse caso sugiro cautela”, afirma.

A princípio, as projeções do mercado é que o Banco Central comece a cortar a Selic em setembro. A taxa básica de juros vem sendo mantida no patamar de 13,75% desde agosto do ano passado.

Entenda a nova política de preços da Petrobras

A nova estratégia comercial usa referências de mercado como: o custo alternativo do cliente, como valor a ser priorizado na precificação, e o valor marginal para a Petrobras.

“O custo alternativo do cliente contempla as principais alternativas de suprimento, sejam fornecedores dos mesmos produtos ou de produtos substitutos”, diz o comunicado da empresa. “Já o valor marginal para a Petrobras é baseado no custo de oportunidade dada as diversas alternativas para a companhia dentre elas, produção, importação e exportação do referido produto e/ou dos petróleos utilizados no refino.”

Com isso, os reajustes continuarão sendo feitos sem periodicidade definida, evitando o repasse para os preços internos da volatilidade conjuntural das cotações internacionais e da taxa de câmbio.

Para Amance Boutin, especialista em combustíveis da Argus, a nova diretriz da Petrobras aumenta a complexidade da precificação, acrescentando variáveis de mercado interno, competitividade e market share.

Já Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos, destaca que, agora, há uma flexibilidade maior para que se pratique preços mais baixos, o que é facilitado pelo cenário atual, com Brent em US$ 70/barril. “A dúvida é quando houver uma escalada do petróleo, se haverá uma chance de arbitragem maior por parte dos pares que importam”, diz.

Como essa política se diferencia da PPI? Frederico Nobre, líder da área de análise da Warren, aponta que a PPI considerava não apenas o custo do produto refinado e a taxa de câmbio, mas também outras despesas como frete e tarifas portuárias, não necessariamente incorridas pela Petrobras. Sob a ótica do custo alternativo do cliente, a empresa continuará olhando para as referências externas “da porta para fora”, mas não mais “da porta para dentro”.

“A ideia é que abdicando da obrigatoriedade de seguir a PPI, a Petrobras consiga ser mais competitiva em alguns mercados, sem ferir a rentabilidade da companhia”, afirma.

Editora-chefe
Formada em Jornalismo pela PUC-SP, tem especialização em Jornalismo Internacional. Atua como editora-chefe no Money Times e já trabalhou nas redações do InfoMoney, Você S/A, Você RH, Olhar Digital e Editora Trip.
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