Internacional

Bancos que apostam em Paris dizem que há vida fora de Londres

23 abr 2023, 9:00 - atualizado em 20 abr 2023, 11:48
Londres
Londres ainda é muito maior em termos de número de funcionários, ativos e volumes de negócios, mas a saída do Reino Unido da UE afeta esse status (Imagem: REUTERS/Henry Nicholls)

Durante décadas, Londres foi o principal centro financeiro europeu, com a combinação de dinheiro continental com ideias transatlânticas sobre o que fazer com ele. Mas dois anos depois de o Brexit se tornar realidade, há uma clara transição no Canal da Mancha.

Os despojos agora são compartilhados por cidades da União Europeia, criando uma paisagem mais fragmentada. Nesse novo cenário, transações de vários tipos são processadas em Paris, ações são negociadas nos Países Baixos e advogados e contadores corporativos se debruçam sobre os detalhes em Frankfurt. Dublin, Milão, Madri e Varsóvia desempenham importantes papéis coadjuvantes.

Mas se uma cidade pode reivindicar ser o novo centro preeminente do bloco, esta cidade é Paris.

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O fascínio da capital francesa pode ter sido manchado este ano por protestos contra os planos do presidente Emmanuel Macron de aumentar a idade de aposentadoria, o que levou a greves em todo o país e imagens de lixo queimando nas ruas. Mas os números nos escritórios dos titãs de Wall Street apontam para uma nova realidade do setor bancário europeu, que não mudará facilmente após uma gigantesca realocação de dinheiro e talentos.

O JPMorgan Chase tem atualmente cerca de 550 funcionários de mercados em Paris, incluindo vendedores e traders, um número 22 vezes maior em relação a 2019. O total de funcionários do Bank of America, agora em 600, é seis vezes maior do que em 2016, ano da votação do Brexit. O Citigroup está montando um novo pregão na esquina da Avenue des Champs-Élysées.

O Morgan Stanley também reforça a equipe em Paris e inaugurou um centro de pesquisa para apoiar as operações de trading. E a equipe de mercados globais do Goldman Sachs mais que dobrou nos últimos dois anos. O banco prevê uma expansão ainda maior.

“Paris é agora nosso maior centro de trading na UE”, disse em entrevista Marc d’Andlau, um dos codiretores do Goldman na França. “Antigamente, se você não estivesse em Nova York, Londres ou Hong Kong, poderia se sentir ‘remoto’. Esse não é mais o caso.”

Londres ainda é muito maior em termos de número de funcionários, ativos e volumes de negócios, mas a saída do Reino Unido da UE afeta esse status. A cidade efetivamente desistiu de seu manto como o local padrão para empresas acessarem os pools globais de capital por meio dos mercados de ações e títulos.

E, mesmo em meio aos problemas nas avenidas parisienses, autoridades da França têm destacado as conquistas de Paris após o Brexit e preveem que a tendência dos últimos anos vai continuar.

“Ao contrário de outras cidades, que atraíram um ou dois tipos de serviços financeiros, Paris é a única que se beneficiou de realocações em todos os segmentos do setor financeiro”, disse François Villeroy de Galhau, presidente do banco central da França, em conversa com um grupo de banqueiros em Nova York este mês. “Mais importante ainda, essas mudanças não foram eventos pontuais: o ‘momentum’ migrou de Londres para a Europa continental. Observamos uma mudança constante, que não mostra sinais de perder força.”

Altos salários

Números da Autoridade Bancária Europeia publicados em janeiro mostraram que o número de banqueiros de investimento e traders na França que ganham mais de 1 milhão de euros (US$ 1,1 milhão) aumentou quase 80% desde 2017. Embora a grande onda inicial de realocações tenha praticamente terminado, muitos executivos que conversaram com a Bloomberg esperam que o número de funcionários continue crescendo com as contratações locais.

Lear Janiv, sócio do Goldman Sachs e um veterano de 16 anos na empresa, se mudou de Londres para Paris para comandar a divisão de FICC (renda fixa, câmbio e commodities) e negociação de ações na principal unidade do banco na UE. E não são apenas bancos. O hedge fund Millennium Management praticamente dobrou a equipe em Paris no último ano e planeja continuar a expansão.

O influxo de traders e banqueiros de fusões e aquisições com altos salários já ajuda a aumentar a demanda por serviços como escolas particulares bilíngues e apartamentos nobres com vistas para o horizonte parisiense. Bancos oferecem consultores de realocação, aulas de idiomas e condições de trabalho adequadas para uma cidade internacional de nível A, rica em cultura e oportunidades.

“Queríamos garantir que nossos funcionários se estabeleçam e tenham sucesso em Paris”, disse Vanessa Holtz, que dirige as operações do Bank of America na França e que abrange a Europa. “Fazê-los ficar e estabelecer o centro europeu como sua casa é um processo muito importante, e Paris tem tudo.”

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