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Bitcoin e blockchain irão remover intermediários em serviços financeiros?

11 jul 2020, 11:00 - atualizado em 11 set 2020, 9:11
“Blockchain é o futuro”, “só continuará crescendo nos próximos anos” e “irá revolucionar as finanças corporativas e descentralizar empréstimos e remover a necessidade de intermediários” são tópicos correntes. Será mesmo que blockchain e o bitcoin trarão inovadoras mudanças ao mundo bancário? (Imagem: Freepik/macrovector)

É evidente que o blockchain não pode mais ser ignorado, principalmente por conservadores. Existe muito dinheiro ligado a ele que até grandes empresas estão o levando a sério.

Se você acompanha a indústria blockchain, pode ter se deparado com temas recorrentes, como “blockchain é o futuro”, “só continuará crescendo nos próximos anos” e “irá revolucionar as finanças corporativas e descentralizar empréstimos e remover a necessidade de intermediários”.

Essas questões estão corretas? Existem duas perspectivas sobre esse tema.

Os utópicos

Aqueles envolvidos com blockchain são bem famosos por falar bem dessa tecnologia. A gama de problemas que afirmam que criptoativos podem solucionar é enorme — tudo desde permitir que pequenas empresas acessem serviços financeiros facilmente até o destronamento de regimes corruptos.

Quando se fala em finanças corporativas, as hipóteses são impressionantes.

Conforme Alex e Don Tapscott escreveram ao Harvard Business Review (apesar de ter sido antes de seu próprio desastre financeiro), nosso sistema financeiro é extremamente ineficiente e precisa de um grande rompimento.

Segundo eles, “o sistema é cheio de problemas, além do custo por meio de taxas e atrasos, criando fricção por meio de papeladas redundantes e onerosas, além de fornecer oportunidades para fraude e crime”.

Livrar-se de intermediários desnecessários poderia fazer com que empresas e negócios economizassem bilhões por ano (Imagem: Freepik/pikisuperstar)

As estatísticas apoiam sua hipótese: em um relatório da PwC em 2014, 45% das empresas de serviços financeiros sofreram com crimes econômicos durante o ano.

Para “crentes do bitcoin”, o motivo dessa ineficácia inútil é bem claro: o sistema atual das finanças corporativas é antiquado, dependente de um casamento inquieto entre tecnologias digitais e processos que continuam baseados em papel.

Como resultado, até mesmo as grandes instituições financeiras dependem de inúmeras empresas e pessoas de empresas terceiras para realizar as mais simples das transações financeiras.

Livrar-se desses intermediários é bem desejável e poderia fazer com que empresas e negócios economizassem bilhões por ano.

O banco europeu Santander, por exemplo, põe suas possíveis economias em US$ 20 bilhões por ano, enquanto a empresa de consultoria Capgemini estima que clientes poderiam poupar até US$ 16 bilhões em taxas bancárias e de seguros por meio do uso de blockchain.

ICOs são ofertas iniciais de moeda para a arrecadação de dinheiro para o desenvolvimento de projetos cripto (Imagem: Freepik/macrovector)

Para as finanças de startups, o potencial do blockchain pode ser bem mais inovador. Até recentemente, levantar capital para um novo empreendimento envolvia o direcionamento de um grupo de investidores aventurosos e de alto valor.

Ofertas iniciais de moeda (ICOs) arrecadam milhões para novas empresas, em que grande parte desse dinheiro vem de pequenos investimentos feito por pessoas.

Os céticos

Apesar do evidente potencial para a inovação, muitos ainda são céticos em relação ao futuro do blockchain. Alguns dessas críticas são válidas; algumas, nem tanto.

Existe uma variedade de opiniões, um ímpeto recente pelo rápido aumento de valor o bitcoin, que considera o grande empreendimento como uma repetição da Companhia dos Mares do Sul (SSC) ou a queda do Pontocom.

Esse foi o tom de um antigo editorial do The Guardian, que afirmou que o blockchain “produziu uma das irrupções mais impressionantes da exuberância irracional da história financeira”.

Tal postura destaca que o valor do blockchain, assim como grande parte do sistema financeiro, depende da confiança de investidores de que a moeda continuará a ganhar valor.

Muitos participantes da economia financeira tradicional não estão prontos para o abalo da tecnologia blockchain (Imagem: Freepik/vector_corp)

O problema, porém, é que céticos desse tipo acham — com pouca ou nenhuma evidência — que uma queda é inevitável. Quedas aparecem nas manchetes, mas sucesso, não. Assim, aumenta as opiniões sobre previsões daqueles que não estão envolvidos com uma nova tecnologia.

Uma tensão bem mais informada de ceticismo se deve ao fato de que muitos envolvidos nas finanças corporativas não estão prontos para o blockchain.

Uma pesquisa realizada pela Associação de Profissionais Financeiros (AFP), por exemplo, descobriu que apenas 11% entre 279 profissionais participantes dos setores financeiro e do tesouro afirmaram que suas empresas estavam “completamente” ou “muito” preparadas para blockchain, Internet das Coisas (IoT) e automação robótica de processos.

Mais de ⅓ disse que suas empresas estavam pouco preparadas ou despreparadas.

Isso é bem preocupante, mas também tem consequências diretas para o potencial do blockchain. Quando essas empresas finalmente entenderem que precisam de processos em blockchain, é improvável que os desenvolvam.

Em vez disso, dependerão daqueles que o blockchain promete remover: os intermediários.

Fundada em 2014, R3 é a responsável pelo blockchain Corda, uma plataforma de código aberto que permite que usuários criem aplicações de blockchain. Em 2018, a empresa lançou Corda Enterprise, uma versão comercial da rede (Imagem: Twitter/R3)

Os novos intermediários

Observando as notícias mais recentes sobre blockchain, surgiu um estranho padrão. Cada vez mais instituições financeiras estão se preparando para tomar vantagem da tecnologia, mas poucas estão desenvolvendo seus próprios sistemas a fim de fazê-lo.

Com certeza, o projeto Corda da R3 possui o apoio de um grande consórcio de bancos, porém quantos desses bancos estão prontos para trabalhar com ele?

Apesar de serem bem-vindos, sistemas como esse também ilustram que, pelo menos neste momento, a hipótese do blockchain ainda vai demorar para se concretizar: em vez de remover os intermediários, sistemas acrescentarão outro nível de burocracia e gestão para um sistema já burocrático.

É por isso que tanto os utópicos como os céticos estão errados. Com o investimento de tantas instituições financeiras, é impossível que haja uma queda no futuro próximo. Por outro lado, a ideia de que a tecnologia vai radicalmente mudar a relação pessoal com organizações financeiras também é bem falha.

Se o bitcoin e o blockchain representarem uma mudança disruptiva de poder sobre as finanças corporativas, esse poder resultará em uma nova onda de intermediários: aqueles que já têm especialização na tecnologia e que são capazes de criar sistemas que podem fazer a mediação entre pessoas e corporações. Esses intermediários serão diferentes, mas terão sua parte.

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