Política

Bolsonaro chama embaixadores para atacar processo eleitoral com afirmações falsas

18 jul 2022, 17:47 - atualizado em 18 jul 2022, 19:15
O ataque, no entanto, ocorreu meses antes do pleito e não teve qualquer consequência sobre as eleições daquele ano (Imagem: Flickr/Isac Nóbrega/PR)

O presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) reuniu nesta segunda-feira embaixadores e representantes diplomáticos no Brasil para repetir, agora para um público externo, seus ataques sem provas e já refutados às urnas eletrônicas e ao sistema de votação brasileiro a menos de três meses das eleições.

Em um evento de cerca de 45 minutos no Palácio da Alvorada, com transmissão pela emissora pública TV Brasil, Bolsonaro usou um inquérito da Polícia Federal que investigou uma invasão hacker ao sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2018 como argumento para as alegações infundadas de vulnerabilidades nas urnas eletrônicas.

O ataque, no entanto, ocorreu meses antes do pleito e não teve qualquer consequência sobre as eleições daquele ano.

Aos embaixadores, Bolsonaro disse falsamente que o sistema eleitoral brasileiro é inauditável e atacou novamente os ministros do TSE Roberto Barroso, Edson Fachin e Alexandre de Moraes — respectivamente o ex, o atual e o futuro presidentes do TSE.

“Queremos paz, tranquilidade, então por que um grupo de três pessoas, apenas, querem trazer instabilidade para o nosso país?”, questionou Bolsonaro, que ainda insinuou mais uma vez, sem evidências, haver uma conspiração dos magistrados para eleger o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder nas pesquisas de intenção de voto.

Mais uma vez, Bolsonaro fez questão de destacar que é chefe das Forças Armadas –instituição que foi convidada para acompanhar o pleito pelo TSE na comissão de transparência das eleições–, e afirmou falsamente que nenhum sugestão da instituição teria sido acatada pelo colegiado.

“Temos tempo ainda de resolver este problema com a própria participação das Forças Armadas que foram convidadas pelo próprio Tribunal Superior Eleitoral”, disse ele.

“Por que nos convidaram? Acharam que iam desarmar as Forças Armadas? Jamais as Forças Armadas participariam de uma farsa, seriam moldura de uma fotografia”, questionou.

Em nota, o Palácio do Planalto procurou suavizar o tom de Bolsonaro aos embaixadores, afirmando que o presidente recebeu os diplomatas para “intercâmbio de ideias sobre o processo eleitoral em curso” e que o presidente deseja “aprimorar os padrões de transparência e segurança do processo eleitoral brasileiro”.

O líder da minoria da Câmara dos Deputados, Alencar Braga (PT-SP), informou no Twitter que ele e líderes de partido de oposição vão denunciar Bolsonaro pelo “crime que cometeu ao chamar embaixadores de outras nações para atacar e desacreditar” o sistema eleitoral brasileiro. “E ainda cometeu esse crime usando uma TV pública!”, destacou, sem dar detalhes na postagem.

O presidente do Senado e Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) afirmou em nota que uma “democracia forte se faz com respeito ao contraditório e à divergência”.

“Mas há obviedades e questões superadas, inclusive já assimiladas pela sociedade brasileira, que não mais admitem discussão. A segurança das urnas eletrônicas e a lisura do processo eleitoral não podem mais ser colocadas em dúvida. Não há justa causa e razão para isso. Esses questionamentos são ruins para o Brasil sob todos os aspectos”, afirmou Pacheco na nota.

“O Congresso Nacional, cuja composição foi eleita pelo atual e moderno sistema eleitoral, tem obrigação de afirmar à população que as urnas eletrônicas darão ao país o resultado fiel da vontade do povo, seja qual for”, acrescentou.

Presentes

A expectativa do governo era que cerca de 40 embaixadores de diversos países participassem. Inicialmente, o próprio presidente afirmou que cerca de 50 embaixadores seriam convidados –Brasília tem 127 representações diplomáticas. O governo não divulgou a lista oficial dos presentes.

Entre os presentes estavam previstos o encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos, Douglas Koneff –o país está sem embaixador desde junho de 2021, quando o titular, Todd Chappman, anunciou sua aposentadoria– e também a encarregada da representação da União Europeia, Beatriz Martins, já que o embaixador está de férias. Também havia confirmado presença o embaixador de Portugal, Luís Faro Ramos.

Já a embaixada da Argentina –um dos principais parceiros comerciais do Brasil– disse não ter sido convidada para o encontro. Bolsonaro repetidamente critica o governo argentino, de esquerda.

Também foram convidados o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, e o presidente do TSE, Edson Fachin. Ambos declinaram.

O embaixador da Suíça no Brasil, Pietro Lazzeri, disse no Twitter após o encontro desejar “ao povo brasileiro que as próximas eleições sejam mais uma celebração da democracia e das instituições”.

Bolsonaro afirmou em 2020, durante visita a Miami, pela primeira vez que havia vencido as eleições de 2018 no primeiro turno e que apresentaria provas de fraudes, o que não fez, mesmo tendo sido interpelado judicialmente.

Em outro momento de escalada no ataque ao processo eleitoral, em julho de 2021, o presidente apresentou um suposto “especialista em dados” durante sua live semanal nas redes sociais em que mostrou o que chamou de “indícios” de fraude na totalização dos votos, mas admitiu que não tinha provas. Os “indícios” foram desmentidos.

Até hoje, o presidente não apresentou quaisquer provas das acusações que faz. Ao contrário, ele mesmo repetiu mais de uma vez que não tem provas. Ainda assim, mantém que há riscos de fraude.

Nenhuma eleição feita desde o início do uso das urnas eletrônicas teve indício de fraudes, mas, atrás nas pesquisas eleitorais, Bolsonaro vem questionando a seguranças das urnas, provocando dúvidas em parte da população e incitando reações no caso de resultados que ele não concorde.

(Atualizada às 19:15)

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