Recuperação Judicial

Bombril, Ambipar, Azul: Brasil pode ter recorde de recuperações judiciais em 2025; relembre casos

04 dez 2025, 8:00 - atualizado em 03 dez 2025, 15:32
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(Imagem: Pexels/Ekaterina Bolovtsova)

Em meio ao forte aperto monetário, com a taxa básica de juros em 15% ao ano, o Brasil pode superar 3 mil pedidos de recuperação judicial (RJ) em 2025, segundo levantamento da SWOT Global Consulting divulgado em novembro.

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A projeção considera como principais fatores a combinação de juros altos, crédito restrito e fraqueza do setor agro, que vive uma explosão de pedidos.

Em 2024, o país já bateu o recorde de recuperações judiciais: foram 2.273 pedidos. A projeção da SWOT para 2025 traduz um ambiente no qual crédito caro e prazos travados seguem limitando alternativas extrajudiciais.

Na bolsa, os destaques negativos este ano ficaram por conta de empresas como Bombril (BOBR4) e Ambipar (AMBP3), além dos casos de anos anteriores, que ainda não foram solucionados.

Agro puxa a fila

O agronegócio, tradicional motor da economia brasileira, tornou-se um dos principais focos de tensão neste ano. Dados da Serasa Experian mostram que o setor vem registrando uma escalada inédita de pedidos de recuperação judicial.

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Foram 1.272 requerimentos em 2024, alta de 138% na comparação anual — o maior salto já medido.

Em 2025, o movimento continuou firme. O primeiro trimestre somou 389 pedidos, avanço superior a 20% ante igual período do ano anterior, seguido de um segundo trimestre com 565 solicitações, o maior volume desde o início da série histórica.

A onda de produtores e empresas do agro recorrendo à Justiça reforça o diagnóstico de que parte relevante da cadeia opera sob forte estresse financeiro, ajudando a inflar o total nacional de recuperações projetado para o ano.

Crise na Bombril (BOBR4) 

A companhia de produtos de limpeza formalizou pedido de recuperação judicial em 10 de fevereiro de 2025 perante a 1ª Vara Regional Empresarial de São Paulo.

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Em comunicado divulgado para o mercado na ocasião, a Bombril afirmou que possuía dívidas tributárias no valor de R$ 2,3 bilhões, que podiam comprometer suas operações.

As dívidas tributárias são referentes a autuações da Receita Federal por suposta falta de recolhimento de impostos em operações de aquisição de títulos de dívidas estrangeiras de 1998 a 2001, quando a empresa era administrada pelo grupo italiano Cragnotti & Partners.

A Bombril decidiu entrar com a RJ após receber decisões desfavoráveis da Justiça em relação às dívidas com a Receita. A diretoria da empresa considerou que o risco de perda dos processos representava uma ameaça aos resultados contábeis, expondo a companhia a riscos elevados.

Nesta semana, a justiça de SP homologou oficialmente o plano da companhia. A decisão e a íntegra do plano de reestruturação estão disponíveis no site de relação com investidores da Bombril.

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“Com a homologação do plano, em conjunto com a expectativa de um desfecho futuro favorável da Transação Tributária em curso junto ao Governo Federal, a companhia confia que será possível atingir uma estrutura financeira adequada, que permitirá um novo ciclo de crescimento e desenvolvimento, em benefício da coletividade dos seus credores, investidores e demais interessados”, diz a empresa em comunicado.

Imbróglio na Ambipar (AMBP3)

Em 21 de outubro de 2025, a Ambipar pediu recuperação judicial no Brasil (e falência sob o Chapter 11, nos EUA), citando “irregularidades descobertas” em operações de swap, renúncia abrupta do antigo diretor financeiro e risco de vencimento antecipado de dívidas bilionárias.

Em 30 de outubro, a 3ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro deferiu o pedido de recuperação. Isso marcou o início do período de 180 dias de suspensão de execuções e cobranças (stay period). Durante essa fase, a Ambipar deverá apresentar seu plano de reestruturação, detalhando condições, etapas e cronograma para o equacionamento de suas dívidas.

Apesar das alegações da empresa, as condições que levaram à RJ podem envolver outros aspectos. Um documento interno da própria empresa, ao qual o Seu Dinheiro teve acesso, mostra que um acordo com o Deutsche Bank (DB) — apontado pela Ambipar como origem do colapso financeiro — teve aval do conselho de administração e do CEOTércio Borlenghi Junior.

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Além disso, o documento vai exatamente na contramão do que alega a Ambipar, contradizendo a versão oficial de que o “culpado” pela crise toda seria o ex-diretor financeiro (CFO) João Arruda.

Nesta semana, a companhia confirmou a demissão de 35 diretores e gestores, após identificar “falhas graves na execução das melhores práticas de governança e gestão de riscos”.

Sai Gol (GOLL54), entra Azul (AZUL4)

Com operações internacionais, as companhias aéreas estão entre os casos de empresas que buscaram a recuperação judicial, mas nos Estados Unidos, com o mecanismo legal chamado Chapter 11.

A Gol (GOLL54), que entrou com pedido de Chapter 11 no início de 2024, concluiu o processo em junho de 2025. Com o acordo de reestruturação aceito por credores e nova rodada de financiamentos, a empresa sinaliza a retomada da normalidade operacional.

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O novo planejamento tem como foco a renovação de frota, expansão de rotas domésticas e internacionais e a reconstrução de sua estrutura financeira para tentar recuperar escala pré-pandemia.

A saída do processo representa um alívio para o setor, mas o desafio de restaurar confiança entre credores, fornecedores e investidores permanece, dado o histórico de alavancagem elevada e as tensões acumuladas desde a crise de 2020–2022.

Por sua vez, a Azul (AZUL4) protocolou seu pedido de Chapter 11 em maio de 2025. A aérea firmou os chamados acordos de apoio à reestruturação com seus principais parceiros financeiros, como a AerCap, e as companhias aéreas United e American Airlines.

Segundo falas do CEO John Rodgerson, à época da entrada no processo, a empresa optou por iniciar uma reestruturação financeira voluntária tendo em vista a sobrecarga da pandemia na estrutura de capital, o que se somou à deterioração macroeconômica, trazendo problemas para a cadeia de suprimentos da aviação.

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RJs em anos anteriores

Além de Bombril e Ambipar, o mercado carrega um histórico recente de grandes companhias abertas que recorreram à Justiça para reorganizar suas operações. Entre os casos mais relevantes dos últimos anos estão:

  • Americanas (AMER3): Protagonizou um dos maiores pedidos de RJ da história do país, em janeiro de 2023, após revelar inconsistências contábeis bilionárias. A dívida inicial superava R$ 40 bilhões.
  • Oi (OIBR3): Entrou em RJ pela segunda vez em março de 2023, buscando reorganizar obrigações financeiras e operacionais. A companhia chegou a ter a falência decretada neste ano, mas a Justiça decidiu suspendê-la após recurso de credores.
  • AgroGalaxy (AGXY3): Entrou em recuperação judicial em 2024, em meio à piora do ambiente financeiro do agronegócio e dificuldades de rolagem de dívidas.
  • Marisa (AMAR3): Formalizou seu pedido em 2023, após dificuldades prolongadas no varejo de moda, agravadas por alavancagem e custos financeiros elevados.
  • Gafisa (GFSA3): Solicitou RJ em 2024 diante de forte desequilíbrio de caixa e endividamento relevante.
  • Technos (TECN3): Recorreu à recuperação em 2024, após forte deterioração financeira e perda de mercado no segmento de relógios.

Relembre a lista completa de 2024.

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Repórter estagiário no Money Times, graduando em jornalismo pela Universidade de São Paulo (USP). Cobre empresas, mercados e agronegócio desde 2024.
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