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Bradesco (BBDC4): 4T21 assusta mercado e ações têm forte queda; analistas veem 2022 mais difícil

09 fev 2022, 14:21 - atualizado em 09 fev 2022, 14:45
Bradesco
(Imagem: Rafael Borges/Money Times)

O Bradesco (BBDC4) divulgou seus resultados na noite de terça-feira (8) e deixou os analistas e os seus investidores com um gostinho amargo.

A avaliação, quase unânime, é de que o banco mostrou sinais ruins em algumas linhas. Mas, mais do que isso, as projeções para 2022 indicam um ano difícil.

Os mercados entenderam o recado. Por volta das 13h45, os papéis do Bradesco derretiam mais de 7,8%, liderando as perdas do Ibovespa. Junto com ele, Itaú (ITUB4) e Santander (SANB11) também derrapavam.

O que o mercado não gostou?

Para a XP, o lucro líquido de R$ 6,6 bilhões ficou 4% abaixo das estimativas e 2,7% menor que o esperado. O lucro foi impactado por um ajuste não recorrente de marcação a mercado de TVM que foram reclassificados de “disponíveis para venda” para “negociação”.

A corretora destaca que apesar do reajuste salarial de 11%, as despesas não decorrentes de juros cresceram 9% no ano e 7% no trimestre, para R$ 11,4 bilhões (4% acima das estimativas) impactadas por maiores despesas com propaganda e publicidade.

Além disso, os analistas Renan Manda e Matheus Odaguil, que assinam o relatório, apontam para a baixa qualidade dos resultados, com as provisões crescendo 15% no trimestre e 24% do ano, em grande parte devido ao crescimento da carteira de crédito.

Ademais, o índice de cobertura diminuiu 36 pontos percentuais no trimestre e 142 pontos no ano. Já o índice de inadimplência aumentou 26 pontos-base (bps) no trimestre e 64 bps no ano, aos 2,8%.

“Isso nos leva a acreditar que há mais espaço para provisões nos próximos trimestres”, completa.

A Genial pontua que para reconciliar com os R$ 6,6 bilhões de lucro recorrente, o Bradesco inclui, entre outros, um ajuste de R$ 1,88 bi relacionados a reclassificação de TVM (receita com mercado) da carteira de “disponíveis para venda” para “negociação”. Além disso, houve giro no mercado de instrumentos financeiros, que o banco considerou como não-recorrentes.

“Ou seja, não feito essa reclassificação gerencial, o resultado poderia ter vindo bem pior”, afirma.

Na opinião da corretora, o desempenho mais fraco pode ser atribuído principalmente pela elevação de 27,5% no trimestre das despesas com provisões para crédito duvidoso e por conta da elevação de 6,3% no trimestre das despesas de pessoal.

Já a Ativa classificou o resultado como “misto”, com a receita em linha com as expectativas, mas resultado operacional e lucro líquido abaixo em função de maiores despesas operacionais e tributárias.

“Apesar de ainda em patamares bem acima da série histórica, os indicadores de qualidade de crédito apresentaram deterioração no período”, argumenta o analista Leo Monteiro.

Copo meio cheio

De positivo, Monteiro destaca o crescimento robusto na carteira de crédito e aumento na margem financeira, que superaram as projeções no acumulado do ano.

O UBS lembra que os empréstimos cresceram 5% no trimestre (20% no ano), principalmente impulsionados por pequenas e médias empresas.

“O melhor mix levou a uma ligeira expansão sequencial das margens (aumento de 5,2% no NII no trimestre)”, destaca.

O índice de inadimplência aumentou pouco (20 bps QoQ) para 2,8%, ainda 50 bps abaixo do nível pré-Covid, argumenta.

“Os resultados de seguros continuaram em tendência de alta, aumentando 10% no trimestre, com menores sinistros de Covid e melhores resultados financeiros”, diz.

Já a margem financeira cresceu 8% no trimestre e 1,8%, relacionado ao bom desempenho da margem com clientes.

Bradesco
(Imagem: Renan Dantas/Money Times)

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As projeções do Bradesco para 2022 revelam um crescimento de lucro na faixa de 9,4% ao ano, abaixo do previsto por analistas.

Na avaliação do Santander, o guidance recém-divulgado foi positivo do ponto de vista de receita, mas pressionado por maiores provisões e despesas, “que esperamos resultar em menor crescimento dos lucros em 2022”.

A XP destaca o “robusto crescimento” da carteira de crédito de 10-14% considerando o cenário macroeconômico mais desafiador.

Para a Genial, no entanto, o grande destaque para 2022 deverá ser o segmento de seguros.

“A alíquota efetiva deverá permanecer em linha com 2022, pois apesar do aumento da TLP permitir o maior pagamento de juros sobre capital próprio (JCP), o fim da amortização de ágio compensará os efeitos positivos do benefício fiscal”, completa.

O BTG afirma que o guidance ficou aquém das expectativas, já que o cliente deve crescer menos do que o crescimento dos empréstimos e o investimento deve sentir um pouco mais de pressão.

“Acreditamos que após o dia do investidor no ano passado, as expectativas para a orientação de 2022 foram talvez excessivamente otimistas e, na verdade, decepcionaram, especialmente no cliente NII”, argumenta.

O que fazer com o papel do Bradesco agora?

A equipe de analistas lembra que a pior perspectiva para a margem com mercado e piora mais rápida da inadimplência reduzem o otimismo para o Bradesco para 2022. Porém, com a ação negociando a 7,8 vezes o preço sobre o lucro, o papel está barato.

Monteiro, da Ativa, argumenta que apesar do resultado, o case do Bradesco ainda é bom.

“O atual nível de cobertura do banco e a boa colateralização de sua carteira de crédito devem suportar o aumento na inadimplência ao longo de 2022”, diz.

O UBS sustenta que mesmo com os números mistos do quarto trimestre e o guidance e ligeiramente decepcionante, a ação está barata, mesma visão do Bank of America.

A XP, por outro lado, guarda maior ceticismo, ressaltando a piora do cenário em 2022. A corretora tem recomendação neutra para o papel.

Veja a tabela abaixo:

Corretora Recomendação Preço-alvo
XP Neutra R$ 26
Ativa Compra R$ 25,4
BTG Compra R$ 29
UBS Compra R$ 29
BofA Compra R$ 29
Genial Compra R$ 29,6
Santander Compra R$ 28

 

Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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