Braskem (BRKM5) contra o tempo: contratação de assessores levanta temor de RJ e ações despencam

As ações da Braskem (BRKM5) operam em forte queda nesta sexta-feira (26), após a companhia anunciar que contratou assessores para ajudar na reestruturação do seu capital. Parte do mercado teme que a petroquímica, com isso, opte no curto ou médio prazo por uma recuperação judicial (RJ) ou por uma recuperação extrajudicial (RE).
A movimentação, para especialistas, não traz nenhuma sinalização oficial de que a empresa pretende recorrer à Justiça para evitar pagamentos a credores. No entanto, na situação atual da Braskem, qualquer temor do tipo acaba escalando por conta da atual situação da companhia: em um setor intensivo e em uma situação financeira delicada, ela precisa, no curto prazo, de um novo acionista.
“Essa contratação de assessores, conforme divulgado, hoje é um prenúncio de uma RJ ou de uma RE. Basta pesquisar casos semelhantes”, disse uma fonte com conhecimento da situação financeira da petroquímica controlada pela Novonor (ex-Odebrecht) e Petrobras (PETR4).
Por outro lado, a contratação de assessores pela Braskem não pode ser interpretada de imediato como um indicativo de futuro pedido de recuperação judicial. “O foco declarado da empresa está em mitigar os impactos do setor e fortalecer a competitividade, não em iniciar um processo de RJ”, explica Guilherme Azevedo, advogado da Paschoini Advogados.
Apesar disso, Azevedo menciona que há, sim, uma pressão sobre a estrutura de capital da companhia — mas que pode ser amenizada de forma menos drástica, com renegociações e alongamento de prazos.
A Braskem fechou o segundo trimestre de 2025 (2T25) com uma dívida líquida de US$ 6,8 bilhões e um múltiplo de alavancagem, medida pela sua relação com o Ebtida (Lucros Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização, na sigla em inglês), de 10,59x. Apenas entre abril e junho, a empresa queimou R$ 1,4 bilhão em caixa.
A petroquímica chegou à situação atual após quase nove anos de problemas combinando questões operacionais, financeiras e ambientais. O ponto de partida foi o afundamento do solo em Maceió, que gerou um passivo ambiental bilionário e exigiu um acordo complexo com autoridades e moradores da região.
Tudo isso levou as agências de classificação de risco a rebaixarem suas notas de crédito da Braskem. Há apenas três dias, a S&P rebaixou a nota de crédito da empresa de B+ para BB-, com observação negativa, citando que mesmo a melhora da rentabilidade e preservação da liquidez “não seriam suficientes para reverter a situação no curto prazo”.
Sobra, então, a entrada de um novo acionista.
RJ afastaria potenciais novos investidores da Braskem
Nos últimos tempos, vários investidores tentaram, de alguma forma, comprar a fatia da Braskem pertencente à Novonor, antiga Odebrecht, ou ativos da petroquímica. Lyondell, Unipar, Nelson Tanure e G4 são alguns dos nomes que já se envolveram ou seguem envolvidos em negociações.
No entanto, todas as tentativas, ao menos até então, acabaram frustradas. E a questão é que a possibilidade de uma RJ não tornaria as negociações mais simples.
“Se a situação não se resolver rápido, a Braskem vai perder muito valor. É um setor intensivo de operação. A Petrobras, que é a outra sócia, não está colocando dinheiro, por questões passadas, envolvendo corrupção, por exemplo, ou por estar focando em ativos core”, diz Hugo Queiroz, analista e sócio da L4 Capital. “Se sair uma RJ, quem vai querer comprar esses ativos?”, indaga.
As incertezas jurídicas envolvendo uma RJ levariam a investidores terem ainda mais cautela em relação a um possível aporte. Soma-se a isso, o analista explica, ao fato de a Braskem ter a Petrobras como sócia (devido à burocracia da estatal), a questões políticas, a resultados operacionais ainda fracos e à deterioração dos ativos conforme o tempo passa.
Para o analista, porém, a chance de RJ por enquanto é baixa, devido a diversos interesses envolvidos na Braskem.
“O fato de a Petrobras ter fatia relevante na Braskem dificulta a RJ. Se trata de uma estatal, uma empresa pública, não será um processo simples”, fala Queiroz. “Além disso, um processo do tipo levaria um prejuízo reputacional aos bancos credores, como Caixa e Bradesco, e eles não querem registrar imediatamente esses prejuízos”.
Por fim, para a Novonor, vender sua fatia na Braskem é uma questão de sobrevivência. Sem ela, a holding teria apenas dívidas.
“Apesar da situação, enxergo muito mais um caminho de solução. A Novonor deve vender parte da sua fatia e ficar com outra. Os bancos venderão as suas para um terceiro e, posteriromente esse terceiro capitaliza e tenta recuperar a empresa”, fala o analista.