Caio Mesquita: A estrada é longa
Tenho comentado aqui neste canal sobre a longa e sinuosa estrada dos investimentos. Reforço sempre essa força silenciosa que separa os que acreditam dos que apenas esperam.
A volatilidade natural do mercado, cujo andar bêbado mexe diariamente em nossas carteiras, teima em tirar nossa atenção da construção consistente de riqueza no longo prazo, o único jogo que realmente importa.
O cenário parece mudar o tempo todo. O noticiário, os humores, as apostas. Lá fora, a política errática de Trump tira e devolve confiança quase na mesma velocidade. Uma postagem, uma entrevista, um novo embate, o mercado reage, depois esquece.
Anuncia-se o fim do excepcionalismo americano, o inexorável declínio da supremacia dos Estados Unidos e de sua moeda. E, no meio disso tudo, as empresas seguem entregando bons resultados e a bolsa americana agradece, como se nada tivesse acontecido.
Aqui, não é muito diferente. Os temas se revezam com uma cadência quase previsível.
Antecipamos a discussão eleitoral como se a eleição fosse amanhã e fosse mudar tudo do dia para a noite. A melhora de Lula nas pesquisas, fruto do inesperado rompante nacionalista em resposta ao movimento do governo americano, cobra pedágio e desanima os que contavam com o fim do domínio esquerdista.
Ignora-se o fato de que pesquisas têm um sofrível histórico preditivo, com erros grotescos literalmente às vésperas da votação, e ainda assim tomamos como verdade levantamentos com um ano de antecedência do pleito.
De carona, também vem o fiscal, que some e reaparece como uma ressaca antiga. Sentimos os efeitos, claro, mas o mercado parece alternar a importância do tema conforme o vento.
Essas idas e vindas, lá e cá, são apenas mais curvas na mesma estrada. Mudam os cenários, os atores, os ventos. Mas o caminho, esse, é o mesmo.
A bolsa sobe, cai, respira, volta a subir. O dólar enfraquece, se fortalece, se acomoda. Os juros mudam de tom, mas a lógica permanece. O tempo passa, os gráficos tremem, e quem manteve a disciplina continua colhendo o compounding silencioso que só o longo prazo oferece.
A verdade é que, por trás de tanta oscilação, estruturalmente pouco muda. O que permanece de fato é que o capital, quando bem alocado, é generosamente remunerado, especialmente no Brasil.
O mercado continua sendo esse grande teste de paciência. O investidor impaciente quer entender tudo agora, reagir a tudo, estar sempre certo, mas o dinheiro prefere quem não se mexe tanto.
Em junho escrevi em “Diminuindo o ruído” que é o barulho que tira o investidor da estrada. A cada manchete, uma freada. A cada crise inventada, uma curva desnecessária. E, no fim, o prêmio continua indo para quem consegue seguir, mesmo quando o GPS parece perdido.
Eu mesmo tenho tentado me lembrar disso, semana após semana. De não reagir a cada ruído, de respeitar o tempo, de seguir em frente mesmo quando o caminho parece se repetir. Porque é justamente aí, no trecho mais monótono, mais previsível, que o compounding trabalha. Silencioso, paciente, implacável.
A estrada é longa. E, felizmente, ainda sinuosa o bastante para testar a fé dos impacientes.
Eu sigo nela também, tentando aprender com cada curva.