Opinião

Caio Mesquita: Guerra e paz

26 fev 2022, 12:00 - atualizado em 25 fev 2022, 19:35
Caio Mesquita, Empiricus
“Diferentemente dos plantonistas das redes sociais, o meu dia a dia, assim como deve ser o do leitor, me distrai o suficiente”, diz o colunista (Imagem: Divulgação/Empiricus)

“Generals gathered in their masses

Just like witches at black masses

Evil minds that plot destruction

Sorcerer of death’s construction”

 “War Pigs” – Black Sabbath

Normalmente evito ocupar minha cabeça com temas fora do meu controle.

Minha rotina, típica de alguém de minha idade e ocupação, é tomada por tarefas e desafios cotidianos.

Ser pai, marido e filho é viver constantemente preocupado com o bem-estar daqueles que amamos.

No trabalho, então, enfrento a eterna luta de dar soluções aos problemas que surgem.

Diferentemente dos plantonistas das redes sociais, o meu dia a dia, assim como deve ser o do leitor, me distrai o suficiente.

Na quinta-feira de madrugada, o ruído do noticiário diário transformou-se em sirene. Assim todos, e não tenho como escapar do chamado, ficamos obrigados a olhar seriamente para a Ucrânia.

Até recentemente, como bom brasileiro, minhas referências da Ucrânia iam pouco além de astros do esporte como Andriy Shevchenko e Sergei Bubka, e os times de futebol sempre populados por nossos jogadores, como Dynamo Kiev e Shakhtar Donetsk.

De repente sou cercado por voluntariosos especialistas em geopolítica, todos ávidos por emprestar recomendações de como líderes mundiais deveriam proceder diante do conflito armado.

São os quarterbacks de poltrona, como descreveu Adam Grant no livro “Pense de Novo”. 

Salvo preciosas exceções, há generalizada condenação da atitude russa. Como não se indignar diante das imagens que recebemos em nossas telas?

Muito mais que explosões, tanques e mísseis, somos tocados pela trágica dimensão humana da guerra. Indignados, automaticamente apontamos o culpado e Putin tem todo o physique du rôle de vilão.

Uma breve pesquisa sobre a situação revela que sua complexidade dificulta conclusões açodadas.

Um texto do ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger escrito em 2014, à época da invasão da Crimeia, joga luz sobre a questão.

Aos que pensam que a história da ligação entre Rússia e Ucrânia iniciou-se com a formação da União Soviética, o velho diplomata nos ensina sobre a Rússia de Quieve (Kievan-Rus), uma confederação de tribos eslavas que habitavam, durante a Idade Média, os territórios atualmente ocupados pela Rússia europeia, Ucrânia e Bielorússia.

Desde então, os caminhos de ambos os países se confundem. Os russos nunca perceberam, por séculos antes de Putin, a Ucrânia como um país estrangeiro.

Posto isso, torna-se natural a imensa dificuldade da Rússia em topar a ocidentalização da Ucrânia, simbolizada nos seus insistentes flertes com a Otan.

A primeira reação dos mercados diante da invasão foi amplamente negativa. As Bolsas amanheceram na quinta-feira com quedas importantes. Houve derretimento generalizado em cripto. Por outro lado, o petróleo e ativos de proteção como o ouro, a prata e os Treasuries americanos registravam fortes altas.

Todavia, a invasão russa, amplamente especulada e aguardada desde o início do ano, passa longe de ser um cisne negro de Nassim Taleb, ou seja, um evento raro e inesperado, com profundo impacto nos mercados.

Trazendo ainda Taleb, há de se lembrar da sua “X não é f(X)”, onde X é a realidade e f(X) é o nosso portfólio. Assim, apesar de a realidade impactar os mercados, eles não são a mesma coisa.

Ao longo da quinta-feira, os mercados não só viraram, mas viraram muito. A Nasdaq, apenas para dar um exemplo, passou de uma queda de 4% para um alta de 3%, sua maior reversão desde março de 2020, quando os mercados enfrentavam a chegada da Covid.

 

CEO da Empiricus e Presidente da Acta Holding
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