Economia

Cão que ladra não morde? Veja o contra-ataque de Lula sobre manutenção da Selic em 13,75%

04 maio 2023, 11:08 - atualizado em 04 maio 2023, 11:08
Lula, Varejo, Selic
Desde que assumiu o poder, Lula vem criticando a política monetária, alegando que a Selic está atrapalhando a recuperação da economia e o mercado de crédito. (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

O cabo de guerra entre o governo e o Banco Central sobre a taxa de juros ganhou um novo capítulo: ontem, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa Selic em 13,75% ao ano, mesmo com a pressão de Brasília.

A autoridade monetária até tentou dar uma leve aliviada no comunicado ao dizer que “apesar de ser um cenário menos provável, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.”

O detalhe está no “menos provável”. Até então, o Banco Central era mais enfático ao dizer que poderia voltar a subir a taxa se fosse necessário.

No entanto, o fato é: a Selic segue em 13,75%. Trata-se do maior patamar da taxa básica de juros desde janeiro de 2017, onde está estacionada desde agosto.

Desde que assumiu o poder, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem criticando a política monetária, alegando que os juros altos estão atrapalhando a recuperação da economia e o mercado de crédito. Lula chegou até a ameaçar a autonomia do Banco Central.

As alas políticas e econômicas do governo também começaram a agir. Para não desgastar a imagem de Lula com o mercado, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, assumiu o papel de bater o Banco Central. Logo após a reunião do Copom, a deputada associou a condução da política monetária feita pelo BC ao desemprego e à falência de empresas. “A vacina sempre esteve ao alcance do Copom, mas insistem nos juros genocidas. Até quando ficarão impunes?”, escreveu.

Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, assumiu o papel de conciliador. Ele busca manter uma relação harmoniosa com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e correu contra o tempo para entregar o novo arcabouço fiscal, sinalizando que o governo tem compromisso com a responsabilidade fiscal.

Cartas na manga de Lula

Até agora, Lula nada fez além de falar mais alto. Isso porque não tem poder para isso. Por lei, o Banco Central é autônomo e tem direito a seguir a sua política monetária sem interferências do governo. Além disso, o mandato de Campos Neto termina apenas no final de 2024 – e só o Senado pode tirar ele do cargo antes desta data.

No entanto, o governo tem duas cartas na manga que podem ajudar na revisão da taxa de juros.

A primeira é a recomposição da diretoria do BC. Em fevereiro, acabou o mandato do diretor Bruno Serra, de Política Monetária e considerado braço direito de Campos Neto. Também acabou o tempo de Paulo Souza, diretor de Fiscalização.

A expectativa gira em torno de se Lula optará por nomes técnicos, de carreira do BC, ou se vai seguir por um lado político e colocar nomes com a mesma visão econômica do governo para ter pessoas defendendo cortes na Selic.

Quatro nomes são avaliados para a cadeira de diretor de Política Monetária. São eles:

  • Igor Rocha
    Economista-chefe da Fiesp, tem doutorado em Desenvolvimento Econômico pela Universidade de Cambridge e é visto como um contraponto ao presidente do Banco Central em relação à taxa Selic.
  • Marcello Negro
    É assessor especial da Secretaria-Executiva do Ministério da Fazenda e foi diretor do banco Fator, onde o secretário Gabriel Galípolo foi presidente.
  • Paulo Gala
    Economista-chefe do Banco Master e é doutor em Economia pela Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV). Ele também é professor na instituição onde fez o doutorado.
  • Rodolfo Fróes
    É formado em administração pela PUC-Rio e tem pós em gestão por Harvard. Trabalhou no Bank of America (BofA), no banco Fator, entre outros.

Já a cadeira de diretor de Fiscalização deve ficar com Rodrigo Monteiro, um servidor de carreira do Banco Central.

Outra carta na manga é a meta de inflação. Lá em janeiro, Lula criticou que a taxa básica de juros estava muito alta, enquanto a meta de inflação era muito baixa.

“Você estabeleceu uma meta de inflação de 3,7% [a meta estipulada para 2023 é de 3,25%] e quando faz isso é obrigado a arrochar mais a economia para poder atingir a meta. Por que não 4,5%, como nós fizemos?”, disse Lula no dia 18 de janeiro.

O assunto esquentou com a proximidade da primeira reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), o grupo que bate o martelo das metas, mas acabou sendo deixado de lado. O motivo é que, tradicionalmente, a reunião que define as metas dos próximos anos e revê as metas já criada acontece em junho.

Por mais que Campos Neto faça parte do CMN, é o governo quem decide que inflação deve seguir e Haddad já chegou a comentar as entrevistas que estava estudando o debate das metas. Ou seja, o governo pode elevar a meta de inflação tentando forçar uma redução na Selic.

A próxima reunião do CMN está marcada para 29 de junho, enquanto o Copom se reúne nos dias 20 e 21 de junho.

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Formada em Jornalismo pela PUC-SP, tem especialização em Jornalismo Internacional. Atua como editora-chefe no Money Times e já trabalhou nas redações do InfoMoney, Você S/A, Você RH, Olhar Digital e Editora Trip.
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