Política

Carlos Alberto França tenta descolar imagem de Ernesto Araújo em posse no Itamaraty

06 abr 2021, 13:11 - atualizado em 06 abr 2021, 13:11
Carlos Alberto França, ministro das Relações Exteriores
Herança complicada: França mencionou Araújo apenas uma vez em discurso de posse (Imagem: Divulgação/ Itamaraty)

Em seu primeiro discurso como ministro das Relações Exteriores, o embaixador Carlos Alberto França deixou claras as diferenças que devem marcar sua gestão daquela de seu antecessor, Ernesto Araújo, ao defender o engajamento do Brasil em cooperação internacional “sem exclusões” e “sem preferências”.

França, que era chefe do cerimonial da Presidência desde 2018, período em que se tornou próximo ao presidente Jair Bolsonaro, foi nomeado na semana passada para substituir Araújo depois que a situação do ex-chanceler, ligado à ala ideológica do governo, se tornou insustentável.

A transmissão de cargo, na manhã desta terça-feira (6), no Palácio do Planalto, foi fechada e sem transmissão. No discurso, distribuído depois pelo Itamaraty, França ressaltou as três emergências que o Brasil e o mundo enfrentam no momento: de saúde, com a pandemia, econômica e do desenvolvimento sustentável.

Ao tratar da pandemia, França afirmou que irá intensificar a ação do Itamaraty em busca de vacinas e trabalhar em conjunto com outros ministérios e o Congresso.

Cooperação internacional

“Meu compromisso, enfim, é engajar o Brasil em intenso esforço de cooperação internacional, sem exclusões. E abrir novos caminhos de atuação diplomática, sem preferências desta ou daquela natureza”, afirmou.

Ao contrário de Ernesto, ao falar dos desafios econômicos que o país precisa enfrentar, França defendeu a inserção brasileira nas cadeias globais de comércio.

“Não há modernização sem mais comércio e investimentos, sem maior e melhor integração às cadeias globais de valor – daí o significado da nossa pauta de negociações comerciais”, disse.

Meio ambiente

Sobre a questão climática, o novo chanceler disse que não é, neste momento, a maior urgência, mas a colocou como uma das prioridades. Ainda assim, defendeu a posição brasileira como um país que tem uma produção de energia das mais limpas do mundo e um código florestal rígido.

“Não se trata de negar os desafios, que obviamente persistem. O fato é que o Brasil, em matéria de desenvolvimento sustentável, está na coluna das soluções”, afirmou.

No entanto, foi na defesa aberta do diálogo com todas as nações que França se distanciou de Araújo. O ex-chanceler, que em seus pouco mais de dois anos se notabilizou por excluir parceiros e adotar as brigas com países como a China, maior parceiro comercial brasileiro, foi citado apenas uma vez por França, que o agradeceu pela transição.

Em mais de uma ocasião, o novo chanceler deixou claro que “diálogo é essencial” e lembrou que esse é trabalho básico dos diplomatas e que o país sempre participou ativamente das mesas internacionais de negociações.

Diálogo amplo

“Foi assim que aprendi, no Itamaraty, a entender o ofício do diplomata: um construtor de pontes”, afirmou.

No Itamaraty, o discurso de França foi bem recebido pela posição marcadamente diversa de Araújo e a promessa de um período menos turbulento.

Desde que assumiu, há uma semana, França manteve a discrição que é sua principal característica, de acordo com colegas, e começou a organizar uma equipe experiente e sem ligação com o grupo ideológico que comandava a diplomacia com Araújo.

Em seu primeiro dia depois da nomeação, França chamou para ser seu secretário-geral o embaixador Fernando Simas Magalhães, hoje representante do Brasil na Organização dos Estados Americanos e um dos nomes mais experientes do Itamaraty.

Nomes ligados fortemente a Araújo devem ir para o exterior ou ocupar cargos administrativos na estrutura do ministério, de acordo com uma fonte ouvida pela Reuters.

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