Comprar ou vender?

Casamento entre Braskem (BRKM5) e árabes pode ser infeliz, diz Bradesco BBI

08 maio 2023, 16:30 - atualizado em 08 maio 2023, 17:56
Braskem
O BBI observa que a Petrobras vender sua participação na Braskem é quase impossível (Imagem: REUTERS/Christopher Pike)

A Braskem (BRKM5) voltou ao centro do noticiário após receber uma proposta da estatal árabe Abu Dhabi National Oil Company (Adnoc) para comprar a participação da Novonor, antiga Odebrecht, na companhia.

Atualmente, a Novonor detém 50,1% do capital votante da empresa. Os outros 36,1% são da Petrobras (PETR4). E aí que mora o problema, diz o Bradesco BBI em relatório enviado a clientes no último domingo.

Com o título “A fábula do menino que gritou Braskem vai ser comprada!: pode acontecer desta vez? “, em alusão à história “O Pastor Mentiroso e o Lobo”, os analistas lembram no documento que desde 2019, quando a Odebrecht passava por dificuldades financeiras devido à Operação Lava Jato, especula-se sobre o eventual comprador da sua participação.

“Desta vez, no entanto, o fato de a notícia mencionar a Adnoc como um potencial comprador acrescentou um pouco de tempero e credibilidade a este potencial evento”, discorrem os analistas Vicente Falanga e Gustavo Sadka.

Eles recordam que as autoridades do governo brasileiro fecharam recentemente um acordo com a Mubadala para expandir a refinaria de Mataripe, na Bahia, mostrando alguns laços com os Emirados Árabes Unidos.

Além disso, discorrem, a Apollo, gestora que possui participação da Braskem, poderia aparentemente fazer parceria com a Adnoc (parceira estratégica) para evitar o potencial rebaixamento do rating da empresa.

Entretando, o BBI observa que a Petrobras vender sua participação na Braskem é quase impossível.  A corretora também questiona se pagar R$ 47 por ação, como alguma fontes sugerem, seriam alto demais para os riscos.

“Na nossa visão, nós parece um prêmio excessivamente alto para um casamento que pode não ser feliz”, coloca.

O Bradesco reiterou a recomendação neutra para o papel, com preço-alvo de US$ 13.

Para jogar luz na aquisição, o Bradesco separou cenários. Junto com eles, traçou a possibilidade de cada um ocorrer e o que joga contra e a favor. Veja a seguir:

Cenário 1: A Petrobras vende as suas ações na Braskem

Os analistas lembram que de acordo com o parágrafo 4º do Capítulo III do Estatuto Social da Braskem, todas as ações da companhia têm 100% de tag along em caso de mudança de controle.

O tag long é um mecanismo que busca proteger os acionistas minoritário de aquisições hostis. Por exemplo, se o tag long da companhia é de 100%, o minoritário tem direito a 100% da oferta.

Qual a chance de isso acontecer, segundo BBI? 0%

O que joga a favor? Sob este governo, o BBI não consegue ver seu incentivo para a Petrobras sair totalmente da Braskem.

O que joga contra? A “má impressão” do Brasil entregando seu setor petroquímico a players internacionais, especialmente financeiros.

(Imagem: Andre Coelho/Bloomberg)

Cenário 2: A Petrobras compra as ações da Novonor

Falanga e Sadka ressaltam que o estatuto social da companhia estabelece que na hipótese de um dos participantes do acordo de acionistas alienar suas ações, a contraparte possui direitos de tag along e de preferência (ROFR). Ou seja, a Petrobras seria a primeira da fila na lista das possíveis compradoras.

“Nesse resultado, assumimos que a estatal exerce seu ROFR e, de acordo com o parágrafo 11 do Capítulo 3 do estatuto social da Braskem, a Petrobras precisaria estender 80% dos direitos de tag along aos acionistas com ações ordinárias, mas nada para os acionistas preferenciais”, dizem.

Qual a chance de isso acontecer, segundo BBI? 60%

O que joga a favor?  Ao comprar a participação da Novonor, a Petrobras passaria a controlar integralmente a Braskem, evitando vender o controle da empresa para um player financeiro internacional. A estatal poderia traçar seus planos para a petroquímica, o que provavelmente envolveria mais investimentos do que dividendos.

O que joga contra? A Petrobras tem se mostrado disposta a formar parcerias com players internacionais em diversos setores, como eólico offshore e hidrogênio. Ao fazer parceria com a ADNOC e a Apollo, a empresa pode obter muita experiência de players que sabem como operar crackers à base de gás e ajudar a desenvolver o mercado de gás natural do Brasil aumentando a demanda.

Cenário 3: A Petrobras não vende sua participação

Os analistas recordam que conforme mencionado anteriormente, de acordo com o parágrafo 4º do Capítulo III do Estatuto Social da Braskem, todas as ações da companhia têm 100% de tag along em caso de mudança de controle.

“Entendemos que, caso a Petrobras mantenha sua participação atual, o comprador precisará estender o preço pago aos acionistas minoritários. Pela lei, a Novonor é a acionista controladora da Braskem, portanto, a saída da Novonor caracterizaria mudança de controle”, afirmam.

Qual a chance de isso acontecer, segundo BBI? 30%

O que joga a favor, segundo BBI? Na perspectiva da Petrobras, ela teria parceiros especializados no desenvolvimento de petroquímicos. Do ponto de vista do comprador, seria uma parceria com o maior fornecedor de matéria-prima do Brasil (incluindo gás natural), o que poderia facilitar a competitividade da Braskem. Do ponto de vista dos minoritários, obteria o direito de tag along, sem ter que incorrer em ações judiciais. Poderia ser um casamento feliz para todos.

O que joga contra? Embora o comprador controle a Braskem, com 7 das 11 cadeiras do conselho (sendo 6 independentes) e as decisões devam ser tomadas por maioria de votos, pontos de divergência podem surgir.

“Como a Braskem está listada no Nível 1 da Bovespa, os conselheiros podem realizar reuniões com os acionistas para alinhar votos antes das reuniões do conselho. Isso pode tornar o controle total mais complicado, resultando em abstenções, conflitos registrados em atas ou até mesmo litígios”, diz.

Portanto, completa, se a Apollo e a ADNOC estão dispostas a fazer parceria com a Petrobras, é melhor que estejam extremamente alinhadas em termos de alocação de capital e outras questões importantes, como fornecimento de matéria-prima.

“A nosso ver, pagar R$ 46/sh para potencialmente ter um casamento complicado não faz muito sentido. Um preço mais baixo poderia fazer mais sentido. Apressar-se nesse casamento tornaria tudo ainda pior, especialmente se o acidente em Alagoas trouxer mais responsabilidades para a Braskem”, coloca.

Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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