CEO da Frimesa lista desafios do leite no Brasil e cita ditado: ‘Quem não gosta do genro dá um laticínio para ele tocar’

Em meio à pressão dos importados e aos altos custos da produção nacional, o CEO da Frimesa, Elias José Zydek, vê no leite um campo de batalha desafiador — mas também cheio de oportunidades. À frente da cooperativa paranaense que já é gigante na suinocultura e tenta crescer no mercado lácteo, ele conversou com o Money Times sobre os entraves que impedem o Brasil de ser competitivo no setor e revelou a estratégia da empresa para driblar as adversidades: apostar em nichos de alto valor agregado.
Apesar de se destacar muito mais na suinocultura — setor em que é a quarta maior do Brasil, atrás da Seara (JBS), Aurora e BRF (BRFS3), e líder no Paraná —, a Frimesa aposta em agregar valor no segmento de leite, mirando nichos de mercado com produtos diferenciados, aproveitando sua ampla capilaridade nacional. Atualmente, o leite representa 25% do faturamento da companhia; os outros 75% vêm da cadeia de suínos e seus derivados.
“O Brasil ainda não é competitivo na cadeia do leite. Os nossos vizinhos, Argentina e Uruguai, produzem leite no campo em torno de US$ 0,38, enquanto nós produzimos a US$ 0,50. Por isso, somos um importador de derivados lácteos, e o que compete com a produção interna são os preços baixos de importação”, afirma Zydek.
Por ser membro do Mercosul, O Brasil não aplica tarifas, taxas ou impostos sobre produtos originários do bloco. “Com isso, o varejo brasileiro se abastece de derivados desses países. No caso do leite em pó, por exemplo, o grande produtor é a Nova Zelândia, que, assim como países asiáticos, consegue embarcar produtos aqui. São fatores que minam nossa competitividade em custos”, disse.
O que falta ao Brasil para ser mais competitivo no leite?
Segundo Zydek, o principal gargalo está na gestão dos recursos disponíveis nas propriedades. A Argentina e Uruguai, por exemplo, têm solo e clima favoráveis para a produção de leite a pasto, em que o próprio animal busca a alimentação no campo. Isso reduz o custo.
“É o leite que a gente chama de produzido a pasto. Esse é o principal fator que baixa o custo. Por aqui, no momento que vamos para confinamento, para automação de processo, naturalmente o custo vai ser bem maior. Temos que produzir o alimento, colher o alimento, processar e distribuir para o animal. Neste modelo de produção é que está a nossa desvantagem competitiva”.
Para o executivo, o país precisa adaptar a produção ao modelo de pasto para competir com os vizinhos, principalmente quando o assunto são as barreiras comerciais impostas por países como os Estados Unidos. “Infelizmente, eles estão perto. Se estivéssemos distantes, a logística nos ajudaria. E na ponta, no varejo, também não podemos simplesmente aplicar uma tarifa de 50% nos produtos que entram aqui”.
Zydek ainda ironizou as dificuldades do setor: “Existe um ditado: ‘o dono de laticínios que não gosta do genro dá uma fábrica para ele tocar’. É muito difícil trabalhar com leite. Se você olhar a história do Brasil, quantas grandes empresas quebraram? Quantas estão em dificuldade? É um setor em constante transformação, com fusões, aquisições e reestruturações. É só lembrar da Parmalat, que tinha um porte gigantesco — e quebrou”.