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Chile pode enfrentar nova onda de protestos em meio à pandemia

25 maio 2020, 15:05 - atualizado em 25 maio 2020, 15:05
Chile Protestos América Latina
O colapso de hospitais no país pode reacender a agitação social, vista em outubro do ano passado (Imagem: Unsplash/@gcoppa)

O governo do Chile trava uma batalha para controlar o surto de coronavírus que leva hospitais ao colapso e pode reacender a agitação social.

Com população de apenas 18 milhões, o Chile tem registrado novos casos de Covid-19 em ritmo comparável ao da Espanha no auge da propagação do vírus em março numa base per capita, e os recursos estão quase no limite na economia mais rica da América Latina.

Na capital Santiago, 95% dos leitos de terapia intensiva estão ocupados. Pacientes hospitalizados são transportados de avião para outras partes do país. Além do dilema de saúde pública, a crise atual destaca a desigualdade e serviços públicos precários que levaram milhões de manifestantes às ruas em outubro do ano passado.

“O coronavírus está testando o sistema de saúde do Chile, que já é deficiente”, disse o médico José Miguel Bernucci, secretário nacional da associação de profissionais médicos do Chile, em mensagem por WhatsApp. “É outro sintoma das deficiências da sociedade chilena.”

O presidente do Chile, Sebastián Piñera, disse a repórteres no domingo que o sistema de saúde está sob muita pressão e “quase atingindo o limite.”

O país ainda se recuperava da onda de distúrbios contra o governo do ano passado quando a pandemia surgiu, e agora Piñera se encontra em situação delicada. Com a agitação social ainda recente na memória, autoridades andam na corda bamba em meio às medidas de isolamento em Santiago para diminuir a propagação do vírus, correndo o risco de provocar mais descontentamento.

Sebastian Piñera
O presidente do Chile, Sebastián Piñera, disse a repórteres no domingo que o sistema de saúde está sob muita pressão e “quase atingindo o limite” (Imagem: Facebook/Sebastián Piñera)

“A quarentena é uma ferramenta que tem muitos efeitos adversos, como fome, miséria, agitação social e aumento da violência doméstica”, disse o ministro da Saúde, Jaime Manalich, durante conferência de imprensa em 21 de maio, quando se opôs a um confinamento nacional. “Você precisa usá-lo com cuidado e pesar os danos que produz contra os benefícios.”

Quarentenas dinâmicas

Há um mês, a estratégia chilena de quarentenas dinâmicas – que limitavam o movimento em bairros específicos em vez de distritos inteiros – parecia estar funcionando. Estabelecimentos como shoppings planejavam reabrir e, no final de abril, Piñera anunciou a intenção de autorizar a abertura de escolas e escritórios, sinalizando que o pior já havia passado.

Mas, desde então, o número de novos casos de vírus aumentou de 500 por dia para mais de 4 mil por dia. O governo do Chile registrou recorde de 4.895 novos casos na segunda-feira, atingindo total de 73.997, enquanto as mortes aumentaram de 43 para 761, segundo dados do Ministério da Saúde.

Reprovação

A boa notícia é que a situação não é tão grave fora de Santiago. Algumas partes do norte e do sul do Chile usaram apenas 50% da capacidade hospitalar. Centenas de respiradores ainda estão disponíveis em todo o país, segundo dados do Ministério da Saúde, e planos estão em andamento para adicionar 500 novos leitos.

Mas pesquisas sugerem que esses pontos positivos ainda ficam abaixo das expectativas para a maioria dos cidadãos. Quase dois terços da população desaprova a maneira como o governo Piñera está administrando a crise de coronavírus, segundo pesquisa realizada nos dias 13 e 14 de maio pela Cadem.