Coluna Robert Lawrence Kuhn

China: Como país pode enfrentar desafios econômicos?

16 out 2023, 14:34 - atualizado em 16 out 2023, 14:34
China Economia
A China não está promovendo uma injeção maciça de recursos no sistema financeiro. Então, como o país vai enfrentar a desaceleração econômica? (Foto: glaborde7/ Pixabay)

Relatos recentes na imprensa internacional apontam a economia chinesa em “má forma”, com muitos se perguntando o que aconteceu com o “milagre chinês”. Porém, trata-se de uma visão míope do Ocidente, em especial, sobre as recentes medidas do governo chinês, que foram adotadas para reforçar a atividade da China no curto prazo, de modo que beneficie e não sacrifique o crescimento no longo prazo.

Essa reflexão requer, inicialmente, levar em conta os desafios no horizonte. É importante notar que a economia chinesa está em desaceleração, depois de não ter alcançado a esperada “retomada” após o fim das medidas contra a covid-19.

A atividade industrial tem se contraído ao mesmo tempo em que os preços ao produtor (PPI) têm caído. Há também uma baixa confiança do consumidor e, portanto, menos gastos. Ou seja, as pessoas estão preocupadas com o futuro e esperam que os preços caiam ainda mais antes de voltarem a consumir.

Mais que isso, o desemprego entre os jovens atingiu níveis recordes, em um momento em que a população chinesa está envelhecendo e encolhendo. Ao mesmo tempo, a demanda externa caiu, enquanto as tensões internacionais aumentaram.

Além disso, o mercado imobiliário está com problemas há algum tempo, sendo que o setor representa cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) da China; é o ativo fundamental para o setor financeiro, bem como uma importante fonte de receita para os governos locais.

Aliás, as dívidas das províncias chinesas somam mais de US$ 9,3 bilhões, segundo estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI). Trata-se de um valor que equivale à cerca de metade de todo o PIB chinês. Portanto, o investimento em ativos fixos está se tornando menos produtivo, ao passo que o investimento produtivo direto (IDP) das empresas estrangeiras na China despencou.

O que fazer?

Diante disso, a dúvida que fica é: como o governo chinês está enfrentando esses desafios? Para responder a essa pergunta, a primeira coisa é dizer o que os líderes chineses não estão fazendo.

A China não está promovendo uma injeção maciça de recursos no sistema financeiro, de modo a estimular de forma generalizada a economia real, tal como fez na crise de 2008, quando anunciou um robusto pacote fiscal de estímulo, da ordem de US$ 600 bilhões – à época, correspondente a pouco mais de 10% do PIB chinês.

As lideranças chinesas sabem que os benefícios de curto prazo de tal medida não compensam o custo nem o aumento da dívida no longo prazo, bem como a queda na produtividade. Além disso, o presidente Xi Jinping enfatiza a importância do desenvolvimento de alta qualidade, que não pode ser alcançado com dinheiro rápido.

Assim, para a China, nenhum estímulo massivo é um bom sinal. Por isso, o que o governo chinês vem fazendo é elaborar medidas de ajustes direcionadas.

Entre elas, estão:

  • redução das taxas de juros;
  • apoio às empresas do setor privado no acesso a fontes de financiamento;
  • subsídios aos consumidores na compra de bens de consumo, como eletrodomésticos e móveis;
  • ajuda na compra de carros novos, especialmente veículos de energias renováveis, como os carros elétricos (EVs);
  • flexibilização nas restrições à compra de imóveis;
  • renovação urbana e revitalização das áreas rurais;
  • redução do imposto sobre negociações de ações – e a lista continua.

Uma abordagem inovadora consiste em fazer com que os governos locais atuem como venture capitalists, assumindo o risco ao tomar participações minoritárias em empresas privadas, cujo êxito seria criar empregos nas respectivas áreas.

A cidade de Hefei, na província de Anhui, por exemplo, transformou-se em uma grande metrópole, em parte, fazendo investimentos em negócios relacionados à ciência – como o BOE Technology Group, agora líder mundial como fabricante de telas LCD.

O insight sobre a China

O resultado final dessa reflexão é que não existe uma política perfeita, nem uma solução mágica. Muitas medidas específicas e direcionadas adotadas pelo governo chinês estão sendo testadas e monitoradas, o que permite corrigir o curso quando necessário, buscando sempre otimizar e melhorar o resultado almejado ao mesmo tempo em que se reconhece que as condições estão sempre mudando.

Um recente salto surpreendente nas vendas no varejo e na produção industrial da China, conforme apontaram os recentes indicadores econômicos de setembro, é algo encorajador. Porém, é sempre imprudente fazer projeções de longo prazo com base em resultados de curto prazo.

Este é apenas o primeiro de uma série de oito reflexões sobre a economia da China. Semana que vem tem mais!

Renomado especialista em China, estrategista corporativo internacional e banqueiro de investimentos que assessora corporações multinacionais sobre estratégias e negócios na China. Foi premiado com a “Medalha da Amizade da Reforma da China” do Presidente Xi Jinping, sendo um dos apenas dez estrangeiros homenageados por suas contribuições ao longo de 40 anos da Chin. Autor do livro “Como os Líderes Chineses Pensam”, publicado no Brasil pela Autonomia Literária.
Renomado especialista em China, estrategista corporativo internacional e banqueiro de investimentos que assessora corporações multinacionais sobre estratégias e negócios na China. Foi premiado com a “Medalha da Amizade da Reforma da China” do Presidente Xi Jinping, sendo um dos apenas dez estrangeiros homenageados por suas contribuições ao longo de 40 anos da Chin. Autor do livro “Como os Líderes Chineses Pensam”, publicado no Brasil pela Autonomia Literária.
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