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Claudia Mancini: blockchain nas empresas não tem nada a ver com Bitcoin

08 mar 2020, 15:44 - atualizado em 11 mar 2020, 9:51
Confira o primeiro texto de Claudia Mancini, nossa nova colunista mensal, neste Dia Internacional das Mulheres (Imagem: Freepik)

Hoje é minha estreia neste espaço. Meu objetivo aqui é mostrar como a tecnologia blockchain, muitas vezes só associada a Bitcoin, pode mudar o mundo em que vivemos, indo muito além das moedas criptografadas.

Isso porque blockchain está sendo usada por empresas e governos, em busca de mais eficiência e transparência, e por instituições que desenvolvem projetos de inclusão social.

Você pode nem saber, mas já pode ter comprado um serviço ou produto em que pelo menos um dado tenha sido colocado numa rede blockchain.

O Brasil está um pouco atrás de outros países, como os Estados Unidos, além de países dos continentes europeu e asiático, mas já há casos muito interessantes aqui.

Antes de tudo, é bom relembrar que o termo “blockchain” apareceu após a divulgação do white paper “Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System”, em 2008, escrito pelo misterioso Satoshi Nakamoto (ou misteriosos, porque o bitcoin pode ter sido inventado por um grupo de pessoas).

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O documento “Bitcoin: um sistema de dinheiro eletrônico de pessoas para pessoas” foi publicado em 2008, dando início a todo o universo cripto que conhecemos hoje (Imagem: Unsplash/@cliffordgatewood)

O termo não é usado no documento para definir a tecnologia. O curioso é que “bitcoin”, que gerou o estardalhaço das criptomoedas, só aparece duas vezes: no título e num site que o documento cita.

Mas esse foi o termo encontrado para classificar a tecnologia sugerida de um banco de dados distribuído entre os participantes de uma rede — em que todos têm acesso às informações —, com transações diretas entre os participantes, sem intermediários, com o uso de várias tecnologias, inclusive criptografia, e que permite o registro dos dados em blocos que se conectam.

Uma vez registrada, a informação não pode ser mudada.

O que Nakamoto sugeriu é uma rede apermissionada (permissionless), aberta a quem quiser participar. Porém, as empresas viram que isso também poderia ser aplicado no mundo corporativo.

O sistema financeiro saiu na frente e encabeça a maioria dos projetos. Governos e instituições sociais também começaram a olhar para a tecnologia.

E disso nasceram as redes permissionadas (permissioned), ou seja, fechadas, em que um grupo de participantes se une para usar blockchain, trocarem dados e fazerem transações. É principalmente sobre elas que eu vou tratar aqui.

Blockchain é uma rede apermissionada, aberta a quem quiser participar, em que, uma vez registrada, a informação não pode ser alterada (Imagem: Pixabay/Megan_Rexazin)

Há uma controvérsia se isso é blockchain ou registro distribuído (DLT, na sigla em inglês) mas, sobre isso, vou falar nas próximas semanas.

Acontece que, ao longo dos anos, blockchain ficou muito associada e muitas vezes confundida com bitcoin. Com a série de fraudes envolvendo gestores de bitcoins, a tecnologia virou sinônimo de encrenca para muita gente. Ainda há empresas que se arrepiam quando alguém sugere o uso de blockchain em um processo interno e nem querem experimentar.

Em relação aos governos, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) está convidando, para um estudo, quem desenvolveu projetos em blockchain a fim de medir os resultados e acabar, ou confirmar, o ceticismo que muitos deles têm sobre a tecnologia.

Blockchain não serve para tudo. É preciso entender qual é o problema e verificar se é essa tecnologia que pode resolvê-lo. Se for, blockchain pode fazer coisas incríveis, ainda mais quando associada a outras soluções.

Deve ser considerada num pacote de tecnologias porque empresas devem pensar qual transformação digital precisam fazer em seus negócios para estarem vivas daqui a cinco, dez, vinte anos.

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Empresas precisam implementar tecnologias que facilitem processos burocráticos e que podem reduzir seus custos operacionais; blockchain é uma boa pedida (Imagem: Pixabay/geralt)

Diversos casos de uso de blockchain em redes fechadas são associados à Internet das Coisas (IoT), como o uso de sensores em produtos para conectá-los à internet, mandando dados em tempo real para serem analisados.

Daí se tomam as devidas ações: os dados podem ser colocados numa rede blockchain para o compartilhamento e armazenagem de forma imutável.

A Oracle considera que blockchain faz parte das cinco tecnologias que estão transformando o mundo.

Para dar um exemplo, a empresa associou blockchain com IoT num projeto de uma rede varejista para garantir o transporte correto de produtos.

Isso evita que transportadores mudem de rota com a carga, fazendo outras entregas, além de não terem os caminhões refrigerados na temperatura certa, o que pode acarretar na entrega de produtos impróprios para o consumo.

Assim, foram cortados custos desnecessários, conforme declarou Paulo Guiné, diretor executivo de Novos Negócios para a Oracle América Latina, a esta coluna.

Outro caso da Oracle foi implantar um sistema que permitiu o rastreamento da cadeia de distribuição e manutenção de peças de uma empresa de energia para registrar os dados sobre essa peça e o seu trânsito. Vai que some no caminho ou que vai uma peça e volte outra no lugar?

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Blockchain fornece infinitas possibilidades para que empresas e governos gerem empregos e renda para seus cidadãos e facilitem processos muitas vezes custosos e sem credibilidade (Imagem: Pixabay/Tumisu)

Segundo o executivo, na América do Sul, a transformação digital está se destacando na parte operacional das empresas, como na distribuição e armazenagem, e em áreas ligadas à receita, como na experiência do consumidor.

Olhando os casos de uso de blockchain, é importante ir além do que se vê em ganhos de receitas, redução de custos e tempo. Aqui, estamos falando também de criar, no Brasil, um ambiente de negócios e de serviços governamentais que tragam mais credibilidade para o que produzimos, vendemos e oferecemos aos cidadãos.

A credibilidade que blockchain ajuda a emergir pode contribuir também em investimentos e com eles, gerar emprego e renda. Como diz o Paulo, as empresas que têm essa percepção são as que saem na frente.

É sempre bom lembrar que as novas gerações vão cobrar muito mais transparência e sustentabilidade de empresas e governos. Tecnologias como blockchain podem ajudá-los a conseguir isso. É só querer fazer melhor.

Em abril, vamos continuar falando da tecnologia no meu artigo mensal.

Claudia Mancini é jornalista e cientista política, especializada em economia e negócios. É fundadora e editora-chefe do site Blocknews, focado na cobertura do uso de blockchain em empresas, governos e projetos sociais. Passou a estudar e cobrir a tecnologia ao ver os benefícios que pode gerar em eficiência, transparência e inclusão social. É membro do Womcy (Women in Cybersecurity), acompanhando a ligação entre segurança cibernética e blockchain. Segue também a evolução das outras tecnologias da 4ª Revolução Industrial, como Internet das Coisas (IoC) e Inteligência Artificial (IA).

Jornalista e cientista política, especializada em economia e negócios. É fundadora e editora-chefe do site Blocknews, focado na cobertura do uso de blockchain em empresas, governos e projetos sociais. Passou a estudar e cobrir a tecnologia ao ver os benefícios que pode gerar em eficiência, transparência e inclusão social. É membro do Womcy (Women in Cybersecurity), acompanhando a ligação entre segurança cibernética e blockchain. Segue também a evolução das outras tecnologias da 4ª Revolução Industrial, como Internet das Coisas (IoC) e Inteligência Artificial (IA).
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Jornalista e cientista política, especializada em economia e negócios. É fundadora e editora-chefe do site Blocknews, focado na cobertura do uso de blockchain em empresas, governos e projetos sociais. Passou a estudar e cobrir a tecnologia ao ver os benefícios que pode gerar em eficiência, transparência e inclusão social. É membro do Womcy (Women in Cybersecurity), acompanhando a ligação entre segurança cibernética e blockchain. Segue também a evolução das outras tecnologias da 4ª Revolução Industrial, como Internet das Coisas (IoC) e Inteligência Artificial (IA).
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