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CNN Brasil muda de novo e ganha novo chairman: por que ninguém para no canal?

07 nov 2022, 11:00 - atualizado em 07 nov 2022, 11:29
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(Imagem: Divulgação)

A CNN Brasil, que está próxima do seu terceiro aniversário (que ocorrerá em março de 2023), acaba de ganhar um novo chairman: João Carlos Camargo. Ele assume como presidente executivo do conselho, ocupando o cargo de Rubens Menin, que segue como acionista, mas se afastará dos assuntos do cotidiano do canal.

Camargo é um nome forte da área de mídia e também é CEO do Grupo Esfera, organização que reúne empresários e empreendedores para estimular debates entre empresas, governos e instituições.

Com sua chegada, Renata Afonso, atual CEO, perde força – já que se reportará a Camargo e não mais diretamente a Menin. Renata, que por sua vez, está na casa desde maio do ano passado em substituição ao então todo poderoso Douglas Tavolaro.

Com pouco tempo no ar, a CNN Brasil ainda não se estabilizou. Por que ninguém para na emissora? Por que tantas mudanças em sua alta cúpula?

A CNN Brasil tem ao menos três grandes problemas estruturais, os quais podem explicar as recorrentes mudanças em seu comando.

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Alto custo de investimento sem encontrar um lugar ao sol

A CNN Brasil foi lançada em março de 2020 com grandes investimentos.

Um time de grife foi montado, tendo Evaristo Costa, Monalisa Perrone, William Waack e Reinaldo Gottino como principais nomes e outros conhecidos como Cris Dias, Mari Palma, Phelipe Siani, Tais Lopes, Cassius Zeilmann, Daniel Adjuto, Daniela Lima etc. Poucos meses depois, Carla Vilhena, Gloria Vanique, Alexandre Garcia e Marcio Gomes passaram a reforçar o time.

Dessa lista de 15 nomes, oito já não estão mais na casa (entre pedidos de demissão e demissões). Ainda que com uma constelação de nomes conhecidos, praticamente não houve impacto na audiência. A CNN Brasil era cara e pouco vista. Hoje é mais barata, mas segue pouco vista.

A CNN Brasil tinha como objetivo tirar público da Globo News, mas sua preocupação passou a ser outra: vencer a Jovem Pan News, criada há apenas um ano com custo de operação infinitamente inferior.

Ao se posicionar politicamente à direita, a JP News rapidamente caiu nas graças dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro e de seus aliados.

Resumidamente: a CNN Brasil tem dificuldades para convencer o telespectador da Globo News de mudar de canal e não atrai quem se identifica politicamente com a direita, pois a JP News passou a absorver esse perfil.

Fraco posicionamento no digital

A CNN Brasil tem uma presença tímida no mundo digital, ainda que tenha sido a primeira rede de televisão brasileira nascida na era do streaming. A situação já foi pior, mas ainda está aquém dos seus concorrentes.

A Jovem Pan News, que surgiu um ano e meio após a CNN Brasil, conta com 6,5 milhões de inscritos em seu canal no YouTube. A CNN Brasil, por sua vez, tem apenas 3,5 milhões. Enquanto um programa como o “Headline News”, na faixa das 22h, chega a ter 20 mil pessoas acompanhando, o “Agora CNN” não ultrapassa os 3 mil.

O plano de lançamento do CNN Brasil +, um serviço de streaming, também ficou na promessa. A ideia era ter uma espécie de Globoplay, com a alocação de produtos para serem vistos on-demand por um valor fixo.

O projeto não saiu do papel. Nem mesmo nos Estados Unidos a CNN teve êxito nessa empreitada: o CNN+ durou apenas um mês, ainda que tenha consumido milhões de dólares de investimentos.

Mesmo tendo presença muito mais forte no YouTube que a CNN Brasil, a Jovem Pan também leva vantagem nesse quesito: o Panflix, que é gratuito, foi lançado um mês após a CNN Brasil e reúne todo o conteúdo produzido tanto na rádio como na TV.

TV por assinatura em queda

O derretimento da TV paga é um fenômeno sem volta e que atinge todo o mundo.

No Brasil, foi ainda mais acelerado por conta da crise econômica, que obrigou que as famílias cortassem gastos supérfluos. A modalidade de entretenimento, que chegou a ter 20 milhões de clientes em 2015, atualmente não passa de 13.

Essa base impacta diretamente a receita dos canais, que são adquiridos pelas operadoras de TV paga por centavos ou poucos reais para cada assinante. Se o número de assinantes cai, o valor que as emissoras recebem se torna menor.

Diferente da Globo News, que tem o suporte dos Canais Globo (um conglomerado de emissoras como GNT, Multishow, Canal Brasil etc), o que facilita na negociação, a CNN Brasil está sozinha.

Para quem opera na TV paga, a receita por assinante é mandatória, relegando a segundo plano o caixa publicitário.

A CNN Brasil nunca publicou os valores para anunciar em sua programação, mas a Globo News já, portanto, pode ser usada como parâmetro: 30 segundos no horário nobre do canal de notícias da família Marinho, sem descontos, custam cerca de R$ 18 mil.

Na madrugada, o valor é de apenas R$ 1,3 mil. Pouco para se manter uma estrutura tão robusta, complexa e onerosa.

O que se esperar da CNN Brasil?

Espera-se um ano de 2023 mais tranquilo para a CNN Brasil, como para todo o país. A emissora entrou no ar junto com a pandemia.

Neste ano, quando a doença perdeu força graças à vacinação, o período eleitoral concentrou as atenções do público. Ainda temos uma Copa do Mundo pela frente.

2023 deverá ser o primeiro ano ‘normal’ – se é possível assim dizer – da CNN Brasil. Haverá a possibilidade de a emissora conseguir se estabilizar a partir de um posicionamento firme e sólido junto ao telespectador e a uma reorganização interna, que passa por uma gestão financeiramente saudável e que possa justificar sua perenidade.

Porém, dificilmente esse objetivo será alcançado sem que haja estratégias eficazes para solucionar, ou ao menos mitigar, os problemas aqui listados.

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João Gabriel Batista é publicitário, com pós-graduação em Marketing and Sales na Escola de Negócios Saint Paul e MBA em Gestão Empresarial pela FGV. Tem 30 anos e atua com marketing há 11, com passagens por veículos de comunicação, como emissora de TV, rádio e jornal, e multinacionais do segmento de telecom.
joao.gabriel@moneytimes.com.br
João Gabriel Batista é publicitário, com pós-graduação em Marketing and Sales na Escola de Negócios Saint Paul e MBA em Gestão Empresarial pela FGV. Tem 30 anos e atua com marketing há 11, com passagens por veículos de comunicação, como emissora de TV, rádio e jornal, e multinacionais do segmento de telecom.