Economia

Com BC vigilante na inflação, ajuste em desalinhamento do real prosseguirá via câmbio nominal, diz FGV

03 fev 2022, 16:47 - atualizado em 03 fev 2022, 16:47
Banco Central
Isso mostra que o investidor voltou a olhar para Brasil (Imagem: Banco Central/Antônio Cruz)

A correção no desalinhamento cambial vista ao longo de janeiro era questão de tempo e se o Banco Central seguir determinado a “apagar o incêndio” da inflação o ajuste continuará via taxa de câmbio nominal, disse Emerson Marçal, coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada da Escola de Economia de São Paulo da FGV (FGV-EESP).

Em termos nominais, o real apreciou 5% ante o dólar em janeiro, um dos melhores desempenhos no mundo. Conseguiu, assim, amenizar o desalinhamento em relação à taxa de câmbio real considerada “justa”, segundo modelos da FGV.

Em dezembro de 2021, esse “gap” médio ficou em 26,3%, um pouco melhor do que em novembro (-27,8%). Em 2021, a diferença média ficou desfavorável ao câmbio em 21,2%, piorando em relação ao desalinhamento médio negativo de 17,8% de 2020, ano do estouro da pandemia. Ambos os valores estão entre os piores em 40 anos.

“Em janeiro corrigiu um pouco. Não se justificava esse tamanho, era realmente algo que precisava ser explicado, sobretudo pela persistência desse nível de desalinhamento”, disse Marçal. “Não tem nada em termos de fundamento ou perspectiva que justificasse esse descasamento tão grande”, completou, sem dar detalhes sobre qual seria a nova taxa de desalinhamento, que leva em conta ainda inflação, PIB e outros indicadores.

“A correção vai acontecer de qualquer jeito. A dúvida é se é por inflação ou se por câmbio nominal. O BC tem sugerido que vai agir de forma a apagar o incêndio inflacionário. […] Nesse caso, haveria espaço para o câmbio nominal apreciar”, disse.

O retorno do fluxo ao Brasil é parte de um movimento que tem beneficiado emergentes em geral, mas o pesquisador da FGV ponderou que no passado recente o país havia ficado de fora da lista de destinos da abundante liquidez global dos últimos anos.

“Isso mostra que o investidor voltou a olhar para Brasil. Se as coisas aqui ficarem menos conturbadas, ambiente político mais calmo, e o novo governo manter a racionalidade em termos de política econômica, então o câmbio de equilíbrio vai ficar abaixo de 5 reais”, disse.

Marçal faz um paralelo com 2002, quando o dólar bateu um então recorde de 4 reais, em meio a tensões com a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e depois valorizou-se conforme o mercado passou a embutir expectativa de um governo mais pragmático.

O dólar nominal era cotado a 5,2912 reais às 16h17 (de Brasília) nesta quinta-feira.

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