Análise Macro

Com PIB forte e inflação resiliente, economia brasileira cresce no 1T25, mas acende alertas para o segundo semestre

26 maio 2025, 13:41 - atualizado em 26 maio 2025, 13:42
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(Imagem: iStock.com/RafaPress)

Veja os indicadores econômicos que serão destaques entre os dias 26 de maio a 1º de junho, com projeções e comentário do economista André Galhardo.

PIB brasileiro deve registrar forte crescimento da economia no primeiro trimestre do ano

Um crescimento significativo do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no primeiro trimestre de 2025 não será surpreendente, tendo em vista os efeitos positivos do agronegócio e seus desdobramentos sobre os setores de serviços e indústria. Os principais indicadores antecedentes corroboram essa avaliação. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) e o Monitor do PIB da Fundação Getúlio Vargas (FGV) apontam para crescimentos na margem de 1,3% e 1,6%, respectivamente, com destaque para a forte contribuição do mês de março na composição do resultado trimestral. Esse desempenho sugere a possibilidade de manutenção de um ritmo sólido de expansão também no segundo trimestre. Contudo, a trajetória da atividade deve ser monitorada com cautela, uma vez que os indicadores mais recentes de abril e maio já sinalizam alguma moderação, indicando possível perda de ritmo à frente. O PIB do primeiro trimestre será divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísica (IBGE) na próxima sexta-feira (30).

Dados de abril devem sinalizar melhora consistente nas condições do mercado de trabalho 

Superado o efeito sazonal que tipicamente eleva a taxa de desocupação no início do ano, a taxa de desemprego apurada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) deve recuar para 6,9% no trimestre móvel encerrado em abril. Essa tendência deverá ser reforçada pelos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que devem apontar para a criação líquida de aproximadamente 244 mil postos de trabalho com carteira assinada. O desempenho do mercado de trabalho reflete a trajetória favorável da atividade econômica nas últimas semanas, impulsionada pelos efeitos de segunda ordem do agronegócio sobre os setores de serviços e indústria. O Caged será divulgado na próxima quarta-feira (28), e no dia seguinte, dia 29, sai a Pnad Contínua.

Novo movimento deflacionário renova expectativas de descompressão dos preços ao consumidor nos próximos meses 

A acentuada queda nos preços das commodities agrícolas e minerais no Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) tem sido o principal vetor dessa dinâmica, abrindo espaço para a deflação registrada na segunda prévia do índice, que apontou recuo de 0,32% — a maior deflação nessa base de comparação em 15 meses. O comportamento recente do câmbio e a retração nos preços de insumos com forte peso no IPA-M (Índice de Preços ao Produtor Amplo – Mercado) sustentam a projeção de nova queda do IGP-M na margem (-0,47%). Nossa expectativa é de continuidade dessa trajetória de alívio nos preços ao produtor, com potenciais efeitos de segunda ordem sobre o varejo. O mercado deve manter especial atenção à evolução dos custos com mão de obra na construção civil, que renovaram máximas em 12 meses, atingindo o maior patamar em cerca de oito anos. Esse movimento tem sido interpretado como um possível reflexo do aquecimento da atividade econômica e um risco relevante para a trajetória dos núcleos de inflação. O IGP-M de maio será divulgado pela FGV na quinta-feira (29).

IPCA-15 deve confirmar quadro de inflação ainda disseminado e contínua deterioração dos indicadores qualitativos de preços 

A deflação observada nos IGPs permanece restrita aos elos iniciais da cadeia produtiva, sem sinais claros de repasse aos preços ao consumidor. Nosso cenário base indica que a prévia da inflação oficial deve registrar alta de 0,41% em maio, evidenciando não apenas a persistência, mas também o agravamento dos componentes estruturais do processo inflacionário — com destaque para o índice de difusão e para as medidas de inflação subjacente. Diante desse cenário, e considerando nossa avaliação de que o ciclo de aperto monetário foi encerrado com a Selic em 14,75%, a combinação entre resiliência da atividade econômica e rigidez dos núcleos de inflação deve levar o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central a manter a taxa básica de juros inalterada ao longo de 2025, com possibilidade de início de um ciclo de afrouxamento apenas em 2026. O IBGE divulga o IPCA-15 nesta terça-feira (27).

Apesar do ruído recente provocado pelo anúncio de aumento do IOF, os dados fiscais continuam a sinalizar compromisso com o novo arcabouço fiscal 

A expectativa é de que o Tesouro Nacional reporte um superávit primário próximo de R$11 bilhões em abril, em linha com o resultado observado no mesmo período de 2024. As projeções de mercado indicam, inclusive, a possibilidade de o Governo Central registrar déficit primário zero no acumulado em 12 meses — reflexo, em grande parte, do controle mais rigoroso sobre a trajetória das despesas ao longo de 2025. Embora os riscos fiscais a partir de 2027 sigam no radar, os resultados fiscais desde o último trimestre de 2024 têm sido satisfatórios e coerentes com o esforço da equipe econômica em preservar a credibilidade do novo regime fiscal. Os números serão anunciados na próxima sexta (30).

Segunda leitura do PIB norte-americano deve manter a contração de 0,3% registrada na primeira prévia 

Parte relevante da queda refletiu o avanço das importações, impulsionado pela antecipação de compras em meio à guerra comercial. Por outro lado, os dados mais recentes — especialmente os de mercado de trabalho e varejo — mostram que a economia segue em um ritmo acima do desejado pelo Federal Reserve (Fed). Nesse contexto, a autoridade monetária norte-americana deve manter uma postura mais cautelosa – inclusive na ata da última reunião de política monetária, a ser divulgada nesta semana – evitando cortes prematuros nos juros, enquanto avalia o verdadeiro impacto das tarifas sobre inflação e atividade. O PIB dos Estados Unidos sai na próxima quinta (29), um dia depois da divulgação da ata do Fomc.

PMIs de maio devem funcionar como um termômetro para a economia chinesa 

Os dados sobre a economia na China serão importantes para medir a efetividade das recentes medidas de estímulo implementadas por Pequim — em especial, os cortes de juros e a redução do compulsório bancário. Até aqui, a resposta da economia tem sido tímida: a demanda interna segue fraca, e os dados de crédito mostraram forte desaceleração em abril. Caso os PMIs industriais e de serviços voltem a sinalizar estagnação, o governo chinês poderá ser levado a adotar novas medidas de estímulo, sobretudo se quiser reverter a percepção de que o crescimento está aquém do desejado. A leitura de maio, portanto, pode ser decisiva para calibrar expectativas sobre o ritmo de crescimento da segunda maior economia do mundo. Os dados serão divulgados na noite da próxima sexta (30).

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Consultor Econômico da plataforma Remessa Online
Professor e mestre em Economia Política, Galhardo também é economista-chefe da consultoria Análise Econômica, coordenador e professor universitário nos cursos de Ciências Econômicas, Administração e Relações Internacionais e Mestre em Economia Política pela PUC-SP. Ele possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, com passagens pelo setor público
andre.galhardo@autor.www.moneytimes.com.br
Professor e mestre em Economia Política, Galhardo também é economista-chefe da consultoria Análise Econômica, coordenador e professor universitário nos cursos de Ciências Econômicas, Administração e Relações Internacionais e Mestre em Economia Política pela PUC-SP. Ele possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, com passagens pelo setor público