ImóvelTimes

Como a Eternit se reergueu ao deixar o amianto? Veja entrevista com o CEO

14 abr 2021, 16:28 - atualizado em 14 abr 2021, 21:33
Luís Augusto Barbosa_presidente do Grupo Eternit
Luís Augusto Barbosa, presidente da Eternit (Imagem: Divulgação/Eternit)

A Eternit (ETER3) está terminando o processo de reestruturação e entrando em um ciclo de crescimento, afirmou Luís Augusto Barbosa, CEO da companhia, ao Money Times.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Para uma empresa que usou por 80 anos o amianto como principal matéria-prima, ter que reformular toda a estrutura de negócio colocou a Eternit em uma posição financeira delicada. Quando percebeu que o banimento da fibra natural era um processo irreversível, a companhia se viu obrigada a converter suas fábricas e pensar em novas maneiras de seguir em atividade.

Foi em 2017 que a Eternit iniciou a reestruturação das suas linhas de negócio. Com uma nova diretoria, o grupo anunciou que deixaria o amianto de lado, fechou uma fábrica e converteu as demais para uso de fibras sintéticas.

Barbosa comentou que a companhia passou por um momento financeiro difícil para suportar a mudança.

“Teve um custo muito grande”, disse o executivo. “Implicou em mudança de processo, perdas de produtividade, de rentabilidade… Nós sabíamos que isso traria momentos financeiros difíceis para a empresa”.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Em 2018, a Eternit entrou com um pedido de recuperação judicial e deu início ao período de desinvestimento em caixas d’água, metais sanitários e louças sanitárias, negócios que não davam muito lucro ao grupo, para focar exclusivamente em coberturas.

Além da mudança operacional, também foi feita na mesma época uma reforma administrativa para adequar a empresa à nova realidade.

O conjunto dessas medidas permitiu que a Eternit voltasse a dar lucro no ano passado, quando registrou ganhos de R$ 158,7 milhões (contra prejuízo de R$ 12,6 milhões em 2019).

Agora, perto de encerrar o processo de recuperação judicial, a companhia está dedicada em seu novo projeto de telhas fotovoltaicas.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Mercado renovável

Projeto-piloto com telhas fotovoltaicas em imóvel localizado na Praia da Baleia (Imagem: Divulgação/Eternit)

A companhia está nas etapas finais de desenvolvimento das telhas de concreto da Tégula Solar, uma das marcas do grupo, e a previsão é de que o produto seja liberado para comercialização já no segundo semestre deste ano.

De acordo com Barbosa, a intenção de produzir telhas solares partiu da ideia de agregar algum tipo de valor à cobertura.

“A ideia era realmente fazer uma telha capaz de captar energia solar. Pegamos nossa telha, exatamente como ela é, e aplicamos uma célula fotovoltaica nela”, explicou.

A companhia já está produzindo as telhas solares em uma unidade piloto em Atibaia, onde está a fábrica da Tégula. Há também projetos-piloto instalados em residências localizadas em três estados (Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro) para testar climas diferentes e identificar possíveis problemas.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

“São aplicações que estamos monitorando, acompanhando a produção da energia, a resistência, quais são os problemas de instalação, de transporte…”, disse o presidente do grupo.

Focadas em residências, pequenos comércios e indústrias e agronegócio, as telhas têm garantia de 20 anos e a vantagem de serem 20% mais baratas do que a opção tradicional. Além disso, o processo de instalação é mais simples, e há ainda o apelo estético.

“A gente tem um produto bastante promissor”, destacou Barbosa. “O percentual da energia solar na matriz energética brasileira é mínimo ainda, cresce a taxas muito interessantes e tem um valor agregado muito maior do que a telha que a gente está acostumado a vender. Então, é um produto disruptivo para o mercado e também para a Eternit”.

Além da Tégula, a companhia está com outro projeto em desenvolvimento: a telha solar de fibrocimento, que leva o nome de Eternit Solar. As telhas de fibrocimento estão um estágio atrás das telhas da Tégula, na fase de serem homologadas no Inmetro.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A Eternit também tem interesse em desenvolver produtos no segmento de captação de água. O projeto não andou na mesma velocidade que a captação de energia solar, mas é uma via com potencial para ser explorada pela empresa.

Acessibilidade

Além do segmento de residências de alto padrão, a Eternit tem projetos voltados à energia renovável em casas populares (Imagem: Divulgação/Eternit)

Segundo Barbosa, produtos ligados à captação de energia solar estão ficando mais baratos e, consequentemente, mais acessíveis.

O executivo afirmou que hoje em dia existe uma iniciativa muito grande para dar mais acesso à energia solar. As distribuidoras contam com programas de incentivo e os agentes financeiros têm linhas de financiamento com taxas mais atrativas. Se antes o retorno de investimento para esse tipo de produto era de dez anos, agora podem ser encontrados no mercado projetos com três a cinco anos de payback – como deve ser o caso da telha fotovoltaica da Eternit.

Além do segmento de residências de alto padrão, a Eternit tem projetos voltados à energia renovável em casas populares.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Barbosa contou que construtoras ligadas a grandes canteiros de obras, como MRV (MRVE3), Pacaembu e RNI (RDNI3), usam as telhas da companhia para diminuir o retrabalho e ganhar eficiência no tempo de construção.

“Na licitação, o governo tem pedido que essas casas já venham com iniciativas de energia limpa. É uma casa que está sendo vendida muito barato e que está usando uma telha nossa”, reforçou o CEO.

Planos de expansão

Uma das principais metas da Eternit no momento é ganhar participação de mercado por meio da expansão geográfica. 

A companhia anunciou no fim do mês passado uma oferta vinculante para a compra da fabricante de telhas de fibrocimento Confibra, localizada em Hortolândia, interior de São Paulo. 

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Barbosa disse que colocar uma fábrica em São Paulo, região onde se concentra o maior mercado consumidor do produto no país, pareceu menos interessante do que buscar uma oportunidade de aquisição. No entanto, para áreas sem capacidade instalada suficiente, o grupo quer construir fábricas novas. 

“A telha é um produto de baixo valor agregado, pesado. O frete impacta muito na margem. Então, tem lugares que caberão fábricas novas. A gente está pensando em greenfields (áreas construídas do zero). Não temos ainda o local definido, mas também devemos partir em breve de iniciativas de fábricas novas”, concluiu o executivo.

Compartilhar

Editora-assistente
Formada em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atua como editora-assistente do Money Times há pouco mais de três anos cobrindo ações, finanças e investimentos. Antes do Money Times, era colaboradora na revista de Arquitetura, Urbanismo, Construção e Design de interiores Casa & Mercado.
diana.cheng@moneytimes.com.br
Formada em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atua como editora-assistente do Money Times há pouco mais de três anos cobrindo ações, finanças e investimentos. Antes do Money Times, era colaboradora na revista de Arquitetura, Urbanismo, Construção e Design de interiores Casa & Mercado.