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Como monetizar plataformas de open source

02 maio 2025, 11:00 - atualizado em 27 abr 2025, 15:01
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A monetização de software Open Source não é apenas viável — ela é necessária. (Imagem: Pixabay/ slimbook)

Nas duas últimas colunas, falei das transformações que a Inteligência Artificial vem provocando no mercado de software — e de como esse movimento tem reacendido o interesse por modelos de desenvolvimento colaborativo, especialmente o Open Source.

Como o próprio nome indica, trata-se de um modelo de distribuição baseado em código aberto, que promove transparência, inovação e cooperação entre desenvolvedores e empresas.

Uma das perguntas que mais recebo é: dado que o Open Source é uma forma de distribuição em que o código está publico e pode ser consumido por qualquer agente, como é possível monetizar o modelo?

Muitas pessoas ainda associam “código aberto” a algo “gratuito”, quando, na verdade, o conceito central do Open Source é autonomia — e não gratuidade. O diagrama abaixo mostra como uma plataforma de código aberto pode ser ampliada, monetizada e sustentada por uma série de elementos complementares ao seu redor.

Esse núcleo — o projeto de código aberto em si — pode ser uma ferramenta de dados, automação, infraestrutura, observabilidade, entre outras. A monetização surge da combinação desse núcleo técnico com produtos, serviços e licenças que geram valor adicional.

Veja como monetizar o open source

Professional Services

Oferecer serviços profissionais relacionados ao software — como consultoria, integração, treinamento e suporte técnico — é uma das maneiras mais diretas de monetização.

Um dos exemplos que mais gosto é o da Siemens com a RedHat: a empresa alemã enfrentava o desafio de operar em ambientes altamente distribuídos e complexos dada sua operação global. Com a adoção dos produtos e consultoria da RedHat, passou a automatizar deploys e atualizações, incorporou práticas DevOps, e o mais importante: fomentou uma cultura interna de inovação.

Os resultados incluíram uma governança centralizada da infraestrutura, maior agilidade na entrega de novos serviços, redução de erros operacionais e eficiência operacional em escala global.

Licenciamento Enterprise

Esse modelo permite distribuir o software sob dois formatos: uma licença aberta (frequentemente com restrições ao uso comercial) e outra voltada a empresas que desejam utilizá-lo de forma mais ampla, com funcionalidades adicionais.

Um exemplo é o ledger open source da empresa brasileira Lerian. Clientes que buscam uma solução gratuita podem optar pela versão Community, que permite o download e a instalação do código em infraestrutura própria. Já aqueles que necessitam de suporte 24×7 e acesso a funcionalidades avançadas — como conciliação automatizada e autenticação robusta — podem adquirir a licença no modelo Enterprise.

Certificações e Treinamentos

Muitas empresas estão dispostas a pagar por cursos, treinamentos e certificações oficiais de softwares open source, especialmente quando há escassez de profissionais especializados. A RedHat por exemplo gera receita oferecendo certificações para Kubernetes, Linux, entre outros.

Marketplaces e Conectores Pago

Softwares que suportam plug-ins ou integrações podem se transformar em plataformas extensíveis, com ecossistemas comerciais vibrantes.

O caso mais conhecido é o WordPress: gratuito na essência, mas base de uma economia que movimenta bilhões de dólares.

Temas premium, plug-ins pagos e serviços como customização, hospedagem e manutenção geram receita tanto para desenvolvedores independentes quanto para empresas especializadas.

Hoje, há um verdadeiro mercado em torno dessa plataforma. Temas premium oferecem layouts e designs profissionais, acompanhados de suporte técnico e atualizações constantes. Plug-ins pagos adicionam funcionalidades avançadas como SEO, segurança, automação de marketing, integração com plataformas de e-commerce, CRMs e muito mais.

Além de produtos digitais, desenvolvedores e agências especializadas também comercializam serviços complementares — como customização de sites, hospedagem gerenciada, suporte técnico e manutenção contínua. Essa combinação de tecnologia aberta com um ecossistema comercial ativo transformou o WordPress em um case exemplar de monetização sustentável no universo Open Source.

A monetização de software Open Source não é apenas viável — ela é necessária. Projetos sustentáveis são aqueles que conseguem evoluir continuamente, atrair contribuidores, manter sua comunidade ativa e beneficiar usuários por muitos anos. O segredo está em gerar valor real, respeitando os princípios da comunidade. Ao equilibrar liberdade de uso com modelos de negócio bem desenhados, é possível transformar um projeto Open Source em um case de sucesso — técnico, financeiro e ético.

Os números mostram a força desse movimento: o mercado global de software Open Source deve ultrapassar 100 bilhões de dólares até 2032, com um crescimento anual médio de 18% segundo a Market Research Future, uma empresa de pesquisa global. Além disso:

  • 96% das aplicações modernas utilizam componentes de código aberto;
  • A Automattic, dona do WordPress.com, é avaliada em mais de US$ 7 bilhões, com parte significativa da receita vindo de serviços baseados em software Open Source;
  • O ecossistema de plug-ins e temas do WordPress movimenta mais de US$ 1 bilhão por ano, segundo estimativas do WP Engine;
  • A Red Hat foi adquirida pela IBM por 34 bilhões de dólares em 2019, na maior aquisição da história da empresa;
  • O GitHub, principal repositório de projetos Open Source do mundo, ultrapassou 100 milhões de desenvolvedores cadastrados em 2023.

O Open Source não é apenas uma filosofia de desenvolvimento. É também um modelo de inovação e de negócios com impacto global.

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Cofounder & CBPO da Lerian, uma startup que desenvolve soluções financeiras open-source. Especialista em finanças e economia com bacharelado em economia pela Universidade Federal de Santa Catarina (2010); intercâmbio bilateral em Ciências Econômicas e Empresariais na University of A Coruña (2010); MBA em Gestão de Comércio Exterior e Negócios Internacionais pela Fundação Getulio Vargas (2012); MBA Executiva de Economia pela ExxonMobil Business Academy (2014); Mestre em Administração de Negócios pela Coppead UFRJ (2016) e Business Dynamics pela MIT Sloan School of Management. Atua desde 2014 no mercado financeiro e aborda temas como Banking as a Service, Open Banking, embedded finance, PIX, moedas digitais, finanças descentralizadas, fintechs, empreendedorismo feminino, entre outros.
marilyn.hahn@moneytimes.com.br
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