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Como o Bitcoin (BTC) pode se tornar um novo sistema financeiro mundial?

05 jul 2022, 14:50 - atualizado em 06 jul 2022, 13:12
Diego Gutierrez Zaldivar Bitcoin (BTC)
“Acredito que devemos permitir a interoperabilidade entre sidechains de uma forma ‘trustless’, e parar de adicionar atualizações na rede principal. Deixar o Bitcoin ser o que ele é: o blockchain mais seguro e descentralizado no mundo. (Imagem: Forbes Summit/Reprodução)

Diego Gutierrez Zaldivar é o co-criador da rede RSK, primeira sidechain com capacidade de contrato inteligente na rede do Bitcoin (BTC) e a plataforma IoV Labs, ou Rootstock (RIF), plataforma de finanças descentralizadas construída em cima da sidechain RSK.

Ele também ajudou a fundar a ONG Bitcoin Argentina, com mais de 5000 membros registrados nos encontros locais e 30.000 membros em sua comunidade on-line, e o primeiro Bitcoin Center na América Latina.

Presidente e co-fundador da ONG Bitcoin Latam, onde ajudou a criar uma rede de comunidades Bitcoin com presença em 9 países da região e a mais antiga Conferência Bitcoin do mundo.

Para ele, o Bitcoin (BTC) é uma importante ferramenta para democratizar um novo sistema financeiro mundial. Entretanto, apenas o Bitcoin não é suficiente para mudar a vida de pessoas de baixa renda em comunidades, segundo diz.

Zaldivar comenta que é necessário a criação de um ecossistema de finanças descentralizadas (DeFi) apoiado na rede principal do Bitcoin que pode fornecer empréstimos aos mais necessitados.

Em conversa com o Crypto Times, Zaldivar explica como foi a criação da primeira sidechain – blockchain paralela – da rede do Bitcoin com capacidade de executar contratos inteligentes. Confira a entrevista na íntegra:

Como começou nesse mercado? Quando foi que conheceu o Bitcoin (BTC)?

Minha trajetória no mercado começou mesmo em 2012 com o Bitcoin, logo após um amigo meu me colocar novamente nesse espaço.

Porque na realidade, eu tive contato com bitcoin em 2011, mas, como gosto de dizer, “eu não entendi o que realmente era.”

Um ano depois, esse grande amigo meu me trouxe de volta. Nós fizemos um experimento. Ele estava no Vale do Silício e eu em Buenos Aires, e nós tínhamos um “controle de capital” no país, por isso era quase impossível – ou muito caro – mandar ou receber dinheiro da Argentina.

No experimento, ele me mandou 5 mil bitcoins, na época eram cerca de US$ 50 mil dólares, e eu mandei de volta. Tudo de forma ponto a ponto. Nós não tivemos que pedir permissão para ninguém. Eu mandei dinheiro a ele e ele me mandou de volta.

Eu sou um dos pioneiros da Web 1.0, e quando tive essa experiência pensei “isso é algo revolucionário. É isso que a Internet do valor, ou Internet do dinheiro, deveria se parecer”: a mesma neutralidade e simplicidade que experienciei agora.

Como eu sabia que essas tecnologias disruptivas são difíceis de entender, eu comecei a aplicar na prática.

Organizei encontros com pessoas em cafés e pagamentos em bitcoins. Eu tinha uma fábrica de “software”, criamos o primeiro processador de pagamentos em bitcoins da América Latina e convencemos alguns restaurantes de usá-lo.

Como foi a decisão de criar a primeira sidechain com contratos inteligentes na rede do Bitcoin?

Em 2013, comecei a organizar encontros pela América Latina. Foi neste ponto que entendi que precisava decidir onde iria colocar minha energia e esforço.

No final do ano decidi que iria voltar minha atenção para usar essas tecnologias para construir uma inclusão financeira maior para aqueles excluídos, ou mais vulneráveis, em nossa sociedade.

Então, juntamos um grupo de voluntários e começamos a fazer algumas experiências com moradores das comunidades de Buenos Aires nos encontros de bitcoin.

Foi quando percebi que o Bitcoin não era suficiente. Era a estrutura de um novo sistema financeiro, mas as pessoas do cotidiano precisavam de – o que agora é chamado de stablecoins – então estávamos pensando na ideia de moeda estável muito antes de existir o termo.

De repente, estava perseguindo essa ideia de estender o Bitcoin para tornar ele um sistema financeiro completo que poderia servir a necessidade de qualquer ser-humano.

Lições importantes vieram desse processo, como por exemplo a compreensão que reputação era a chave.

Criar identidades soberanas e identidades baseadas em reputação era a chave. Porque pessoas excluídas não tinham nada como colateral para colocar. Prover elas de uma identidade baseada em reputação, era prover colateral para elas.

Desse modo, possibilitando que acessem os produtos dos mercados para melhorarem de vida. Com essa ideia eu entrei em contato com Sergio Lerner.

Ele foi a primeira pessoa a criar uma criptomoeda de “turing-completude”, ou um propósito generalista, chamada “Quickscoin” em maio de 2013. Um ano antes da rede Ehereum (ETH) ser apresentada ao mundo.

Começamos a ter discussões. Sérgio tinha uma equipe que já estava trabalhando na evolução da “Quickcoin” chamado “NimbusCoin”.

As discussões foram voltadas sobre como poderíamos trabalhar juntos para expandir a rede Bitcoin e adicionar nela a capacidade de contratos inteligentes, e de moedas estáveis ou qualquer moeda no ecossistema da rede.

Foi assim que, no final de 2015, decidimos juntar forças e, baseados nos papéis originais do “BlockStream”, criamos a primeira Sidechain do Bitcoin com capacidade de contratos inteligentes.

Assim que começamos, decidimos criar a Sidechain do Bitcoin, de usar o hashrate da rede do Bitcoin para assegurar essa Sidechain e também de termos o próprio bitcoin como moeda nativa desta segunda camada.

Porque percebemos que ter um total alinhamento com o ecossistema do bitcoin também era crucial. Sistemas descentralizados são protegidos pela “teoria dos jogos”, por isso se houvesse um desalinhamento de interesses entre a rede secundária e a principal iria eventualmente criar um conflito e colapsaria.

Por isso tivemos como entendimento que precisávamos usar o bitcoin para incentivar os mineradores para proteger ambas as redes.

O projeto se tornou realidade em janeiro de 2018, e começou usando apenas 5% do “hashpower” do bitcoin, protegendo-o. Agora, tem cerca de 60% protegendo ambos: o bitcoin e a rede RSK.

Você se considera um Maximalista de Bitcoin (BTC)? 

Eu gosto do termo mutante de Bitcoin. Mutantes de Bitcoin são maximalistas de uma perspectiva monetária, sendo uma reserva de valor neutra sem nenhuma agenda política por trás. Uma reserva de valor neutra para o mundo.

É um conceito extremamente importante para a sociedade, iria remover muita da violência no mundo. Porque se você olhar para as guerras mais recentes do último século – ou milênio, muitas delas foram para proteger a moeda do império que reinava no momento.

Ter uma reserva de valor que é neutra é algo muito poderoso no mundo, então sou maximalista neste sentido. Para mim, como uma reserva de valor de longo prazo, bitcoin é o ativo ideal. O ouro digital. 

Mas ao mesmo tempo, por outro lado, com a volatilidade dele, acaba atraindo pessoas ou com um horizonte financeiro de longo prazo – que pode estocar durante dois ou três anos – ou pessoas que estão inseridas em sociedades tão voláteis que, para elas, o bitcoin parece estável.

Por exemplo, Venezuela ou Argentina. São dois extremos da sociedade. Todos os demais nesse meio, precisam de um ativo estável.

Minha ambição é essa, se realmente quisermos criar um sistema financeiro que possa ajudar todos, precisamos ir além do ativo Bitcoin e criar essa plataforma completa ponto a ponto.

E é exatamente isso que estamos construindo em cima do Rootstock, do IoV Labs e seu ecossistema.

O que acha da atualização BIP-119?

Eu estava ativamente engajado quando o Bitcoin Cash surgiu. Eu estava engajado porque queria evitar ele. Na verdade, queria evitar a fracionalização, ou fragmentação, da rede. 

Uma coisa que aprendi desse processo é que o Bitcoin precisa ter cada vez menos mudanças e precisa ser mais difícil fazer mudanças no protocolo do Bitcoin conforme o tempo.

Faz parte da segurança do Bitcoin. Ativos que são descentralizados também teriam que ser difíceis de mudar. Alcançar um consenso na rede desse sistema é muito difícil.

Então na minha visão, a direção do Bitcoin deveria ser em direção a ossificação.

Mas a respeito das covenants do BIP-119, por mais que eu goste da tecnologia, não gosto da ideia dela ser implementada no Bitcoin. Por causa de como ele funciona, ou como o UTXO funciona.

[Uma saída de transação não gasta (UTXO) é um pedaço discreto de bitcoin. UTXOs são usados ​​como entradas de todas as transações Bitcoin. O modelo UTXO torna o Bitcoin mais auditável, transparente e eficiente do que os sistemas financeiros tradicionais, que dependem de contas, saldos e terceiros.]

Isso mataria a fungibilidade e pode criar algo disruptivo para o Bitcoin, então sou contra. Embora ache que o modelo de covenants possa ser uma ferramenta muito poderosa, mas somente se usada em segunda camada como no Rootstock.

Nesse caso, não seria um ataque à fungibilidade do Bitcoin e poderia prover o valor que precisamos desse modelo. Nesse caso a irreversibilidade de uma transação estaria ligada a um endereço e não ao ativo em si.

Então eu acho que existem outros meios de usar os covenants do que implementar diretamente na rede principal do Bitcoin.

Então existe alguma mudança que você acha que a rede do Bitcoin (BTC) precisa passar?

Acredito que a única mudança que eu adicionaria seria a BIP-300. Ela basicamente permite a criação de sidechains “trustless” [sistema como o próprio Bitcoin – que não precisa de confiança, pois se auto válida por algoritmos de consenso].

A criação de interoperabilidade entre blockchains para que possamos manter o ecossistema do bitcoin em redes secundárias e estender o protocolo do Bitcoin nelas.

Isso é importante para buscar solucionar o “trilema dos blockchains”. No trilema, sempre existe uma troca entre segurança, escalabilidade e funcionalidade. Se quiser ter mais funcionalidade, é preciso sacrificar segurança, se quiser mais escalabilidade terá que sacrificar segurança.

É isso que o Bitcoin passa, a rede maximiza a segurança e sacrifica a funcionalidade. Por isso a linguagem da rede é “pushdown automata” [linguagem de programação], é uma linguagem sequencial. Não existe bifurcação lógica nem loops ou repetição.

Desse modo, uma ação pode ou ir adiante, ou não. Isso entrega um nível de segurança ao Bitcoin que nenhum outro blockchain possui.

Nesse sentido, eu acredito que devemos permitir a interoperabilidade entre sidechains de uma forma “trustless”, e desse modo parar de adicionar atualizações na rede principal.

Deixar o Bitcoin ser o que ele é: o blockchain mais seguro e descentralizado no mundo.

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Repórter do Crypto Times
Jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Repórter do Crypto Times, e autor do livro "2020: O Ano que Não Aconteceu". Escreve sobre criptoativos, tokenização, Web3 e blockchain, além de matérias na editoria de tecnologia, como inteligência artificial, Real Digital e temas semelhantes. Já cobriu eventos como Consensus, LabitConf, Criptorama e Satsconference.
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