Eleições

Como Sergio Massa, que ajudou a quebrar a Argentina, venceu o 1º turno das eleições

23 out 2023, 16:20 - atualizado em 23 out 2023, 16:20
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Serjão da Massa: como ministro-candidato, Sergio Massa abriu os cofres públicos para garantir liderança nas eleições da Argentina (Imagem: Divulgação/ Sergio Massa)

Vista à distância, a vitória do peronista Sergio Massa no primeiro turno das eleições presidenciais da Argentina, realizado neste domingo (22), parece incompreensível. Afinal, Massa é o ministro da Economia do atual inquilino da Casa Rosada, Alberto Fernández, e, portanto, um dos grandes responsáveis pela hecatombe econômica dos nossos vizinhos.

Basta lembrar que a inflação chegou a quase 140% no acumulado de 12 meses até setembro, desafiando uma taxa básica de juros de 130% ao ano. Cerca de 40% dos argentinos encontram-se abaixo da linha de pobreza, sendo que 10% deles já são classificados como indigentes. Para coroar a ruína econômica, o PIB local caiu 5% no terceiro trimestre, quando comparado ao mesmo período do ano passado.

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Nem de longe, esses são números que encorajariam alguém a disputar o cargo máximo da Argentina. Ou, melhor dizendo, não são números que incentivariam os eleitores a apoiar um candidato presidencial. Um sinal claro do descontentamento argentino com a atual situação é o resultado das eleições primárias, realizadas em agosto.

Conhecidas no país como PASO, as primárias servem para que os eleitores indiquem quais, dentre os pré-candidatos, terão efetivamente o direito de concorrer à presidência. Naquela ocasião, o ultraliberal Javier Milei largou na frente, com 30% dos votos. Massa, em segundo, recebeu pouco mais de 20%.

Eleições na Argentina: Sergio Massa lança o Plan Platita para bater Javier Milei

O mau desempenho nas primárias fez as sirenes soarem na campanha de Massa. Desde então, utilizando-se do cargo de ministro da Economia, o peronista lançou uma série de medidas populistas que lhe garantiram um apoio crescente de funcionários públicos e outros grupos dependentes da assistência social estatal para sobreviver.

Divulgadas aos poucos, o conjunto de medidas foi apelidado pelos argentinos de “Plan Platita“, em alusão à “plata”, o apelido com que chamam sua moeda oficial, o peso. Analistas políticos e economistas estimam que o Plan Platita tenha custado 2,2 bilhões de pesos (cerca de US$ 6 milhões) aos cofres já vazios da Argentina.

Veja, a seguir, como Sergio Massa garantiu a vitória no primeiro turno das eleições argentinas:

Bônus para complementar renda

Massa anunciou o pagamento de bônus para diversos grupos sociais, a fim de reforçar sua renda mensal. Cada um dos 7,8 milhões de aposentados do país passou a receber um valor extra de 37 mil pesos por mês, ao custo de 234 milhões de pesos.

O ministro-candidato também determinou um abono salarial de 30 mil pesos, pago em duas parcelas, para todos os 5,5 milhões de trabalhadores de empresas privadas. Para não sobrecarregar as contas públicas, Massa obrigou as empresas a arcarem com os 270 milhões de pesos necessários para o programa.

Já os 390 mil funcionários públicos do país receberam um bônus ainda maior (60 mil pesos), ao custo de 23,4 milhões de pesos para o Estado. Empregados domésticos, pessoas que recebem seguro-desemprego e quem ainda não conta com nenhuma forma de assistência social também foram contemplados.

Vale-alimentação

Cerca de 3 milhões de aposentados e pensionistas com renda mensal de até 1,5 salários mínimos também ganharam um vale-alimentação de 45 mil pesos, divididos em três parcelas. Outros 2,4 milhões de beneficiados pelo programa Tarjeta Alimentar (espécie de cartão para compra de alimentos) receberam um reajuste de 30% no valor mensal creditado pelo governo.

Programa Potenciar Trabajo

O programa Potenciar Trabajo conta com 1,3 milhão de beneficiários e seu objetivo é melhorar as condições de empregabilidade dos participantes, por meio de projeto sócio-educativos e sócio-produtivos. Massa determinou o pagamento de um bônus de 20 mil pesos, em duas parcelas, para os cadastrados.

Devolução de impostos

O ministro-candidato também lançou o programa Compre Sin IVA, que devolve o Imposto sobre Valor Agregado pago pelos consumidores nas compras com cartões de débito. A alíquota do IVA é de 21% e, inicialmente, sua restituição beneficiava apenas aposentados e pensionistas.

Massa estendeu esse direito a quase 20 milhões de argentinos, incluindo empregados de empresas privadas e empregados domésticos, entre outros. Para participar do programa, o indivíduo precisa ter renda mensal bruta de até 720 mil pesos. O teto de restituição é de 18 mil pesos por mês.

Isenção de Imposto de Renda

Massa propôs isentar de Imposto de Renda todos os aposentados e trabalhadores da iniciativa privada. O projeto encontra-se no Senado e, se aprovado, fará com que apenas quem ganhe mais de 1,77 milhão de pesos por mês seja tributado.

Reembolso de gastos com viagens

Para agradar a classe média, Massa reeditou o programa PreViaje, que reembolsa até 70% das despesas de viagens de argentinos pelo seu país. O teto de reembolso é de 100 mil pesos e, para ter direito ao dinheiro, é preciso ter viajado entre os dias 29 de setembro e 17 de outubro. Estima-se que 500 mil pessoas foram beneficiadas.

Pagamento de impostos adiado

Na Argentina, parte da população paga apenas um imposto. Para esse grupo, chamado de monotributaristas, Massa determinou o adiamento, por seis meses, do prazo para pagar uma parcela do imposto. A medida alcança 1,4 milhão de contribuintes.

Política do medo

Abrir os cofres públicos não foi a única estratégia para Massa virar o jogo eleitoral no primeiro turno. O ministro de Alberto Fernández e Cristina Kirchner também bateu pesado no seu principal adversário, o ultraliberal Javier Milei, vencedor das eleições primárias de agosto.

Segundo a imprensa local, Massa explorou o medo da população mais vulnerável de perder a assistência social que lhe garante a sobrevivência. Para a classe média, gravou mensagens sinalizando, por exemplo, que a eventual vitória de Milei faria o preço das passagens do Metrô de Buenos Aires explodir dos atuais 56 pesos para 1.100 pesos.

Aos funcionários da Aerolíneas Argentinas, que só se mantém em operação graças à ajuda estatal, Massa enviou outro vídeo em que argumenta que sua vitória é a única maneira de manter a companhia de pé, já que seus rivais pretenderiam fechá-la.

Estima-se que, no total, Massa comprometeu o equivalente a 1,1% do PIB argentino para garantir sua vaga na etapa final da disputa pela Casa Rosada. Analistas locais afirmam que suas ações mostram que ele está cada vez menos ministro e cada vez mais candidato. Seu cálculo é simples: se perder a eleição, a bomba fiscal cairá no colo de Milei e ele sairá como a grande liderança do peronismo.

Se vencer, terá tempo de desarmá-la ou, pelo menos, empurrá-la com a barriga, à espera de que alguma solução apareça. A única certeza dos comentaristas, por ora, é que ninguém espera uma guinada na estratégia do peronista até a nova votação, marcada para 19 de novembro.

O fato de seu adversário no segundo turno ser o ultraliberal Milei, que causou polêmica ao defender propostas como a dolarização da economia, o fechamento do Banco Central, o fim dos programas de assistência social e o livre comércio de órgãos humanos, apenas reforça a expectativa de que Massa dobrará a aposta no que deu certo – seja no discurso do medo, seja na mão aberta com o dinheiro público.

 

Diretor de Redação do Money Times
Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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