Coluna Robert Lawrence Kuhn

Conheça a iniciativa da China para o desenvolvimento global

22 jan 2024, 10:09 - atualizado em 22 jan 2024, 10:09
china desenvolvimento
A China tem iniciativas para desenvolvimento, segurança e civilização ao longo de 2024. (Foto: glaborde7/ Pixabay)

Na primeira coluna deste ano, ao falar sobre a perspectiva para a China em 2024, tratei sobre a visão global do governo chinês e as iniciativas de Pequim de desenvolvimento, segurança e civilização.

Agora, irei falar separadamente e em detalhes sobre cada um desses três aspectos abrangentes que orientam a política externa chinesa.

Para a China, essas três iniciativas oferecem as soluções para os principais problemas relativos à paz global e ao desenvolvimento dos países. Apesar de parecer inócuo, trata-se de uma proposta que tem ligação direta com a reforma da governança global, visando traçar um caminho explícito que insere a China no mapa mundial.

Isso expõe a ambição global do presidente chinês Xi Jinping para a China. Por isso, deve-se tomar nota dessas iniciativas. O mundo deveria prestar atenção.

Os argumentos são claros: a humanidade está em uma encruzilhada diante dos desafios climáticos, mas a interdependência é inevitável. Portanto, a nova era exige novas ideias, sendo que a China, baseada em sua longa história civilizacional, possui experiência e uma visão esclarecida para construir um mundo melhor.

O que é a Iniciativa de Desenvolvimento Global da China?

Começo pela Iniciativa de Desenvolvimento Global da China, ou GDI, na sigla em inglês. Essa iniciativa baseia-se na construção de grandes obras de infraestrutura, porém mais direcionadas a projetos sustentáveis. Isso inclui questões como redução da pobreza, segurança alimentar, saúde, industrialização verde, economia digital e conectividade.

Estes pilares servem, como afirma a China, para formar “a base material para a segurança e civilização” global, que são os outros dois eixos da política externa chinesa para o mundo e que serão tratados nas próximas semanas.

Em linhas gerais, a GDI busca parcerias globais para ajudar os países a expandir sua capacidade de desenvolvimento socioeconômico, tendo como “princípio fundamental” uma abordagem “equilibrada e inclusiva” centrada nas pessoas, tidas como únicas, porém iguais.

Para tanto, a GDI é orientada para a inovação como motor do crescimento e focada em “ações voltadas aos resultados” que tragam “benefícios para todos” e mantenham uma harmonia entre o ser humano e a natureza.

O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, descreveu a GDI como “um apelo de mobilização global para galvanizar maior atenção ao desenvolvimento e trazê-lo de volta ao centro da agenda internacional”. Até setembro de 2023, a Iniciativa já havia recebido o apoio de mais de cem países e organizações internacionais.

Em termos práticos, a China apresentou 32 medidas fundamentais para implementar a GDI através de mais de 200 projetos voltados à Cooperação Sul-Sul, através de um fundo de US$ 4 bilhões. Ou seja, a iniciativa é a principal forma da China se envolver com o desenvolvimento mundial, especialmente com o mundo em desenvolvimento, o Sul Global.

Xadrez chinês

Porém, analistas estrangeiros e meios de comunicação internacionais não são tão otimistas. Como me disse alguém, “o objectivo da GDI é usurpar o diálogo internacional sobre a agenda de desenvolvimento global, colocando-o sob a tutela chinesa, e administrá-lo com princípios chineses”.

Houve também quem falou que a GDI coloca “a riqueza material acima dos direitos individuais”. Em outras palavras, põem “os direitos coletivos do Estado sobre os direitos do indivíduo em busca de um bem maior”.

Pelo sim, pelo não, a GDI é, daqui para frente, a principal forma de a China interagir, e talvez moldar, o governo global. O sucesso das três iniciativas, combinadas, não será decidido na retórica, mas nos resultados efetivos dos programas. Os países em desenvolvimento serão a prova disso, que está aberta para todos verem.

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Renomado especialista em China, estrategista corporativo internacional e banqueiro de investimentos que assessora corporações multinacionais sobre estratégias e negócios na China. Foi premiado com a “Medalha da Amizade da Reforma da China” do Presidente Xi Jinping, sendo um dos apenas dez estrangeiros homenageados por suas contribuições ao longo de 40 anos da Chin. Autor do livro “Como os Líderes Chineses Pensam”, publicado no Brasil pela Autonomia Literária.
robert.lawrence.kuhn@moneytimes.com.br
Renomado especialista em China, estrategista corporativo internacional e banqueiro de investimentos que assessora corporações multinacionais sobre estratégias e negócios na China. Foi premiado com a “Medalha da Amizade da Reforma da China” do Presidente Xi Jinping, sendo um dos apenas dez estrangeiros homenageados por suas contribuições ao longo de 40 anos da Chin. Autor do livro “Como os Líderes Chineses Pensam”, publicado no Brasil pela Autonomia Literária.
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