Banco Central

Copom se mantém firme, mas segura o tom sobre eventual aumento de juros; ‘cenário menos provável’, pondera

03 maio 2023, 19:34 - atualizado em 03 maio 2023, 19:38
Banco Central Real Digital
O posicionamento foi feito no comunicado que acompanhou a decisão do Copom de manter a Selic em 13,75% ao ano. (Imagem: Reuters/Ueslei Marcelino)

O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, reafirmou na noite desta quarta-feira (3) que não vai hesitar em aumentar o juro básico no país caso a inflação saia do controle.

O colegiado, porém, acrescentou que tal cenário é pouco provável e afirmou que “a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária”. O posicionamento foi feito no comunicado que acompanhou a decisão de manter a Selic em 13,75% ao ano.

No documento, o Copom conta que a apresentação de uma proposta de arcabouço fiscal pela equipe econômica do governo reduziu parte da incerteza sobre a política fiscal. No entanto, o órgão destacou que a imprevisibilidade do texto final que será aprovado pelo Congresso é um fator de risco na condução da política monetária.

Além disso, o comitê reforçou que o ambiente externo se mantém adverso. Entre outros pontos, o colegiado chamou a atenção para os episódios envolvendo bancos no exterior que têm elevado a incerteza.

Para o economista-chefe da Messem Investimentos, Gustavo Bertotti, o comunicado do Copom após a divulgação da decisão sobre a Selic tem um tom menos “hawkish” (duro), mas que o afrouxamento monetário deverá ocorrer somente a partir do segundo semestre.

O economista ressaltou que autoridade monetária também considerou nesses balanços de riscos uma pressão inflacionária no âmbito global, com um aperto monetário que continua nas grandes economias, como Estados Unidos e Europa.

“O BC tem sido muito técnico e está sendo correto em cima de suas decisões diante de um cenário de tantas incertezas. Na minha visão, a preocupação com a desancoragem das expectativas de inflação continuam”, diz Bertotti.

O assessor de investimentos e sócio da RJ+ Investimentos, Bruno Monsanto, por sua vez, avalia que o Copom se apoiou mais uma vez em dados e projeções em sua decisão de manutenção da taxa básica de juros.

“Nos últimos comunicados, o que chegou a irritar Lula e representantes do governo que esperavam ver a autoridade monetária cedendo às pressões, foi a afirmação que o Bacen poderia não só manter a Selic no patamar atual, como subir ainda mais, caso as expectativas se deteriorassem”, lembra Monsanto.

“Agora, o Copom se mantém firme, mas suaviza um pouco o discurso, dando a sinalização de que, com as variáveis analisadas melhorando, o ciclo de cortes pode começar no segundo semestre”, conta.

Confira o comunicado do Copom na íntegra

O ambiente externo se mantém adverso. Os episódios envolvendo bancos no exterior têm elevado a incerteza, mas com contágio limitado sobre as condições financeiras até o momento, requerendo contínuo monitoramento. Em paralelo, os bancos centrais das principais economias seguem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas, em um ambiente em que a inflação se mostra resiliente.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue corroborando o cenário de desaceleração esperado pelo Copom, ainda que exibindo maior resiliência no mercado de trabalho. A inflação ao consumidor, assim como suas diversas medidas de inflação subjacente, segue acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação. As expectativas de inflação para 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus elevaram-se marginalmente e encontram-se em torno de 6,1% e 4,2%, respectivamente.

As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 5,8% em 2023 e 3,6% em 2024. As projeções para a inflação de preços administrados são de 10,8% em 2023 e 5,2% em 2024. Em cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo de todo o horizonte relevante, as projeções de inflação situam-se em 5,7% para 2023 e 2,9% para 2024.

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; (ii) a incerteza ainda presente sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso Nacional e, de forma mais relevante para a condução da política monetária, seus impactos sobre as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação, e sobre os ativos de risco; e (iii) uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local; (ii) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, em particular em função de condições adversas no sistema financeiro global; e (iii) uma desaceleração na concessão doméstica de crédito maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária.

Por um lado, a reoneração dos combustíveis e, principalmente, a apresentação de uma proposta de arcabouço fiscal reduziram parte da incerteza advinda da política fiscal. Por outro lado, a conjuntura, caracterizada por um estágio em que o processo desinflacionário tende a ser mais lento em ambiente de expectativas de inflação desancoradas, demanda maior atenção na condução da política monetária. O Copom enfatiza que não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal, e avalia que a desancoragem das expectativas de longo prazo eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional. Nesse cenário, o Copom reafirma que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas.

Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

Considerando a incerteza ao redor de seus cenários, o Comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária. O Copom enfatiza que, apesar de ser um cenário menos provável, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de Souza e Renato Dias de Brito Gomes.

* No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 5,05, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2023 e de 2024. O valor para o câmbio é obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.

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Repórter
Jornalista formado pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), com extensão em jornalismo econômico pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Colaborou com Estadão, Band TV, Agência Mural, entre outros.
zeca.ferreira@moneytimes.com.br
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Jornalista formado pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), com extensão em jornalismo econômico pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Colaborou com Estadão, Band TV, Agência Mural, entre outros.
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