Copom

Copom segue vigilante e indica que não vai hesitar em retomar aperto monetário; confira o que diz o comunicado

22 mar 2023, 19:38 - atualizado em 22 mar 2023, 19:41
Copom
O Copom afirmou que não vai hesitar em retomar o ciclo de ajuste caso a inflação saia do controle; saiba mais. (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O Comitê de Política Monetária (Copom) afirmou nesta quarta-feira (22) que não vai hesitar em retomar o ciclo de ajuste caso a inflação saia do controle, em comunicado que acompanhou a decisão de manter a taxa básica de juros (Selic) em 13,75%.

Foi a segunda reunião do comitê do Banco Central (BC) desde o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que é contrário ao entendimento da autoridade monetária em manter o nível dos juros elevado no país.

No texto, o Copom voltou a destacar “a incerteza sobre o arcabouço fiscal e seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública”.

  • Entre para o Telegram do Money Times!
    Acesse as notícias que enriquecem seu dia em tempo real, do mercado econômico e de investimentos aos temas relevantes do Brasil e do mundo. Clique aqui e faça parte!

O Comitê reforçou ainda que vai perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que, em sua análise, mostrou deterioração adicional, especialmente em prazos mais longos.

“Os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, disse no comunicado.

A autarquia monetária também comentou sobre o efeito da reoneração dos combustíveis na diminuição da incerteza nos resultados fiscais de curto prazo, mas ressaltou que a alta volatilidade nos mercados financeiros e expectativas de inflação desancoradas demandam maior atenção na condução da política monetária.

“O recado é simples; se a inflação não cair o BCB, [Banco Central do Brasil] não irá cortar os juros. Não sabemos o quanto seria necessário cair para dar o sinal verde para algum corte, uma vez que para o BCB a questão na mesa é a inflação e somente essa”, avalia o economista André Perfeito.

“Dito isso, está praticamente descartado um corte em maio e junho. Em junho, apenas se as expectativas ancorarem. Está claro outro aspecto da decisão. O Planalto irá reagir e, como já argumentei em comunicado recente, isso irá se retroalimentar inflamando os ânimos”, completa.

Adiamento de arcabouço fiscal frustra expectativas do mercado

Para o economista-chefe da Blue3 Investimentos, Roberto Simioni, a expectativa de que o arcabouço fiscal pudesse ser apresentado antes da reunião do Copom, levou parte do mercado a crer que uma sinalização de cortes nos juros poderia acontecer.

“Entretanto, essa expectativa frustrada, com a alteração de datas previstas na apresentação e a natural incerteza quanto ao teor do arcabouço, levou o mercado a ajustar para cima as projeções sobre juros”, conta Simioni.

“O anúncio de manter a Selic no patamar de 13,75% mostra que o Banco Central segue empenhado no controle da inflação. E a queda na inflação observada com a desoneração do preço dos combustíveis, da energia elétrica e das telecomunicações perde seu efeito no momento em que o mercado de trabalho se mantém aquecido, e a reoneração dos impostos federais dos combustíveis sinalizam futuras pressões no IPCA”.

Confira o comunicado do Copom na íntegra

Desde a reunião anterior do Comitê de Política Monetária (Copom), o ambiente externo se deteriorou. Os episódios envolvendo bancos nos EUA e na Europa elevaram a incerteza e a volatilidade dos mercados e requerem monitoramento. Em paralelo, dados recentes de atividade e inflação globais se mantêm resilientes e a política monetária nas economias centrais segue avançando em trajetória contracionista.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue corroborando o cenário de desaceleração esperado pelo Copom. A inflação ao consumidor, assim como suas diversas medidas de inflação subjacente, segue acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação. As expectativas de inflação para 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus se elevaram desde a reunião anterior do Copom e encontram-se em torno de 6,0% e 4,1%, respectivamente.

Na mesma linha, as projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* elevaram-se para 5,8% em 2023 e para 3,6% em 2024. As projeções para a inflação de preços administrados são de 10,2% em 2023 e 5,3% em 2024. O Comitê optou novamente por dar ênfase ao horizonte de seis trimestres à frente, referente ao terceiro trimestre de 2024, cuja projeção de inflação acumulada em doze meses situa-se em 3,8%. Em cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo de todo o horizonte relevante, as projeções de inflação situam-se em 5,7% para 2023, 3,3% para o terceiro trimestre de 2024 e 3,0% para 2024. O Comitê julga que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual.

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; (ii) a incerteza sobre o arcabouço fiscal e seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública; e (iii) uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local; (ii) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, em particular em função de condições adversas no sistema financeiro global; e (iii) uma desaceleração na concessão doméstica de crédito maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária.

Por um lado, a recente reoneração dos combustíveis reduziu a incerteza dos resultados fiscais de curto prazo. Por outro lado, a conjuntura, marcada por alta volatilidade nos mercados financeiros e expectativas de inflação desancoradas em relação às metas em horizontes mais longos, demanda maior atenção na condução da política monetária. O Comitê avalia que a desancoragem das expectativas de longo prazo eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional. Nesse cenário, o Copom reafirma que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas.

Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos de 2023 e, em grau maior, de 2024. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

Considerando a incerteza ao redor de seus cenários, o Comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que mostrou deterioração adicional, especialmente em prazos mais longos. O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de Souza e Renato Dias de Brito Gomes.

* No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 5,25, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária “amarela” em dezembro de 2023 e de 2024. O valor para o câmbio é obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.

Repórter
Jornalista formado pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), com extensão em jornalismo econômico pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Colaborou com Estadão, Band TV, Agência Mural, entre outros.
Twitter Linkedin
Jornalista formado pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), com extensão em jornalismo econômico pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Colaborou com Estadão, Band TV, Agência Mural, entre outros.
Twitter Linkedin
Giro da Semana

Receba as principais notícias e recomendações de investimento diretamente no seu e-mail. Tudo 100% gratuito. Inscreva-se no botão abaixo:

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.