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Criador da Ethereum (ETH) quer sua “alma” na Web 3.0: o que são Soulbounds Tokens; e qual sua importância?

28 maio 2022, 18:00 - atualizado em 27 maio 2022, 18:40
Vitalik Buterin filme
Os tokens de almas são NFTs intransferíveis que formarão sua identidade na Web 3.0 (Imagem: Foundation/Matt Reamer)

Foi publicado no início do mês de maio um documento chamado “Decentralized Society: Finding Web3’s Soul” (Em tradução livre: sociedade descentralizada: em busca da alma da web 3.0), escrito por  E. Glen Weyl, Puja Ohlhaver e Vitalik Buterin, o criador da rede de contratos inteligentes Ethereum (ETH).

Trata-se do “whitepaper” de um novo tipo de padrão de token, chamado Soulbound Token (SBT), que tem como objetivo autenticar certidões, documentos e diplomas “ligados à alma do usuário” na web 3.0. 

A ideia é que os soulbounds tokens sejam uma espécie de token não fungível (NFT) não transferível e para sempre ligado ao usuário que o cunhou.

“Se alguém lhe mostrar que tem um NFT que pode ser obtido fazendo X, você não pode dizer se eles mesmos fizeram X ou se apenas pagaram a outra pessoa para fazer X. Algumas vezes isso não é um problema{…} Mas e se quisermos criar NFTs que não sejam apenas sobre quem tem mais dinheiro, e que na verdade tentam sinalizar outra coisa?”, escreveu Vitalik em publicação ao seu blog em janeiro deste ano.

A proposta de Vitalik é justamente criar uma identidade pessoal na web 3.0, autenticada pela tecnologia do blockchain em forma de NFTs sem valor monetário e intransferível.

Uma das aplicabilidades consiste na ideia de trocar o método de recrutamento de verificar o LinkedIn de um candidato, para verificar seu currículo “on-chain” que mostraria a “alma” da universidade transferindo para você um SBT.

Buterin diz que, “’as almas podem codificar as redes de confiança da economia real para estabelecer proveniência e reputação”. 

Enquanto com criptomoedas e NFTs o usuário tem a custódia das chaves para seus fundos monetários, e de posses digitais, com os SBTs você possui as chaves para suas credenciais. 

Segundo o The Defiant, as credenciais on-chain já estão sendo usadas por empresas como 101 e RabbitHole.

Por que os Soulbound Tokens (SBTs) são importantes?

Conforme consta no “whitepaper” escrito por Vitalik, a Web3 hoje gira em torno da expressão de ativos transferíveis, em vez de “codificar relações de confiança”.

No entanto, para os autores do documento, muitas atividades econômicas essenciais – como empréstimos não garantidos e construção de marcas pessoais – são construídas em relacionamentos persistentes e intransferíveis.

Neste sentido, os tokens “soulbound” (SBTs) não transferíveis que representam os compromissos, credenciais e avaliações de “almas” podem fortalecer as redes de confiança da economia real para estabelecer proveniência e reputação autenticados via blockchain, segundo os autores.

“Chamamos isso de mais rico, pluralista ecossistema “Sociedade Descentralizada” (DeSoc) – uma sociabilidade co-determinada, onde Almas e comunidades se reúnem de baixo para cima, como propriedades emergentes umas das outras para co-criar bens e inteligências de rede, em uma variedade de escalas”, escreve Buterin.

Uma carteira de almas para sua alma

Conforme proposto pelo fundador da Ethereum, os SBTs só poderiam ser cunhados, ou emitidos por universidades e afins, para um endereço específico ligado à “alma” do usuário na Web 3.0.

O usuário, teria além de sua carteira virtual para custodiar seus fundos e NFTs, uma carteira apenas para guardar seus SBTs. Denominada de Soul Wallet, ou carteira de almas.

Essas carteiras podem ser usadas como a identidade do usuário na Web 3.0, uma vez que possam conter diplomas, certificados, direitos autorais permanentes e afins.

Não venda, ou perca, sua alma

Uma das questões levantadas por Vitalik já no whitepaper foi sobre a recuperação destas Soulbounds Tokens em caso do usuário perder acesso à carteira de almas.

Para ele, a recuperação social é uma alternativa emergente que depende dos relacionamentos confiáveis ​​de uma pessoa. Os SBTs permitem uma abordagem semelhante, porém, segundo Vitalik, mais ampla.

Os autores propuseram uma ideia chamada recuperação de carteira da comunidade, o que significa que a recuperação das chaves privadas de uma alma exigiria que os membros das comunidades da alma consentissem. 

“Uma solução mais robusta é vincular a recuperação de almas às associações de uma alma nas comunidades, não curadoria, mas, em vez disso, valendo-se de um conjunto maximamente amplo de relacionamentos em tempo real para segurança.”

Os SBTs representam filiações de um usuário a diferentes comunidades. Algumas dessas comunidades podem ser fora do blockchain – como empregadores, clubes, faculdades ou igrejas – enquanto outros podem ser on-chain, ou dentro do blockchain – como participação em protocolo governança ou uma organização autônoma descentralizada (DAO).

“Em um modelo de recuperação da comunidade, para recuperar uma chave privada de alma seria necessário um membro de uma maioria qualificada de um (subconjunto aleatório de) comunidades do Soul consentir”, diz o whitepaper.

Qual o futuro da sua alma no blockchain? Para especialista, começa com jogos

Para Caio Vicentino, colecionador de NFTs e embaixador da Maker DAO no Brasil, os SBTs vão ser muito utilizados por universidades daqui alguns anos para facilitar a emissão de certificados, “ainal, ninguém quer que você venda seu diploma de medicina, por exemplo”.

“No formato de NFT a comercialização seria possível, no caso de SBTs ficará eternamente na sua carteira. É intransferível. Assim como eventos podem utilizar para certificar que pessoas participaram. O verdadeiro sentido nós vamos ver no futuro, é bem interessante”, finaliza.

Marco Jardim, diretor do Blockchain Studio, lembra que os SBTs são uma ideia que “como a maior parte das ideias”, copiadas de algo que já existe. Segundo Jardim, a premissa já existia em games como “World of Warcraft”.

O jogo foi citado no artigo escrito em janeiro deste ano por Vitalik para exemplificar a criação dessa tecnologia, e o diretor da Blockchain Studio adiciona que no caso de games, não é algo revolucionário. Além de que esse setor de game em blockchain que irá puxar a adoção à tecnologia. Confira a citação de Buterin ao World of Warcraft em postagem ao seu blog:

“Os itens mais poderosos do jogo são vinculados à alma, e normalmente exigem completar uma missão complicada ou matar um monstro muito poderoso, geralmente com a ajuda de quatro a trinta e nove outros jogadores. Portanto, para que seu personagem tenha as melhores armas e armaduras, você não tem escolha a não ser participar da matança de alguns desses monstros extremamente difíceis.”

Mas para Marco Jardim, o que está por trás disso, é o desafio de criar uma identidade na internet, algo que, para ele, ainda não foi resolvido de forma substancial.

“Eu vejo os SBTs muito mais úteis como identificação e certificação. Acredito que a adoção vai vir pelos jogos, já que hoje em dia quem manda no ecossistema da Ethereum e em blockchains EVMs são eles”, explica.

Jardim continua dizendo que a adoção pode pegar uma tração ainda mais forte se entrar “na moda”, e que nesse caso os usuários adotariam os SBTs muito mais para se manter atualizado do que realmente pela mecânica da tecnologia.

“Algum jogo com certeza vai colocar isso em sua mecânica, até para chamar jogadores e aparecerem na mídia. As pessoas que investem e pesquisam sobre identidade no blockchain ainda é muito nichada.”

Um outro problema que resolve é o de identificação em jogos. Jardim explica que existe um ataque chamado “Sybil attack”. É comum em jogos de blockchain que dão acesso a um item exclusivo para quem possui um segundo determinado NFT dentro do jogo.

“ O ataque consiste no jogador apresentar o NFT por outra conta, e assim eu fingir ser outra pessoa, para ter direito ao item no jogo em blockchain. Após esse processo, o jogador transfere o mesmo NFT para outra conta e refaz o processo. Os SBTs resolveriam esse problema”, finaliza.

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Repórter do Crypto Times
Jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Repórter do Crypto Times, e autor do livro "2020: O Ano que Não Aconteceu". Escreve sobre criptoativos, tokenização, Web3 e blockchain, além de matérias na editoria de tecnologia, como inteligência artificial, Real Digital e temas semelhantes. Já cobriu eventos como Consensus, LabitConf, Criptorama e Satsconference.
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Jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Repórter do Crypto Times, e autor do livro "2020: O Ano que Não Aconteceu". Escreve sobre criptoativos, tokenização, Web3 e blockchain, além de matérias na editoria de tecnologia, como inteligência artificial, Real Digital e temas semelhantes. Já cobriu eventos como Consensus, LabitConf, Criptorama e Satsconference.
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