Mercados

Crise do SVB é ‘Lehman Brothers 2.0’? Entenda os riscos de uma nova crise financeira global

10 mar 2023, 16:48 - atualizado em 10 mar 2023, 17:38
Janet Yellen
Janet Yellen, secretária do Tesouro dos EUA, afirma que governo está monitorando de perto a atividade de alguns bancos após colapso no Vale do Silíci0 (Imagem: REUTERS/Siphiwe Sibeko)

A crise de liquidez envolvendo o SVB Financial Group (SIVB) continua gerando tremores no mercado financeiro e despertando flashs de um época traumática. O colapso do SVB, um importante players no Vale do Silício, faz lembrar a quebra do então quarto maior banco de investimento dos Estados Unidos, o Lehman Brothers.

Uma onda de saques em contas de startups de tecnologia, principais clientes da instituição financeira, forçou o banco a vender todo o seu balanço de títulos de dívida (US$ 21 bilhões ao todo) para levantar capital.

O despejo de títulos dos títulos feito pela SVB a preços mais baixos contribuiu para derreter o rendimento das Treasuries nesta sexta-feira (10). Às 15h, a T-notes de 10 anos rendiam 3,730%, uma queda de  quase 0,2 ponto percentual (pp.) considerando-se o fechamento anterior, a 3,911% ontem.

A queda é ainda mais acentuada para os bônus de curto prazo, como visto para as Treasuries de 2 anos, que perderam do dia para noite quase 0,3 pp em rendimento, indo de 4,876% ontem para 4,599% nesta tarde. Trata-se do maior declínio diário desde a crise de 2008.

O efeito cascata de crise de confiança causado pelo SVB atingiu em cheio vários outros bancos regionais dos EUA. É o caso do First Republic, PacWest e Signature Bank.

Os três tiveram a negociação de seus papéis suspensa diversas vezes entre ontem e hoje. Além disso, a quedas desses papeis variam de 12% a 22%, cada.

Diante do Congresso norte-americano, a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, informou que monitora de perto a atividade de “alguns bancos” à esteira dos últimos eventos.

Mesmo que tenha quase nada em comum com o banco com sede no Silicon Valley, o grupo dos ‘bancões’ americanos (considerados grandes demais para falir, ou ‘too big to fail’) e pesos-pesados da Europa não saem ilesos do evento.

Ontem, o JP Morgan (JPM) tombou 5,41% e recupera apenas 1,49% nesta sexta-feira. Já o Bank of America (BAC) despencou 6,20% na véspera e estende as perdas do dia para -1,00%. O STOXX Europe 600 Bank Index, índice que comprime o desempenho dos bancos no Reino Unido e na zona do euro, fechou em queda de mais de 4%.

Lehman Brothers 2.0?

Embora o evento relacionado ao SVB cause preocupação nos mercados, analistas não acreditam que o mesmo problema possa acometer os grandes bancos dos EUA.  

Em fala concedida à Reuters, um analista do JP Morgan argumenta que 60% dos depósitos em grandes instituições advêm do clientes do varejo, fruto da processo de ‘comercialização’ dos bancos de investimento que se deu após as injeções governamentais de dinheiro em 2008.

Clientes com ‘DNA pessoa física’ tendem a manter seus depósitos, contrariamente ao caso da base de clientes do SBV, que é composta fundamentalmente de startups de tecnologia ávidas por crédito barato — em um tempo de vacas magras — para financiar suas operações.

O analista ainda argumenta que, caso um grande credor precise vender ativos, isso não implicaria necessariamente uma escassez de capital. Ao contrário das instituições menores, os ‘bancões’ fazem deduções de perdas através de seus portfólios de segurança a cada trimestre, o que limita os danos incrementais de qualquer liquidação dos ativos no balanço bancário.

O UBS Group salienta que, desde a Crise Financeira Global de 2008, os bancos são obrigados a manter uma cobertura de liquidez próxima dos 100%, mantendo uma quantidade suficiente de ativos de qualidade (Treasuries, principalmente) em caso de qualquer onda de saques.

“Permite-se aos bancos que eles mantenham esses títulos em contas especiais ‘Disponíveis para Venda’ e ‘Seguradas até Maturidade’, isentas da marcação a mercado em caso de desvalorização dos preços”, complementa o relatório.

Para William Castro, estrategista-chefe da Avenue, a mitigação de um risco sistêmico ao mercado financeiro se deve também à ação rápida do regulador. “A intervenção muito rápida da FIDC [Federal Deposit Insurance Corporation] ajuda a reduzir o receio do mercado com qualquer contaminação”.

Ainda assim, há um ponto válido para o receio dos investidores com os grandes bancos. Com o aumento dos juros nos EUA, as instituições estão cobrando mais por empréstimos e outros produtos financeiros.

Isso tem feito com que cada vez mais clientes estejam resgatando recursos, em uma constante busca de melhores retornos. Para enfrentar essa movimento, os credores  precisam pagar mais (por meio de descontos, por exemplo) para mantê-los em suas contas.

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Alerta vermelho para venture capital

Se por um lado os riscos de uma crise espraiada seja diminuta, o caso soa todos os alarmes para o setor de venture capital nos EUA. Esses empresas de capital de risco já vinha sendo pressionadas pelo ambiente restrito dos juros, em meio ao aperto monetário pelo Federal Reserve.

De acordo com a Bloomberg News, o banco californiano fazia negócios com quase 44% de todas as pequenas empresas de saúde e tecnologia apoiadas por capital de risco dos EUA que tiveram IPO no ano passado.

Agora, investidores estão preocupados que a falta de suporte de bancos regionais ao setor tech possa amplificar a escassez de financiamento já existente no mercado. Na prática, a percepção que fica é que a recessão na maior economia do mundo prevista pelos mercados já está ganhando tração no  setor de tecnologia

De acordo com o CEO da PerschingSquare Capital Management, Bill Ackman, “a falência do SBV pode destruir um motor de longo prazo para a economia, à medida que empresas apoiadas por venture capital dependem de instituições como a SBV para operar o seu dinheiro.”

Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
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