Biocombustível

De carona na China, empresa engorda o boi (e outros bichos) rodando o BR em frota verde

03 jul 2019, 9:14 - atualizado em 03 jul 2019, 9:17
Paridade de preço menor do etanol versus gasolina muitas vezes é anulada pela menor eficiência de rodagem

A expansão das importações chinesas de proteína animal brasileira, que socializa o crescimento nas cadeias do boi, do suíno e aves, ao menos residualmente impacta um setor totalmente diverso. E não se fala aqui do efeito cascata indireto sobre a economia, movimentando da padaria à venda de celulares – graças a Deus, diante de um PIB minguando -, mas diretamente.  Pelo segundo ano, na Trouw Nutrition não existe a opção deste ou daquele combustível – a frota de automóveis só roda obrigatoriamente no etanol.

São cerca de 6,4 milhões de kms em 12 meses.

Longe da canavicultura e assumindo os riscos de gastos maiores, especialmente nas entressafras, com um combustível de menor autonomia de rodagem, a empresa de nutrição animal atende a política de sustentabilidade do grupo global Nutreco e gostaria de ver a iniciativa se multiplicar – ainda que o seu presidente faça questão de não mostrar que isso seja um recado.

Stefan Mihailov mostra que os números não são pouca coisa, em se tratando de uma única empresa consumindo apenas o biocombustível da cana de açúcar. E ajudando a garantir a atividade sucroenergética mais ainda no entorno de suas bases brasileiras, como Campinas, Mirassol e Arujá, em São Paulo, e Cuiabá, no Mato Grosso.

Numa conta simples, cada veículo dos 160 roda 40 mil kms/ano, somando 6,4 milhões de kms percorridos pelos representantes comerciais, técnicos, gerentes e diretoria em todo o País. São aproximadamente 430 mil litros de gasolina a menos consumidos por ano, desde que o programa da Trouw começou em março de 2018.

Descontando a menor eficiência energética do etanol, pode-se colocar no mínimo 30% sobre aquele número e se chegará ao volume de hidratado comprado nos postos. “Não temos nenhum acordo comercial com usinas”, diz Mihailov.

Novo Mercado

Neste ano, mesmo na entressafra (dezembro-março), o etanol compensou em preços na paridade com a gasolina, quando o petróleo disparou bem acima dos US$ 70/barril e o dólar chegou a escalar mais de R$ 4. Hoje, os dois caíram, mas a safra está cheia, portanto tem oferta e sem concorrência com a fabricação de açúcar, que segue menor.

“Nunca visamos um ganho específico com essa política”, repete o executivo, que, naturalmente, entende que vai chegar o dia em que isso vai ser precificado pelo mercado na forma direta, com preço diferenciado na etiqueta dos produtos.

Se a Trouw Nutriton estivesse na B3, teria ações negociadas no Novo Mercado, amparadas ainda por outros ganhos ambientais, lembrados pelo seu presidente: a frota verde da empresa deixa de gerar 1 mil toneladas/ano de gases causadores de efeito estufa e mais de 6,3 mil árvores seriam necessárias para gerar igual benefício ao meio ambiente. Essa conta foi feita pela Unica, a entidade que agrega as usinas do Centro-Sul.

Para Mihailov, o impacto da política de sustentabilidade, ainda estendida a ações sociais (destinação de verba ao Hospital do Câncer, de Barretos, entre outros), é do “agro para o agro” e alcança os objetivos dos acionistas do grupo holandês, presente em 78 países, de produzir com responsabilidade.

Num momento em que o agronegócio do Brasil é alvo de críticas de líderes europeus, assustados com o que vêem sobre o pouco entusiasmo preservacionista do governo Bolsonaro, um player mostra no seu quintal o que pode fazer de bom no quintal dos outros.

E aqui, deixa um pouco mais de sua receita para o setor de biocombustíveis de cana, e de milho, e com o ganho que toda a cadeia vem tendo na esteira das compras chinesas de carnes, fica a expectativa de crescimento da Trouw, como de outras. Portanto, mais investimentos e maior consumo de etanol.

 

 

Repórter no Agro Times
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
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