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Dinastia por trás da Primark enfrenta teste após vendas zeradas

01 jul 2020, 14:53 - atualizado em 01 jul 2020, 14:53
Essa abordagem contrária ajudou a Primark a superar rivais e se tornar uma das redes de vestuário de crescimento mais rápido do mundo: as vendas aumentaram 46% de 2015 a 2019 (Imagem: Instagram/Primark)

No implacável jogo do varejo, a família Weston por muito tempo se mostrou uma jogadora ágil.

Durante quase um século, eles transformaram uma padaria canadense em um império transatlântico que vende de tudo, de mantimentos a bolsas Gucci de US$ 1,6 mil. Ao longo do caminho, acumularam uma das maiores fortunas do mundo e fizeram amizade com outro clã influente – a família real britânica.

Mas agora os Weston, que passaram quatro gerações dominando as adversidades do varejo, são postos à prova pela Covid-19.

Resta saber se os clientes retornarão à Selfridges & Co. e Fortnum & Mason, os empórios de luxo da família em Londres. E a decisão dos Weston de evitar as vendas online em sua rede de moda de preços acessíveis Primark, uma importante fonte da riqueza da família, pode sair pela culatra se o distanciamento social mudar permanentemente o comportamento do consumidor.

Essa abordagem contrária ajudou a Primark a superar rivais e se tornar uma das redes de vestuário de crescimento mais rápido do mundo: as vendas aumentaram 46% de 2015 a 2019.

A rede possui 79 mil funcionários e 380 unidades em 12 países, incluindo uma megaloja no Brooklyn, em Nova York. Durante as quarentenas deste ano, a receita mensal da Primark caiu para quase zero em relação a 650 milhões de libras (US$ 806 milhões).

Loblaw, Selfridges

Na quinta-feira, a Associated British Foods (ABF), controladora da Primark que também produz açúcar, produtos agrícolas e alimentos, deve divulgar os dados mais recentes de vendas.

No ano passado, a Primark gerou metade da receita da empresa e quase dois terços do lucro operacional ajustado.

Os Weston, uma família extensa com tendência a nomear os filhos do sexo masculino com a letra G, são divididos em dois ramos. O lado canadense assumiu um papel mais público: a matriarca Hilary Weston foi vice-governadora de Ontário no fim da década de 1990. A Loblaw, rede de supermercados e drogarias de capital aberto com 200 mil funcionários e 2,4 mil unidades, é presença antiga nos shopping centers canadenses.

W.G. Galen Weston, o neto de 79 anos do fundador da dinastia George Weston, obtém grande parte de sua riqueza de uma participação majoritária na George Weston Ltd., uma empresa de processamento de alimentos com sede em Toronto que controla a Loblaw. Sua fortuna encolheu 15% desde janeiro, para US$ 7,8 bilhões, de acordo com o Índice de Bilionários Bloomberg.

O lado britânico do clã preferiu manter um perfil tão discreto que seu nome nem aparece na história online da Fortnum & Mason, uma marca icônica de sua propriedade há décadas. Sua holding, a Wittington Investments, possui uma participação de 54,5% na ABF.

O braço filantrópico da família, a Garfield Weston Foundation, possui 79,2% da Wittington e membros individuais controlam o resto. No ano passado, a instituição desembolsou mais de 88 milhões de libras em doações.

Representantes de ambos os lados da família e suas empresas não comentaram.

Enquanto a Inditex, dona da marca Zara e controlada pelo bilionário espanhol Amancio Ortega, investe pesado em ferramentas de comércio eletrônico, George G. Weston continua cauteloso em fazer grandes mudanças no que chamou de “evento a cada cem anos”.

Com a preocupação crescente de que novos surtos de coronavírus estejam chegando, ele pode ter que repensar essa postura nas próximas semanas.

“Em um mundo de Covid-19, não há dúvida de que varejistas com recursos online avançados estão melhor posicionadas do que aquelas sem eles, mas adicionar um não seria fácil”, disse Ioannis Pontikis, analista da Morningstar. “Essa é realmente uma daquelas grandes decisões.”

bloomberg@moneytimes.com.br