Do CadÚnico ao CNPJ: novo perfil do empreendedorismo brasileiro derruba mito sobre o Bolsa Família
O Cadastro Único (CadÚnico), criado para mapear a pobreza no país, começa a revelar outro cenário: o do brasileiro empreendedor. Um levantamento do Sebrae, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social (MDS), mostra que 2,5 milhões de pessoas decidiram abrir um negócio próprio depois de ingressar na base de programas sociais do governo.
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Entre os microempreendedores individuais (MEIs) registrados, 55% — o equivalente a 2,5 milhões de pessoas — começaram a empreender após a inscrição.
Os números foram apresentados nesta terça-feira (21) pelo ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias, e pelo presidente do Sebrae Nacional, Décio Lima. Segundo eles, os resultados derrubam um mito comum: o de que abrir um CNPJ leva automaticamente à perda do Bolsa Família.
“São 4,6 milhões de pessoas do Cadastro Único que se formalizaram, viraram empreendedores e continuam recebendo o benefício”, afirmou Dias. “O estudo mostra a mudança estrutural trazida pelo novo Bolsa Família.”
Da vulnerabilidade à formalização
Criado para identificar famílias de baixa renda, o CadÚnico se tornou, na prática, um canal de inclusão produtiva. De acordo com o levantamento, 4,6 milhões dos 95 milhões de inscritos atuam como microempreendedores individuais.

Desse total, 34,1% receberam algum tipo de atendimento do Sebrae entre janeiro de 2020 e julho de 2025. O impacto é significativo: entre os que tiveram apoio técnico, 78,9% mantêm seus negócios ativos, ante 61,5% entre os que não receberam suporte.
“O Sebrae entra com capacitação e suporte técnico; o MDS, com a identificação das famílias. Juntos, conseguimos transformar vulnerabilidade em oportunidade”, disse Lima.
Perfis do novo empreendedor
A maioria dos MEIs vinculados ao CadÚnico atua no setor de serviços (53,1%), seguida por comércio (26,5%), indústria (10,1%) e construção civil (9,7%). Uma parcela menor, 0,5%, empreende na agropecuária.
Entre esses empreendedores, 41,7% ainda recebem o Bolsa Família e 6,4% o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Os dados mostram que formalização e proteção social podem coexistir, com muitos empreendedores mantendo o benefício durante a fase de transição financeira.
Os estados com maior proporção de MEIs inscritos no CadÚnico são Amazonas (56,3%), Acre (54,8%) e Piauí (54,6%).
Formalizar é apenas o começo
O avanço, no entanto, ainda depende de políticas públicas duradouras. O Acordo de Cooperação Técnica, assinado em 2023 entre o Sebrae e o MDS, prevê o compartilhamento de informações do CadÚnico e o desenvolvimento de pesquisas voltadas a pequenos negócios em situação de vulnerabilidade.
Mesmo com os avanços, muitos empreendedores ainda enfrentam falta de crédito, baixa escolaridade e dificuldade de acesso a mercados.
Segundo Décio Lima, a formalização representa apenas o primeiro passo: é preciso garantir que os novos empreendedores tenham condições de crescer e se manter no mercado, evitando o retorno à vulnerabilidade.
Os dados do Sebrae e do MDS reforçam que programas sociais e empreendedorismo não são excludentes — e podem caminhar juntos.
A Regra de Proteção do Bolsa Família, que mantém o benefício por um período após o aumento da renda familiar, ajuda a reduzir o medo de empreender e cria uma transição mais segura para quem tenta transformar subsídio em sustento.