Dólar perde força e fecha em leve queda a R$ 5,29 com commodities e crescente aposta de manutenção dos juros nos EUA
O dólar encerrou a semana assim como começou: em queda ante o real. A forte valorização das commodities e a possível mudança na postura do Federal Reserve sobre a política monetária movimentaram o câmbio.
Nesta sexta-feira (14), o dólar à vista (USDBRL) encerrou a sessão a R$ 5,2983, com leve queda de 0,02%.
O movimento destoou da tendência externa. Por volta das 17h (horário de Brasília), o DXY, indicador que compara o dólar a uma cesta de seis divisas globais, como euro e libra, operava com alta de 0,15%, aos 99,304 pontos.
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Na semana, o dólar à vista acumulou desvalorização de 0,72% ante real.
O que mexeu com o dólar hoje?
O câmbio teve mais um dia movimentado pela política monetária dos Estados Unidos. Novas declarações de dirigentes aumentaram as incertezas quanto à continuidade do ciclo de cortes nos juros norte-americanos
Hoje, o presidente da unidade do Federal Reserve (Fed, Banco Central dos EUA) de Kansas City, Jeffrey Schmid, disse que suas preocupações com a inflação “muito quente” vão muito além dos efeitos restritos das tarifas.
Segundo ele, o esfriamento observado no mercado de trabalho dos EUA se deve a mudanças estruturais que não podem ser apoiadas por taxas de juros mais baixas e, na leitura do dirigente, os cortes nos juros poderão prejudicar a convergência da inflação à meta de 2% do Fed.
“Essa foi a justificativa que me levou a discordar do corte das taxas na última reunião e que continua a guiar meus pensamentos na reunião de dezembro”, disse Schmid em uma conferência sobre energia co-organizada pelas unidades do Fed de Dallas e Kansas City em Denver, acrescentando que sua decisão na reunião será informada pelos dados coletados nas próximas semanas.
“Considero que a postura atual da política monetária é apenas modestamente restritiva, o que é mais ou menos onde eu acho que ela deveria estar.”
Na decisão de outubro, Schmid foi um dos dois dissidentes que votaram contra a redução da taxa de juros em 0,25 ponto percentual, para a faixa de 3,75% a 4,00%.
A declaração se soma à presidente da unidade do Fed de San Francisco, Mary Daly — que até ontem (13) era uma firme defensora dos cortes nas taxas do Fed. Em evento em Dublin na véspera, Daly disse que qualquer decisão a cerca de quatro semanas antes da próxima reunião de política é “prematura”.
Além da possível mudança na postura do BC, o mercado tenta avaliar os impactos econômicos da mais longa paralisação do governo norte-americano. O ‘shutdown’, encerrado na noite da última quarta-feira (12), durou 43 dias.
Projeções do Congresso americano indicam que um shutdown de seis semanas pode reduzir o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre em até 1,5 ponto percentual.
Os atrasos na divulgação de dados econômicos também devem continuar afetando as análises. A Casa Branca já sinalizou que tanto o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) quanto o relatório de empregos (payroll) provavelmente não serão contabilizados, o que pode comprometer de forma permanente parte das séries históricas — e a análise do Fed, que depende desses indicadores para calibrar sua política monetária.
A próxima reunião do Comitê Federal do Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Fed está marcada para os dias 9 e 10 de dezembro. Perto do fechamento, a ferramenta FedWatch, do CME Group, indicava 54,1% de chance de o BC manter os juros na faixa de 3,75% a 4,00% ao ano. Já a probabilidade de corte de 0,25 ponto percentual é de 45,9%.
Ante o real, o dólar perdeu força com a forte valorização do petróleo e do minério de ferro, que tende a beneficiar países exportadores de matérias-primas. Os contratos futuros do petróleo Brent, com vencimento em janeiro, terminaram as negociações com alta de 2,19%, a US$ 64,39 o barril, na Intercontinental Exchange (ICE), em Londres.
Já o contrato futuro mais líquido do minério de ferro, para janeiro, subiu 0,26%, a 772,5 yuans (US$ 108,86) a tonelada, na Bolsa de Dalian, na China.
“O dólar retomou a queda ao longo da sessão, num movimento impulsionado pela alta do petróleo, que atraiu fluxo comercial ao mercado à vista, e pelo alívio trazido pelo reagendamento dos indicadores americanos atrasados após o shutdown, reduzindo incertezas e melhorando o sentimento global”, Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, em nota.
*Com informações de Reuters