Dólar sobe a R$ 5,43 com IPCA-15 acima do esperado e tensão entre Trump e Fed

O dólar ganhou força e fechou em alta com embate entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e a diretoria do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA), além de dados de inflação domésticos acima do esperado.
Nesta terça-feira (26), o dólar à vista (USDBRL) encerrou as negociações a R$ 5,4345, com alta de 0,37%.
O movimento destoou da tendência vista no exterior. Por volta de 17h (horário de Brasília), o DXY, indicador que compara o dólar a uma cesta de seis divisas globais, como euro e libra, caía 0,17%, aos 98.260 pontos.
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O que mexeu com o dólar hoje?
A desvalorização das commodities pesou sobre as moedas emergentes, como o real, nesta terça-feira (26). Além disso, o dólar ganhou força com dados de inflação no Brasil e aumento da aversão a risco dos investidores internacionais.
Por aqui, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) recuou 0,14% em agosto — desaceleração menor que a esperada. Segundo a mediana das projeções coletadas pelo Broadcast, esperava-se uma queda de 0,21% neste mês. Apesar disso, trata-se da primeira deflação desde julho de 2023.
Na avaliação do Itaú BBA, o IPCA-15 trouxe surpresas altistas em energia elétrica residencial, cursos regulares, alimentação fora do domicílio e higiene pessoal no dado considerado a prévia da inflação.
“O dado de hoje mostrou surpresa altista disseminada em serviços e serviços subjacentes, interrompendo a tendência de queda das últimas divulgações e reforçando o impacto altista do mercado de trabalho apertado sobre a inflação”, escreveu a economista do banco, Luciana Rabelo, em relatório.
Ela ainda afirmou que o IPCA-15 não muda o cenário base de inflação de 5,1% neste ano, com serviços subjacentes próximos de 7%.
Já a Warren destacou que, apesar da deflação, a leitura veio pior do que o esperado, sobretudo pelos núcleos de serviços mais elevados. Para os economistas da casa, a aceleração dos núcleos liga “um sinal de alerta”.
“Em suma, a leitura qualitativa do IPCA-15 de agosto foi negativa para nós, com resultados piores do que projetávamos para a inflação de curto prazo. Embora parte do desvio tenha origem em itens voláteis, a piora dos núcleos, componentes fundamentais para a tomada de decisão do Banco Central (BC), levanta sinal de alerta para próximas divulgações”, disse a Warren em nota.
EUA
No exterior, a pressão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) se intensificou. Na noite de ontem (25), Trump demitiu a diretora Lisa Cook por alegações de impropriedade em empréstimos hipotecários.
Já nesta terça-feira (26), Cook rebateu a decisão afirmando que Trump não tem autoridade para afastá-la e disse que entrará com uma ação judicial para impedir sua demissão.
“A tentativa dele de demiti-la, baseada apenas em uma carta de referência, não tem qualquer base factual ou legal. Entraremos com uma ação judicial contestando essa ação ilegal”, afirmou o advogado de Washington Abbe Lowell, que representa Cook, em comunicado.
No final da tarde, o chefe da Casa Branca respondeu que está preparado para uma disputa judicial com a diretora.
A demissão de Cook marca uma escalada na tentativa de Trump de remodelar a composição da liderança do Fed. Ele vem pressionando o Banco Central, em ataques diretos ao presidente da autoridade monetária, Jerome Powell, para que faça cortes agressivos nas taxas de juros.
O Federal Reserve também se manifestou sobre o embate. A autoridade monetária afirmou que obedecerá qualquer decisão judicial. “Vamos continuar a exercer as atribuições previstas em lei”, disse o BC norte-americano.
“Longos mandatos e proteções contra destituição de governadores servem como uma salvaguarda vital, garantindo que as decisões de política monetária sejam baseadas em dados, análises econômicas e nos interesses de longo prazo do povo americano”, afirmou um porta-voz do Fed.