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Dólar não para de subir e chega a superar R$ 4,63; moeda dispara 15,4% em 2020

05 mar 2020, 11:47 - atualizado em 05 mar 2020, 11:47
Dólar Câmbio
O pânico que vem abalando os mercados já deixa o dólar no caminho de seu 12° pregão diário de ganhos (Imagem: REUTERS/Sergio Moraes)

O dólar chegou a superar 4,63 reais na manhã desta quinta-feira mesmo após anúncio de leilão extraordinário pelo Banco Central, subindo pelo 12° dia consecutivo em meio a expectativas de corte de juros devido aos riscos econômicos do coronavírus.

Às 11:46, o dólar avançava 0,84%, a 4,6237 reais na venda, depois de tocar 4,6305 reais, máxima histórica intradiária. O dólar futuro de maior liquidez avançava 0,87%, a 4,6320 reais. No ano, a divisa dispara 15,4%.

Em todo o mundo o foco seguia no surto de coronavírus em rápida expansão, que já atingiu cerca de 95 países, infectando mais de 95 mil pessoas, causando a morte de mais de 3 mil e ameaçando interromper as cadeias de suprimento mundiais.

“Todo esse movimento é global. Há uma apreciação do dólar geral”, disse Italo Abucater, gerente de câmbio da Tullett Prebon, citando movimentos de aversão a risco em meio a incertezas sobre o futuro da doença. “Quando que uma vacina será descoberta? Quando aparecerá uma cura?”

O pânico que vem abalando os mercados já deixa o dólar no caminho de seu 12° pregão diário de ganhos, depois de ter renovado máximas recordes nos últimos dez fechamentos. Na quarta-feira, o dólar interbancário registrou salto de 1,55%, a 4,5806 reais.

O movimento acompanhava o exterior, com a moeda norte-americana ganhando contra peso mexicano, lira turca, rand sul-africano e dólar australiano, divisas mais arriscadas. O dólar perdia contra ativos seguros, como o iene japonês, o que deixava o índice da moeda norte-americana em queda de 0,38% contra seis pares.

O dólar já disparou mais de 15% ante o real em 2020 (Imagem: REUTERS/Dado Ruvic/Illustration)

Segundo muitos analistas, colaborando para esse movimento está a expectativa de corte de juros no Brasil, depois que vários bancos centrais, incluindo o Federal Reserve, iniciaram movimentos de flexibilização monetária em defesa contra os riscos do coronavírus.

A redução sucessiva da Selic a mínimas históricas tornou alguns rendimentos baseados na taxa de juros brasileira menos atraentes para o investidor estrangeiro, o que tem prejudicado o desempenho do real.

Na véspera, contratos de DI passaram a embutir 100% de chance de corte da Selic neste mês e também uma taxa média de juros no quarto trimestre na casa de 3,7%, bem abaixo da Selic atual, de 4,25% ao ano.

Em medida emergencial, o Federal Reserve cortou em 0,25 pontos percentuais a taxa de juros dos EUA (Imagem: Reuters/Chris Wattie)

Na tentativa de conter possível exagero no comportamento do câmbio, o Banco Central do Brasil anunciou para este pregão novo leilão de até 20 mil contratos de swap cambial tradicional com vencimento em agosto, outubro e dezembro de 2020, no valor de 1 bilhão de dólares, em que vendeu o total da oferta.

O BC já havia realizado nesta quinta-feira leilão em que vendeu 20 mil contratos de swap cambial tradicional com vencimentos semelhantes.

Segundo Abucater, um cenário doméstico desfavorável –com a possibilidade de a conjuntura brasileira se sair pior do que a de seus pares ao final da crise sanitária mundial– é um dos motivos para as atuações recentes do Banco Central nos mercados, mas citou ineficiência das operações.

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Em cenário de alta do dólar, o Banco Central decidirá corte da Selic  (Imagem: Raphael Ribeiro/BCB)

“O próprio BC não tem tido atuações enérgicas mesmo tendo ferramentas para tal. Ele não quer queimar o cartucho, porque entende que esse é um movimento global.”

Imediatamente após o anúncio do segundo leilão do dia, o dólar reduziu drasticamente a alta e chegou a tocar a mínima da sessão de 4,5880 reais, mas logo recuperou o fôlego, voltando a superar 4,60 reais.

Para Flávio Serrano, economista sênior do banco Haitong, “as atuações servem mais pra evitar movimentos de mais volatilidade no dia do que para mudar o nível do câmbio”.

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A economia brasileira registrou em 2019 o desempenho mais fraco em três anos ao crescer 1,1% (Imagem: Unsplash/@rafaelabiazi)

“O que vai determinar se o real vai se valorizar ou não vai ser a diferença de crescimento entre Brasil e seus pares. Não são intervenções pontuais que vão alterar o nível do dólar, e sim uma mudança da dinâmica econômica.”

A economia brasileira registrou em 2019 o desempenho mais fraco em três anos ao crescer 1,1%, terminando o ano com fortes perdas de investimento e levantando dúvidas sobre a atividade em 2020.