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Real é destaque entre rivais emergentes com apetite estrangeiro e abre debate sobre dólar baixo de R$ 5

26 jan 2023, 12:01 - atualizado em 26 jan 2023, 12:01
Real brasileiro desponta com desempenho entre pares emergentes, em meio ao apetite dos investidores estrangeiros e esquenta o debate sobre o dólar abaixo de R$ 5 (Arte: Money Times)

O real brasileiro desponta entre os pares emergentes com o melhor desempenho, em meio ao apetite dos investidores estrangeiros por ações na bolsa brasileira. O ingresso de recursos externos por aqui esquenta o debate sobre o dólar vir abaixo de R$ 5,00.

Para o economista Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central, não fossem as incertezas fiscais e as surpresas no discurso do novo governo, o dólar já estaria negociado entre R$ 4,60 e R$ 4,90. “Isso tem impedido que o real se beneficie da queda global do dólar”, disse no Twitter.

Ou seja, a moeda brasileira não andou tão bem quanto os rivais latinos. Ainda assim, o desempenho do real é destaque. Um levantamento feito por meio do terminal Bloomberg mostra que desde o início do ano até ontem (25) o real acumula valorização de 5,57%, ficando em quarto lugar no ranking no período.

Na liderança, aparece o peso colombiano, com +6,91%, seguido do xará chileno (+6,06%). Em terceiro lugar na lista, está o florim húngaro, com alta de 6,37% no mesmo período. Confira o relatório, de caráter informativo:

Estrangeiro otimista, local não

Seja como for, é o ávido apetite do gringos por ativos brasileiros que dá ritmo ao Ibovespa e derruba o dólar. No acumulado do mês – e, portanto, do ano – o saldo de capital externo entre as ações listadas na B3 (mercado secundário) é positivo em pouco mais de R$ 8 bilhões até a última terça-feira (24). 

Enquanto isso, os investidores locais (pessoas físicas e institucionais) já retiraram, juntos, mais de R$ 7 bilhões da bolsa até o mesmo período. A diferença é que enquanto os locais continuam pessimistas com o Brasil, em meio à cautela com o cenário político-fiscal, os estrangeiros não têm “viés político” nos negócios nem são emocionais com as ações.

Volpon explica, em outro “fio” no Twitter, que o otimismo do gringo com o Brasil é baseado em uma visão relativa em relação a outros emergentes. Não se trata, portanto, de uma “métrica absoluta de muitos locais”. 

Nessa análise “relativa”, o Brasil não tem a pior história. “Muito pelo contrário. E é isso que explica o fluxo recente para o Brasil”, comenta um um diretor da tesouraria de um banco estrangeiro. 

Dólar abaixo de R$ 5?

Essa entrada de recursos externos tem reflexo no dólar, que ontem fechou no menor valor em quase três meses. Tal desempenho abriu o debate sobre a moeda norte-americana furar a marca simbólica de R$ 5,00. 

“Não há razão para esperar que o dólar ultrapasse esse nível”, avalia o diretor citado acima, que prefere não ser identificado. Para ele, a maior parte – senão toda – a razão que explica o alívio do real pode ser explicada por algum fluxo à vista pontual. “O que não é nada suficiente para destruir as fortes convicções dos locais”, emenda o profissional. 

Nesse sentido, o ex-diretor do BC avalia que a tendência do comportamento do real em relação ao dólar vai depender do fluxo de notícias. “Não por acaso vemos o dólar ‘disparar com [más] notícias e, depois, cair lentamente, de volta perto de R$ 5”, emenda Volpon.

Seja como for, quando as saídas locais cessarem e o investidor residente deixar de lado o habitual ‘drama’ latino, o Ibovespa e o dólar devem ter um grande alívio. “Os investidores estrangeiros estão mais construtivos em relação ao Brasil e interessados em buscar oportunidades em emergentes. E isso é bem interessante”, conclui o diretor do banco estrangeiro.

Editora-chefe
Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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