Mercados

Dólar vai continuar caindo? Rogério Xavier, da SPX, responde

23 fev 2022, 14:01 - atualizado em 23 fev 2022, 14:01
Para o gestor da SPX, o mercado tem a percepção de que a taxa básica de juros no Brasil está “exageradamente elevada” (Reprodução)

O dólar foi abaixo da marca de R$ 5 durante o pregão desta quarta-feira (23), acumulando recuo de 9,6% neste ano.

Mas o movimento não deve continuar por muito tempo, na avaliação de Rogério Xavier, da SPX Capital, um dos gestores mais respeitados do país.

“Não acredito que a depreciação do câmbio vá se perdurar, porque a política monetária no resto do mundo vai apertar e aqui vai afrouxar”, disse nesta quarta-feira (23) em evento promovido pelo BTG Pactual.

O Banco Central do Brasil segue desde meados do ano passado elevando a Selic, que saiu de 2% para os atuais 10,75%, enquanto o Fed, a autoridade monetária norte-americana, indicou que começará a elevar os juros em março – hoje está entre 0% e 0,25% ao ano.

Os juros domésticos elevados ajudam a atrair fluxo estrangeiro para a bolsa brasileira, que por sua vez tem impacto sobre o câmbio.

No início do mês, Xavier chegou a dizer que o saldo positivo na B3 também poderia ser explicado pela visão otimista do investidor externo sobre o ex-presidente Lula, depois de a bolsa brasileira ter ficado para trás. 

Para o gestor da SPX, o mercado tem a percepção de que a taxa básica de juros no Brasil está “exageradamente elevada”. Ele destacou que o efeito da política monetária leva tempo – cerca de nove meses – para ter efeito sobre a economia real.

No caso dos EUA, lembrou Xavier, o aperto monetário nem mesmo começou. “O Fed ainda está comprando títulos, ainda está com a política monetária estimulativa”, afirmou.

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Pressão inflacionária

O gestor disse ver no mundo desenvolvido acontecendo o que ocorreu com o Brasil no passado: pressão inflacionária nos índices de preço do atacado, que depois passam para o consumidor.

Ele ainda lembrou da inflação em dólares, “a grande novidade do mundo atual”. “O presidente do BC, Roberto Campos Neto, falou da inflação importada ontem [durante o evento do BTG]. Ele falava dessa inflação em moeda forte”.

Para Xavier, os bancos centrais vão ter de lidar com essa inflação, “sendo que o momento atual é muito mais delicado do que parece”.

“É muito provável que a gente tenha que lidar com inflação alta por mais tempo e usar a política monetária restritiva por mais tempo”, afirmou, sobre os EUA. “Os juros podem ir para níveis inimagináveis”

Para Xavier, há elementos dentro da economia americana que mostram sobreaquecimento, “com a inflação já em níveis muito altos”. “Serviço da dívida está em patamares muito baixos, poupança ainda muito alta”, citou.

O gestor disse ver com preocupação a Europa, “que não tinha inflação até o passado recente”. Os preços, segundo ele, estão em níveis elevados no atacado. “A gente está vendo números muito altos e que falam por si”.

“Os bancos centrais ainda têm sido complacentes com a inflação e isso vai ter um preço a ser pago”, afirmou.

Editor
Jornalista formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com MBA em finanças pela Estácio. Colaborou com Gazeta do Povo, Estadão, entre outros.
kaype.abreu@moneytimes.com.br
Jornalista formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com MBA em finanças pela Estácio. Colaborou com Gazeta do Povo, Estadão, entre outros.