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Doria: “Saída do PSDB é o caminho mais provável”, diz cientista político

23 maio 2022, 19:06 - atualizado em 23 maio 2022, 19:06
João Doria
Doria não conseguiu alinhar o “tempo da política” à sua temporalidade de empresário (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

Diante do anúncio da desistência da corrida presidencial de 2022, o futuro político do ex-governador João Doria (PSDB) está incerto. Em seu pronunciamento, realizado nesta segunda-feira (23), Doria afirmou entender não ser a escolha da cúpula do PSDB e que “deixa a disputa com o coração ferido, mas com a alma leve”.

Sem dar sinais de que disputará algum cargo nas eleições deste ano, o ex-governador teria antecipada a desistência da pré-candidatura a aliados no domingo (22), publicou a jornalista Julia Dualibi, do G1. Na ocasião, Doria também teria afirmado que vai se dedicar a um projeto empresarial.

Racha no ninho dos tucanos?

Para o cientista político e e professor da FGV, Eduardo José Grin, o ex-governador não tem mais condições políticas de continuar no PSDB.

“Para onde ele irá agora é uma incógnita. É muito provável que as eleições gerem uma recomposição partidária no próximo ano. Doria deve esperar o resultado para se decidir”, diz.

Rafael Cortez, analista político e sócio da consultoria Tendências, crê que o ex-governador sai desgastado da corrida, reflexo das dificuldades enfrentadas dentro do próprio partido em construir seu projeto presidencial.

“Já havia sinais dessa dificuldade ao longo das prévias: os atrasos, trocas, disputas públicas, insinuações de alteração dos resultados, controvérsia depois de sua vitória. No fim, ele não teve sustentação para lançar sua candidatura”, afirmou.

Cortez também enxerga a saída como resultado de dificuldades sendo enfrentadas pelo partido como um todo para se posicionar no xadrez político brasileiro.

“O PSDB tem dificuldades de se posicionar no cenário presidencial de 2022. Ele enfrenta uma crise de descolamento de ser o partido que organizava a centro-direita. As lideranças estaduais tentaram encontrar saída para esse estado de crise, mas o partido não encontra saída, independentemente dos candidatos”, disse.

O analista crê que, com a legenda perdendo cada vez mais protagonismo da direita e com o ex-candidato saindo retraído da disputa, é pouco provável que Doria dê o primeiro passo para se lançar a algum outro cargo, como uma cadeira ao Senado.

” O caminho do Doria é tentar preservar alguma coisa de seu capital político em cenário de fracasso do projeto de 2022″, conclui.

Cortez também espera que Doria irá aguardar um posicionamento oficial de seu partido sobre o possível apoio à candidatura de Simone Tebet (MDB) para definir planos futuros.

Simone Tebet
O PSDB deve apoiar a candidatura de Simone Tebet (Imagem: Agência Senado/Divulgação)

“Outro ritmo”

Ambos os especialistas acreditam que Doria, gestor — e não político, como afirma ele próprio — que almejou ir da prefeitura de São Paulo à presidência da República em menos de dez anos, não conseguiu alinhar o ritmo empresarial com o qual estava acostumado ao ritmo da política.

Na análise de Grin, a desistência da corrida presidencial não significa necessariamente que a carreira pública de João Doria tenha acabado. Entretanto, considera que o tucano terá que mudar a maneira como faz política para se viabilizar novamente.

“Ele acelera o tempo da política como se fosse o tempo empresarial. Ele não é o CEO de uma empresa que toma as decisões sozinho. Os partidos têm suas instâncias decisórias”, diz.

Cortez também analisa que Doria encontrou dificuldades em conseguir articulações com seus parceiros de legenda.

“Ele teve dificuldades de socializar com lideranças do PSDB desde o início”, afirmou.

O sócio da Tendências igualmente enxerga uma defasagem de ritmos nos processos decisórios de Doria e os da política “tradicional”.

“O Doria tem essa velocidade e frequência mais intensa do que as lideranças mais tradicionais poderiam aceitar, como as mudanças bruscas dentro do partido, mudanças dos cargos aos quais foi eleito, movimento de aderir ao bolsonarismo e depois largar”, listou.

Para Cortez, todas essas mudanças trazem inseguranças e instabilidades mal-vistas no meio político, o que acabou minando o caminho do ex-governador.

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