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Coluna do Carlos Lopes

Eleições 2022: Por que você não deve cair na falácia do voto útil

09 set 2022, 17:27 - atualizado em 09 set 2022, 17:27
Eleições 2022 fundo partidário Lula Jair Bolsonaro voto útil
“A decisão particular de agir estrategicamente, quando agregada, acaba dando efetividade à teoria do voto útil, porém levando a resultados muitas vezes piores que aqueles que seriam atingidos caso todos votassem de acordo com suas preferências originais”, afirma Carlos Lopes (Imagem: REUTERS/Bruno Kelly)

Novamente teremos uma eleição polarizada no país. O difícil período da pandemia ajudou a exacerbar as tensões políticas e agravar ainda mais a tradicional divisão. Neste ambiente, o voto comumente deixa de ser uma forma de traduzir suas preferências e passa a ser resultado apenas da rejeição ao outro oposto ideológico. Por isso, muitos adotam o chamado “voto útil” para evitar a vitória do outro extremo. A lógica econômica, no entanto, sugere que esse não é o melhor caminho.

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Em 1957, o economista político Anthony Downs procurou descrever a racionalidade por trás do voto. A motivação do eleitor em votar é dada pelo benefício esperado do seu voto, somado a um certo senso de dever cívico do eleitor, menos os custos de votar. O benefício esperado do voto é ponderado pela probabilidade de seu voto alterar o resultado.

Com 156 milhões de eleitores aptos a votar em 2022, a probabilidade de um único voto fazer a diferença é desprezível. Além disso, há custos associados ao voto, como deslocamento, filas ou mesmo a oportunidade de usar o mesmo tempo para outras coisas. Como um único voto é insignificante em uma eleição ampla, o benefício esperado para cada eleitor também é teoricamente nulo, enquanto os custos são significativos.

A experiência mostra, por exemplo, que o comparecimento às urnas é maior em disputas apertadas, nas quais o eleitorado sente ter um papel mais importante na influência do pleito em determinada direção. O raciocínio do voto útil é justamente este. Aceita-se a escolha de um candidato pior do que aquele visto como ideal com o objetivo de influenciar o resultado.

A decisão particular de agir estrategicamente, quando agregada, acaba dando efetividade à teoria do voto útil, porém levando a resultados muitas vezes piores que aqueles que seriam atingidos caso todos votassem de acordo com suas preferências originais. Isso acaba por reforçar a classe política tradicional e a manutenção do status quo.

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Efeitos do voto útil não acabam nas eleições

Carlos Lopes, economista do banco BV
“Quem está descontente com o provável resultado da eleição promove o voto útil como saída, mas pode ser vítima da própria tática ao longo do tempo”, alerta Lopes (Imagem: Divulgação/BV)

Quem vota dessa forma tem o foco exclusivamente na eleição em questão, subestimando seus diferentes efeitos a longo prazo. Entretanto, eles existem. O imediatismo enfraquece o processo de renovação política ao ser um incentivo para que partidos indiquem nomes conhecidos, uma vez que estes têm maior chance de capturar o voto útil.

Cada voto recebido serve de motivação ao candidato para que ele continue defendendo as suas ideias. Quando agregado, o voto autêntico dá maior notoriedade para quem as pessoas se identificam, favorecendo seu posicionamento em uma eleição futura.

Outra característica do voto útil é que ele é defensivo, dado para alguém que não era inicialmente a opção preferida. Ou seja, escolhe-se o nome com mais chances de vencer e não aquele com propostas mais alinhadas a sua preferência. Isso enfraquece o debate sobre as agendas de governo, dificultando a cobrança da sociedade sobre as realizações do candidato durante o eventual mandato.

Sabendo disso, o objetivo do político tradicional é subir nas pesquisas rapidamente no início da eleição, pois isso o possibilita capturar parte do voto útil. Desta forma, sobram propostas rasas e impraticáveis, ataques levianos a adversários e discursos demagógicos.

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Além disso, um candidato eleito com base em propostas superficiais, ao chegar ao poder não tem legitimidade para aprovar as reformas que de fato são necessárias para o país, pois não teve o diálogo claro e honesto com o seu eleitor.

Quem está descontente com o provável resultado da eleição promove o voto útil como saída, mas pode ser vítima da própria tática ao longo do tempo.

A opção pelo voto autêntico deve ser amplamente propagada e defendida por aqueles que assim optarem, de forma a influenciar outros eleitores nesta mesma direção. A conscientização dos eleitores quanto a seus potenciais benefícios permitiria aos poucos descontruirmos a falácia do voto útil.

O voto autêntico é a decisão mais racional a se tomar e a melhor forma de imprimir novos valores à política.

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Carlos Lopes é economista no banco BV desde 2013 e já passou por instituições financeiras como Itaú BBA, Banco Fibra e WestLB. É formado pela Universidade de São Paulo e tem mestrado no Insper.

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carlos.lopes@moneytimes.com.br
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