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Elon Musk é acusado de assédio sexual por funcionária da SpaceX; empresa pagou US$ 250 mil por silêncio

20 maio 2022, 11:30 - atualizado em 20 maio 2022, 11:30
Elon Musk
Após acusações, Elon Musk diz que os ataques contra ele têm motivações políticas (Imagem: REUTERS/Michele Tantussi)

A SpaceX, empresa aeroespacial fundada por Elon Musk, o homem mais rico do mundo, teria pagado US$ 250.000 a uma comissária de bordo para resolver uma reclamação de má conduta sexual contra Musk em 2018, segundo o Business Insider na quinta-feira (19).

A atendente trabalhou como membro da tripulação de cabine em regime de contrato para a frota de jatos corporativos da SpaceX.

Ela acusou Musk de “expor seu pênis ereto para ela, esfregar sua perna sem consentimento e oferecer-lhe um cavalo em troca de uma massagem erótica”, de acordo com entrevistas e documentos obtidos pelo Insider.

O incidente, ocorrido em 2016, é alegado em uma declaração assinada por uma amiga da atendente e elaborada em apoio à sua reclamação.

Os detalhes da história são extraídos da declaração, bem como de outros documentos, incluindo correspondência por e-mail e outros registros compartilhados com o Insider pela amiga.

O episódio

Segundo a declaração, a comissária confidenciou à amiga que, após assumir o cargo de comissária de bordo, foi incentivada a se licenciar como massagista para poder atender Musk.

“Eles insinuaram que ela voaria com mais frequência se ela fizesse isso porque ela seria capaz de fazer massagens apropriadas em Elon. Eu achei isso meio estranho porque ela não havia sido contratada para ser um massagista, mas sim  para ser comissária de bordo. E se Elon gosta de massagens, então ele deveria estar pagando para que ela fosse para a escola de massagistas. Mas ela estava muito feliz e ansiosa para ter o emprego e poder viajar”, acrescentou.

E, foi durante uma dessas massagens em uma cabine particular no Gulfstream G650ER de Musk, que o bilionário lhe fez uma proposta, segundo a amiga da funcionária.

A comissária de bordo disse à amiga que o fundador da SpaceX e da Tesla (TSLA) pediu que ela fosse ao seu quarto durante um voo para Londres no final de 2016 “para uma massagem corporal completa”, diz a declaração.

Quando ela chegou, a atendente descobriu que o homem mais rico do mundo “estava completamente nu, exceto por um lençol cobrindo a metade inferior de seu corpo”.

Durante a massagem, diz a declaração, Musk “expôs seus órgãos genitais” e depois “a tocou e se ofereceu para comprar um cavalo se ela ‘fizesse mais’, referindo-se à realização de atos sexuais”.

“Ele tirou o pênis para fora, estava ereto”, disse a amiga, descrevendo as acusações. “E ele começou a fazer propostas a ela, como se ele tocasse sua coxa, ele compraria um cavalo para ela. E ele basicamente tentou suborná-la para realizar algum tipo de favor sexual.”

A atendente, que monta a cavalo, recusou e continuou com a massagem sem se envolver em nenhuma conduta sexual.

Em entrevista ao Insider, a amiga descreveu com mais detalhes as alegações da comissária. Ela falou sob condição de anonimato, citando temores por sua segurança pessoal, mas a publicação norte-americana diz estar ciente de sua identidade.

A Insider também sabe a identidade da comissária de bordo, mas não a nomeou porque ela alegou ser vítima de má conduta sexual. Ela se recusou a comentar esta história.

Posicionamento de Elon Musk e da SpaceX

O Insider afirma que entrou em contato com Musk para comentar, mas ele enviou um e-mail pedindo mais tempo para responder e disse que há “muito mais nessa história”.

A publicação dos EUA estendeu o prazo e reiterou a oferta para Musk comentar as alegações. Ele não respondeu.

“Se eu estava inclinado a me envolver em assédio sexual, é improvável que esta seja a primeira vez em toda a minha carreira de 30 anos que isso venha à tona”, escreveu ele, chamando a história de “pedaço de sucesso politicamente motivado”.

Em seu Twitter (TWTR), Musk afirma que as alegações são “totalmente falsas”.

O empresário está atualmente envolvido em uma tentativa de comprar o Twitter impulsionado por sua crença declarada de que “a liberdade de expressão é a base de uma democracia em funcionamento”. No início deste mês, ele escreveu na rede social que “a luz do sol é o melhor desinfetante”.

O Twitter não respondeu a um pedido de comentário do Insider.

Contatado por telefone celular pelo site americano, o vice-presidente jurídico da SpaceX, Christopher Cardaci, disse: “não vou comentar sobre nenhum acordo”.

A empresa não respondeu aos pedidos de comentários para seu endereço de e-mail de contato da mídia geral.

“Ela estava sendo expulsa e punida por se recusar a se prostituir”

A amiga disse ao Insider que a funcionária da SpaceX contou-lhe sobre a má conduta enquanto elas estavam em uma caminhada juntas logo após uma viagem para Londres.

A amiga descreveu a atendente como perturbada e visivelmente abalada.

“Ela estava muito chateada”, disse a amiga. “Ela não sabia o que fazer.”

A comissária de bordo disse à amiga que as ofertas de trabalho começaram a diminuir depois que ela recusou os avanços do bilionário.

“Antes do incidente, ela considerava o Sr. Musk uma pessoa para admirar”, diz a declaração. “Mas, depois que ele se expôs, a tocou sem permissão e se ofereceu para pagar por sexo, ela ficou ansiosa.”

“Ela imaginou que as coisas poderiam voltar ao normal e ela fingiria que nada aconteceu”, comentou a amiga ao Insider. “No entanto, ela começou a se sentir como se estivesse recebendo algum tipo de retaliação quando seus turnos foram reduzidos e ela estava começando a se sentir muito estressada”, continuou.

Eventualmente, diz a declaração, a atendente sentiu que “ela estava sendo expulsa e punida por se recusar a se prostituir”.

Indenização ou compra pelo silêncio?

Em 2018, após se convencer de que sua recusa em aceitar a proposta de Musk havia diminuído suas oportunidades na SpaceX, a atendente contratou um advogado trabalhista da Califórnia e enviou uma reclamação ao departamento de recursos humanos da empresa detalhando o episódio.

Nessa época, o escritório do advogado entrou em contato com a amiga e pediu que ela preparasse a declaração corroborando as alegações.

A reclamação do atendente foi resolvida rapidamente após uma sessão com um mediador na qual Musk compareceu, segundo o Insider.

O assunto nunca chegou a um tribunal.

Em novembro de 2018, Musk, a SpaceX e a comissária de bordo firmaram um acordo de indenização concedendo à funcionária um pagamento de US$ 250.000 em troca da promessa de não processar a companhia ou Musk.

O acordo, segundo o Insider, ainda incluia cláusulas restritivas de não divulgação e não depreciação que impedem a atendente de discutir o pagamento da indenização ou divulgar qualquer informação sobre Musk e seus negócios, incluindo SpaceX e Tesla.

A amiga disse ao Insider que decidiu se apresentar sem consultar a comissária de bordo porque, como sobrevivente de agressão sexual, sentiu a obrigação de compartilhar o que sabe sobre Musk.

Ao contrário da comissária de bordo, a amiga não está vinculada a nenhum acordo de confidencialidade.

Permanecer em silêncio, disse a amiga, a tornaria cúmplice.

“Quando você escolhe permanecer em silêncio, sim, você se torna parte desse sistema”, disse ela. “Você se torna parte dessa máquina que permite que alguém como Elon Musk continue a fazer as coisas horríveis que ele fez.”

Os acordos de confidencialidade são componentes cruciais para casos como esses.

A Califórnia, onde a SpaceX está sediada, não permite mais que as empresas exijam cláusulas de confidencialidade em acordos como o que a atendente assinou.

Apenas alguns meses após seu acordo em 2018, o então governador Jerry Brown assinou a lei “Stand Against Non-Disclosure Act”, que proíbe o uso de NDAs,  os “Non Disclosure Agreement” (acordo de não divulgação, em tradução livre), em acordos envolvendo assédio sexual, discriminação ou agressão, a menos que sejam solicitados pelo queixoso.

Além da SpaceX: Os outros casos

Essa é a única alegação e acordo conhecido por má conduta sexual ligada pessoalmente a Musk. Duas de suas empresas, no entanto, enfrentaram acusações de assédio sexual no passado.

Em dezembro de 2021, na mesma semana em que ele foi nomeado Personalidade do Ano da Time, quatro mulheres que trabalhavam na SpaceX falaram sobre o assédio sexual que teriam enfrentado na empresa, na qual Musk é o CEO.

Três outros — um dos quais disse estar vinculado a um acordo de confidencialidade — relataram tratamento semelhante ao New York Times.

Em resposta aos relatórios, a presidente e diretora de operações da SpaceX, Gwynne Shotwell, enviou um e-mail para toda a empresa dizendo que “a denúncia oportuna de assédio é fundamental para mantermos a SpaceX como um ótimo lugar para trabalhar; não podemos consertar o que não sabemos”, relatou o Times.

Ela acrescentou que a SpaceX “investigaria rigorosamente todas as reivindicações de assédio ou discriminação e tomará medidas rápidas e apropriadas quando descobrirmos que nossa política foi violada”.

A Tesla também tem seus casos.

Pelo menos seis mulheres processaram a empresa do segmento automotivo, alegando assédio sexual em uma das fábricas. Algumas das mulheres disseram que foram retaliadas quando se apresentaram.

A amiga da comissária afirmou ao Insider que, se mais alguém foi maltratado por Musk, ela espera que eles contem publicamente sua história.

Se houver outras vítimas, ela disse, “eu gostaria que elas se apresentassem. Eu gostaria que a verdade fosse revelada”.

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Formada em Gestão de Negócios e Inovação pela Fatec Sebrae e, atualmente, estudante de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero. Tem como propósito atuar visando os princípios éticos do jornalismo com comprometimento com a informação de qualidade e o combate à desinformação.
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